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Brexit: O Conde de “X” e o plano da Europa Unida soprado nos anos 50 Posted: 05 Jul 2016 09:30 PM PDT
A imensa produção intelectual do prof. Plinio Corrêa de Oliveira inclui vasta coletânea de memórias pessoais transmitidas oralmente durante sua longa vida. O Dr. Plinio não teve tempo de sistematizar essas Memórias. Por isso saudamos como muito oportuna a recente publicação de uma extraordinária coleção de anotações e escritos do Dr. Plinio reunida no volume "Minha Vida Pública – Compilação de relatos autobiográficos de Plinio Corrêa de Oliveira" (Artpress, São Paulo, 2015, 827 páginas). O valor da riquíssima publicação pode se apreciar no seguinte apanhado de memórias de Dr. Plinio sobre a preparação da União Europeia como ele pode observar em suas viagens à Europa na década de 50, em pleno século passado. No momento do "Brexit" o tema é candente. Os fatos narrados pelo Dr. Plinio mostram aspectos da incubação da União Europeia sorrateiramente preparada em ambientes eclesiásticos e civis. Confira o leitor: Na sala de espera de Monsenhor Roger Beaussart [N.R.: bispo auxiliar demissionário de Paris, ano 1950] conheci um Conde de "X" (28/7/73, as datas entre parênteses indicam o dia em que foram registradas as palavras de Dr. Plinio, os nomes são omitidos respeitando a privacidade). Este senhor era da nobreza francesa, de uma velha família de origem protestante, calvinista, mas que com o passar do tempo e as boas dragonadas de Luís XIV, tomou juízo e voltou para a verdadeira fé. Ele se apresentava a mim como católico praticante e como grande amigo de Monsenhor Beaussart. Teria naquele tempo perto de 75 anos e eu 42 anos. Feitas as apresentações, ele manifestou o desejo de me conhecer mais de perto e convidou-me para almoçar no Automóvel Clube de Paris, ambiente muito fino, mas servindo um almoço plutôt medíocre. Ele, um homem muito agradável de trato. Como de costume, quando dois homens se encontram por razões de negócio, ou por razões de doutrina, de ideologia ou política, depois de se sentarem, observam um pouco o ambiente, encomendam o menu e os vinhos, e a conversa insensivelmente passa para os assuntos sérios. Ele me fez elogios de Pio XII (eu ouvira de Monsenhor Beaussart comentários bem diferentes). E quis contar-me coisas da França e da Europa. Fez também muitos elogios genéricos do Arquiduque Otto de Habsburgo: "Homem muito inteligente, capaz". Só faltou dizer-me que Otto era de muito boa família ... A conversa não parecia conduzir a grande coisa, quando de repente ele me disse (14/6/80): — Bom, Professor, o senhor com certeza, como líder católico, quer ganhar o seu tempo. Eu concordei enfaticamente. — E quer saber o que vai se passar. Vinha como numa bandeja. Então respondi: — Sim, claro. Ele então me fez uma descrição do que seria a política de aproximação entre as esquerdas e as direitas nos próximos decênios, a qual ele descrevia entusiasticamente, apresentando-a como uma coisa muito boa que deveria se dar. Foi uma exposição fluente, que durou mais ou menos uns quarenta e cinco minutos, em que ele pôs todas as cartas sobre a mesa. (28/7/73) — Sabe, professor, a Europa está mudando de um modo como ninguém imagina. Em vez de caminhar para uma dilaceração entre as correntes que a dividem, ela, pelo contrário, caminha para uma síntese. Está sendo preparada uma Europa Unida, cujo centro será provavelmente Estrasburgo, a cidade carolíngia.
— Está também em gestação um Parlamento da Europa; e, depois do Parlamento, está preparado um governo da Europa. Esse Parlamento e esse governo farão desaparecer completamente as diversidades nacionais. Vão ser eliminadas as fronteiras alfandegárias, de maneira que de um país para outro se poderá fazer exportação de mercadorias inteiramente à vontade, sem impostos, sem alfândegas nem taxas. A Europa terá, portanto, um só mercado consumidor, uma só indústria e um só comércio geral. Ainda dentro dessa confidência, ele acrescentou: — No interior dos países entrarão em composição todas as correntes, desde o partido comunista até os monarquistas, desde as mais moderadas até as mais radicais e intransigentes (14/6/80). As esquerdas e as direitas vão convergir (28/7/73). E neste Parlamento da Europa Unida haverá representantes de todas as classes sociais, representantes dos industriais, representantes dos sindicatos operários, especialistas e sumidades que exprimirão todos os valores da Europa. (14/6/80). E afirmou uma coisa surpreendente: — Os próprios príncipes das casas reais vão colaborar para isso. No Conselho da Europa, eles vão representar a tradição. Outros representarão o dinheiro, e outros ainda representarão a cultura e assim por diante. E esse Conselho vai levar a Europa à completa ligação com a Rússia. (14/6/80). E concluiu assim: — Vai assim se abrir uma nova possibilidade para os componentes das casas imperiais e reais, hoje destituídas. Eles não se tornarão monarcas, pois essa época histórica cessou. Mas ficarão como representantes da tradição, enquanto um dos valores da Europa. As casas reais e a antiga Nobreza vão também elas mandar seus deputados para o parlamento de Estrasburgo. E o senhor verá sentado, lado a lado, na mesma bancada, o Arquiduque Oito de Habsburgo e o presidente de um sindicato. E a Europa inteira, desde a sua mais antiga tradição quase carolíngia, até sua expressão mais moderna de extrema esquerda, toda reconciliada, caminhará no mesmo rumo. Ouvi tudo aquilo sem fazer o menor comentário. Ouvi com um de surpresa que velava o meu espanto e a minha completa falta de admiração por esse plano. (14/6/80)
Cumprimentamo-nos e ele saiu-se com esta: — Bom, Professor, eu sei que o senhor está de partida para Roma e seria necessário que conhecesse essas coisas antes de abordar um centro internacional tão importante quanto a Cidade Eterna. Aqui está meu cartão de visita. Procure-me na volta, porque então será a outra parte de sua viagem (28/7/73). E inclinando-se para o meu ouvido disse baixinho: — Vou então acompanhá-lo até as melhores casas de perdição, e aí o senhor poderá conhecer as verdadeiras 'filles de Paris'. Isto foi dito na hora de apertar a mão para a despedida. Soltei a mão dele, disse um "até logo" seco (14/6/80) e amarrei a cara. E ele percebeu que eu havia fechado a cortina (28/7/73). Ele foi para uma direção e eu fui para outra e nunca mais nos vimos. Esse homem sabia perfeitamente que eu era um católico praticante, de comunhão diária. Sabia de meu passado católico, de minha condição de escritor e jornalista católico. Como podia ele imaginar que pudesse me agradar um oferecimento infame daqueles? Diante de coisas dessas, e depois de alguns desapontamentos que eu tivera na Espanha, fiquei com a sensação desagradável de estar diante de uma parede que eu esperava ser de um probo granito resistente, e que de repente se transforma em uma parede de papelão, da qual saíam vermes e podridão. Quem era essa gente? (14/6/80) (Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, "Minha vida pública", Artpress, São Paulo, 2015, 827 páginas. Parte VII, capítulo IV, Francia, nº6, p. 393‒395) |
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