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- A imperdoável Suprema Tensão Federal
- Assombração
- Microensaio sobre Desinformação
- O que se passou, Kamarada? Nada... Apenas o tempo...
A imperdoável Suprema Tensão Federal Posted: 27 Oct 2017 03:33 AM PDT Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net A falida Constituição de 1988 alimenta fascistadas, jagunçagens, rigor seletivo e não assegura o pleno cumprimento das Leis e nem dela própria. A Carta é a causa essencial de um fenômeno que poderia ser batizado de "Suprema Tensão Federal". O interventor Estado-Ladrão tupiniquim é o palco infernal de uma guerra de todos contra todos em todos os poderes - que deveriam ser republicanos, porém não se comportam como tais. Por isso, caminhamos para uma inevitável Intervenção Constitucional. A mais grave tensão institucional ocorre quando o Poder Judiciário fracassa em sua missão moderadora dos conflitos. Pior ainda é quando nós, reles mortais, assistimos pela TV Justiça a um dantesco espetáculo de UFC verbal entre os "deuses" do Supremo Tribunal Federal. No centro do supremo telecatch, apenas para variar, o ministro Gilmar Mendes – que bem poderia receber um convite Hollywoodiano para encenar o personagem Gilmar Vader no filme "Guerra das Estrelas" (versão brasileira da pancadaria entre poderosos togados). Viraliza nas redes sociais o vídeo editado com a pancadaria entre Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso. Desta vez, quem apanhou foi Gilmar. Depois da briga – cujo conteúdo não vale a pena repetir por escrito, porque as imagens falam mais do que mil pancadas -, ficou evidente, nos bastidores do STF, que Gilmar é o alvo central de críticas dos demais ministros. O principal motivo é que ele tem "interpretado" a Constituição para cumprir o papel de Libertador ou Soltador de presos de fino trato. Mais que as decisões gilmarianas, o importante é debater as razões de nossa falha institucional que transforma o Brasil em um País em guerra civil não declarada. A Suprema Tensão Federal tende a se agravar. Executivo, Legislativo, Judiciário, além do Ministério Público (outro poder independente criado por nossa Constituição) e do Poder Militar, são duramente questionados por suas ações, inações e erros institucionalmente imperdoáveis. Todos precisam ser reinventados, a partir de uma redefinição constitucional. Do contrário, a barbárie vai se ampliar – comprometendo a segurança, a integração e a integridade da Nação. A proporção gravíssima que as coisas tomam no Brasil, antes que as pessoas possam pensar sobre elas com um mínimo de equilíbrio, é um fenômeno que deveria ser bem estudado. Última a saber? Ligações perigosas Saúde temerária Manifesto maçônico Colabore com o Alerta Total Os leitores, amigos e admiradores que quiserem colaborar financeiramente com o Alerta Total poderão fazê-lo de várias formas, com qualquer quantia, e com uma periodicidade compatível com suas possibilidades. Nos botões do lado direito deste site, temos as seguintes opções: I) Depósito em Conta Corrente no Banco do Brasil. Agência 4209-9, C/C: 9042-5, em favor de Jorge Serrão. II) Depósito em Conta Poupança da Caixa Econômica Federal ou em agências lotéricas: 2995 013 00008261-7, em favor de Jorge Serrão. OBS) Valores até R$ 9.999,00 não precisam identificar quem faz o depósito; R$ 10 mil ou mais, sim. III) Depósito no sistema PagSeguro, da UOL, utilizando-se diferentes formas (débito automático ou cartão de crédito). IV) Depósito no sistema PayPal, para doações feitas no Brasil ou no exterior. Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus. Nekan Adonai! O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos. A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento. © Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 26 de Outubro de 2017. |
Posted: 27 Oct 2017 03:27 AM PDT "País Canalha é o que não paga precatórios" Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net Por Carlos Maurício Mantiqueira Com presença do vampiro, da karma lúcifer, da outra bruxa urubuzina, do panarício e, mal placé, do rei Momo. Só falta dona Onça acabar com a festa! Exterminar a rataiada que este país infesta, é tarefa árdua e indigesta. Mas outra opção nos resta? Estamos no meio do Trem Fantasma. Respiramos bem ou temos asma? O que mais deixa nossa gente pasma é transfusão de plasma. Do sadio pro impio (sem acento pela rima !) instemos a felina, que não f. nem sai de cima (repetiremos este mote à náusea). Há um rato transgênero; um tal de Mickey Mausea! O Fantasma que Anda com Capeto aguentará tamanho fedor? Chamará o auxílio de Tarzan ou apenas de seu Tantor? Virá também o diabo da Tasmânia participar dessa epifânia? Prefiro meu golden retriever (presente de "niver"). É melhor um cachorro amigo que um amigo cachorro. Não há salvaCão para a, da Pátria, traição. Carlos Maurício Mantiqueira é um livre pensador. |
Microensaio sobre Desinformação Posted: 27 Oct 2017 03:25 AM PDT Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net Por Renato Sant'Ana Diferente e muito mais grave do que a simples "falta de informação", a "desinformação" presta-se como instrumento de arbitrariedade e pode acometer pessoas de boa inclinação moral. Como funciona? Veja-se num caso concreto. Depois da famigerada carta de Antonio Palocci (26/09/2017), o líder do PT na Câmara, Carlos Zaratini, ouvido pela Rádio Gaúcha, agiu como qualquer petista nos dias atuais, sempre que há um microfone: atacou a Lava Jato. Confrontado com o que disse Palocci: "Agora que resolvo mudar minha linha de defesa e falar a verdade, me vejo diante de um tribunal inquisitorial dentro do próprio PT", Zaratini tratou de inverter o sentido das coisas. "Tribunal inquisitorial é o que se faz na Lava Jato", disse. E, completando, fatiou a verdade, entregou uma parte e ocultou o resto: falou que o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, "embora absolvido duas vezes, ainda permanece preso". Ora, um dado de realidade é que Vaccari teve duas absolvições em recursos ao TRF-4. Outro é que ele continua preso. Mas haverá nexo entre um e outro? Veja-se a manobra: se, por um lado, é verdade que (eis um dado) Vaccari está preso, cumprindo pena de 21 anos e dois meses de prisão, por outro as duas absolvições evocadas (dado inoportuno) não se referem à decisão que o levou à cadeia. O que Zaratini faz é citar dois dados, oferecendo a ficção de um conflitante nexo causal, quando a realidade aponta noutra direção: em verdade, as absolvições de Vaccari pressupõem haver plena observância das regras processuais, ninguém sendo condenado sem provas consistentes. Mas, ocultando o essencial e insinuando haver nexo causal entre os dados, ele passa a falsa ideia de que a Lava Jato funciona ao arrepio da lei. (Vaccari tem mais quatro processos contra si.) Manipular dados para forjar crenças falsas é apenas uma, de várias táticas de desinformação. E, com efeito, o que houve não foi "falsificação", mas "manipulação de dados", visando a incrementar a desinformação da massa ignara, cuja partícula elementar é o "tipo médio", o medíocre desinformado que, embora dotado de bons sentimentos (saliente-se), tem crenças assimiladas (que colaram nele com a goma do sentimentalismo), mas não tem pensamentos elaborados pela abstração, pela análise nem pela construção lógica; que tem percepções (afetadas pela imprecisão dos sentidos), não conceitos elaborados pelo raciocínio sistemático; que tem convicções (tidas por ele como se fossem certezas) sem a grandeza de alma para se deixar tocar pela dúvida que leva a questionamentos; que tem o manejo do que é voz corrente (senso comum), mas não detém o conhecimento objetivo que requer esforço, certa disciplina e honestidade intelectual. Mas, duas advertências se impõem: por um lado, a desinformação não é exclusividade de nenhuma ideologia. Por outro, existem as duas faces da moeda: numa estão os políticos demagogos (de pigmentações ideológicas diversas) que fomentam a desinformação; na outra, a massa, a turba manipulável que é a projeção do pensamento raso e da volubilidade do "tipo médio". O político ordinário e seu mais moderno e maior colaborador, o marqueteiro, adoram esse "tipo médio", que, por não ser dado a refletir nem se inquietar com o obscurantismo, não tendo sequer consciência clara de suas limitações, facilmente assimila a desinformação e fica permeável a ideias fabricadas para dominá-lo. Nada há mais útil à política fisiológica, pois, do que ignorantes convictos que absorvam como esponja a falácia populista. Certo é que não existiriam, por um lado, políticos demagogos sem que, por outro, houvesse os ignorantes convictos. Para finalizar, uma distinção (sendo que, na prática, elas quase sempre estão juntas). A falta de informação contém lacunas que podem ser preenchidas ao surgimento de um desejo de saber - humildade para admitir que não conhece: um exercício de liberdade que desagrada o político demagogo. Já a desinformação é trágica, porque traz uma infundada sensação de completude cognitiva (de não faltar conhecimento) e a presunção de ter autonomia de consciência. Assim, o sujeito desinformado, ao alimentar uma bela e falsa imagem de sua própria qualificação intelectual, tem uma vulnerabilidade que ultrapassa a carência de informação e o predispõe a ser hipnotizado pelo discurso populista. Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo. |
O que se passou, Kamarada? Nada... Apenas o tempo... Posted: 27 Oct 2017 03:23 AM PDT Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net Por Carlos I. S. Azambuja A dissidência nas hostes comunistas é interessante de acompanhar, pois é rica em argumentos e expõe suas mazelas Após o desmonte do socialismo, Nicolas Buenaventura, engenheiro e professor, que hipotecou sua vida ao comunismo, pois durante 40 anos foi membro do Comitê Central do Partido Comunista Colombiano com o cargo de chefe da Seção de Educação de Massas, explorou a fundo, numa autocrítica ácida e demolidora, através de seu livro "QuePasó, Camarada?", as razões da catástrofe dos "socialismos reais". Disse ele que os comunistas sempre lutaram por um pedaço da democracia formal e burguesa. Sempre defenderam, até a morte, a sua minguada liberdade de palavra, de imprensa, de dissidência e de oposição. A liberdade de locomoção, de ir e vir, de empresa - das empresas do partido -, dos camaradas, das associações, dos sindicatos. Cada resquício de democracia tradicional, formal, era sagrado para eles. "Defendíamos o pedaço de pão velho, como diria Bertolt Brecht. Porém, isso nunca foi considerado suficiente. Esse não era o objetivo. Era o meio. Queríamos o pão inteiro. Defendíamos a democracia possível. Porém, quando chegasse o momento e tudo mudasse, chegaria a hora da democracia real. Onde estava, então, o nosso erro? Qual foi o nosso pecado? A verdade é que sempre fizemos uma leitura muito óbvia, muito simples, da história da democracia formal. Sempre raciocinamos assim: uma democracia sem pão, sem escola, sem terra, puramente formal, é mentirosa. E daí em diante, dessa leitura simplista, vinha o resto, a grande dedução: primeiro o pão, primeiro a roupa, primeiro a terra e a escola e, depois, só depois, viria... a democracia. Era assim que nós encarávamos as coisas: sem pão, a democracia é uma mentira. Sem teto, sem escola, sem o conhecimento, é mentirosa a democracia. De forma que tudo tem o seu tempo, como diz a Santa Bíblia. Por agora, a saúde e a educação gratuitas. Depois, só depois, a democracia. Nunca dissemos isso assim, explicitamente, na Colômbia, em Cuba ou na União Soviética. Nunca dissemos isso com estas palavras precisas. Essa, porém, era a essência da nossa democracia real. E era, por outro lado, a que melhor se adaptava ao mundo do subdesenvolvimento, sem maior cultura política ou tradição democrática. Esse mundo, onde foi implantado e existiu, o socialismo real". Então, para essa viagem desde o pão à democracia real, do futuro - uma viagem difícil; uma viagem, ademais, sem calendário -, para esse percurso tão acidentado, um grupo de escolhidos, formado pelos melhores, entre os quais Nicolas Buenaventura se encontrava, foi encarregado da direção. E esse grupo construiu o instrumento que conduziria os oprimidos à Terra Prometida. Esse instrumento denominava-se O PARTIDO, assim, em maiúsculas. "Não se tratava de falar, de protestar ou de fazer oposição. Para isso havia sua hora, o seu tempo. Tratava-se de construir a democracia real. Depois, as coisas aconteceram como já sabemos. É um fato e uma verdade. Primeiro faltou a democracia, faltou a dissidência, faltou a oposição, faltou a minoria. Todos éramos maioria. Uma maioria ideal, plena, uniforme, de uma só cor, que pouco a pouco foi se convertendo em unanimidade. Porém, o pão se acabou, veio a queda de produção, a ineficiência e a obsolescência. Primeiro, o Partido foi roubado na democracia. Depois também no pão. Dessa forma, nós, comunistas, aprendemos muito duramente, para sempre, esta lição: a democracia não tem ordem, não tem espera, não tem comissários políticos, nem delegação e nem guardiões. A democracia somos cada um de nós. É você mesmo. E mais: a democracia é, certamente, o governo da maioria. Democracia é o contrário da pirâmide centralista do Partido, na qual a cúpula, isolada das bases, era sempre endeusada, convertendo-se em uma dinastia. Em uma palavra: democracia é cada vez menos governo do Partido e do Estado, e mais autogoverno da sociedade civil. E, paralelamente, com isso e junto com isso, estará o problema do pão, da escola, da terra e do Direito. Nós, do Partido Comunista, havíamos tapado, afogado, o pensamento de Marx com a tradução de um montão de manuais de marxismo-leninismo. Vivemos sempre em um partido que não fez outra coisa, durante mais de meio século, senão instalar-se na porta da revolução, convencido, com a maior certeza, de que esse era o seu lugar, acabando por receber, por isso, o castigo mais duro. Todas as revoluções neste século, em qualquer parte do mundo - e as revoluções são muito de invenção e riqueza -, utilizaram a violência para moer a antiga máquina, para quebrar o poder militar entrincheirado no capital. Tudo era uma grande festa. Porém, mesmo após cumprir o seu papel demolidor, rompendo as antigas cadeias, mesmo após forçar as portas dos cárceres, a violência não cessou, não se deteve, e institucionalizou-se. Eu vivi isso muitas vezes, na Nicarágua, na China e em Cuba. Experimentei o poder local guerrilheiro e vivi o Poder opressor e absolutamente arbitrário dos donos do novo Poder. E tudo me parecia lógico. O novo dia, após anos de obscuridade, surgiria enredado em fios invisíveis de medo à cidade, ao povo, à vereda, ao camarada, ao guerrilheiro, ao dirigente. O novo Poder não se equivoca. Ele conhece os traidores, os colaboradores, os cúmplices passivos, os que nunca fizeram nada, os que não moveram um dedo. Ele conhece a todos. Esse, todavia, não foi o problema, pois essa dinâmica é própria de todas as revoluções. Isso não foi o mais grave no nosso caso, na história do socialismo real. O grande problema nunca foi, entre nós, a violência revolucionária e criadora, que se prolongou, quase sempre, além do seu tempo. O grande problema, o verdadeiro problema, o problema real e profundo, teve lugar mais adiante e foi de outra natureza. Trata-se do esquema do socialismo real. O do esquema sacralizado, o do esquema que converte um possível processo histórico, uma hipótese de trabalho a verificar, em lei, norma e sentença. Essa racionalidade seca e fria, inaugurada pelo stalinismo, gerou inflexivelmente uma nova violência que matou metodicamente todas as primaveras revolucionárias e aguou todas as grandes festas do nosso século. E agora, eu me pergunto, depois de todo esse cataclismo: quando, em que momento, por que, nos convertemos a essa idéia, à idéia desse socialismo de bruxos, desse socialismo que deveria desmantelar o capitalismo como uma alternativa violenta, inevitável? Quando se atravessou em nosso caminho essa idéia tão fácil do Estado todo-poderoso, proprietário único, com todo o Poder ao ombro, como se fosse um fuzil? Quando e como se impôs entre nós o mito do Estado como panacéia e a estadolatria? Esse mito, que se transformou em miséria sacralizada e repartida?" Foi esse o depoimento de Nicolas Buenaventura, que dedicou 40 anos de sua vida aopartido da classe operária. Na década de 90, logo após o desmantelamento do socialismo real, em um muro, em Quito, Equador, foi pichada por comunistas a seguinte inscrição: "Ahora que teníamos todas las respuestas se cambiaram las preguntas". A partir de então, um sem número de defensores da causa, em todos os quadrantes, entregam-se a uma autocrítica devastadora, chegando, desolados, invariavelmente a uma mesma conclusão: os que progrediram no partido da classe operária foram os burocratas, os secretários-gerais, os maiores culpados pelo desmantelamento do socialismo real. Onde quer que existisse um partido comunista, o modesto burocrata sempre observava, desde a sua mesa, quase com admiração, como chegavam à sede do partido os revolucionários, os heróis da agitação social, que imediatamente eram recebidos pelos chefes. O agitador, o brilhante lutador, apenas notava o burocrata porque fora convencido de que ele era a alma da burocracia partidária. Passam-se os anos. O herói revolucionário, o agitador de massas, líder nas greves, nas passeatas, nas colagens de cartazes e nas pichações, na distribuição de panfletos e outras tarefas menos nobres, continuava indo à sede do partido. Algumas vezes até para ser repreendido e fazer uma autocrítica. O burocrata, no entanto, prosseguia ali, impassível, porém já em uma mesa maior. Antes manejava uma velha máquina de escrever expropriada pelo revolucionário, brilhante lutador. Agora, na era da informática, passava as idéias e decisões do partido diretamente ao computador. Continuava, no entanto, obsequioso e admirador do ativista. Passam-se mais alguns anos. O agitador tem orgulho de seu passado glorioso, das prisões e perseguições que sofrera; da clandestinidade, longe da família e dos amigos, e das eventuais vitórias revolucionárias. É uma legenda, respeitado e admirado dentro do partido. Em suas idas ao Comitê Central, continua a ser recebido por aquele mesmo funcionário. Porém, com o passar do tempo, já algo mais que um simples burocrata, pois fora elevado, por cooptação, ao cargo de Secretário de Agitação e Propaganda (Agitprop, na terminologia partidária) ou Secretário de Organização, com poderes, portanto, para remover o agitador, o brilhante ativista, de um lugar para outro. Já, então, o burocrata encara o velho lutador de forma diferente, pois agora lhe dá ordens, e o famoso princípio do centralismo democrático faz com que essas ordens não sejam discutidas. Posteriormente, passados mais alguns anos, o lutador, o ativista, o brilhante lutador, comprova que o Secretário passou a integrar o Comitê Central, substituindo um companheiro falecido. E que, assim, tornou-se membro da privilegiada nomenklaturapartidária, passando a ter direito a passagens aéreas, férias anuais na Criméia e a matricular seus filhos na Universidade de Amizade dos Povos Patrice Lumumba, na Escola de Ballet de Leningrado e em outras do paraíso soviético. O que se passou? Nada. Apenas o tempo. O ativista, brilhante lutador, conserva seu passado, porém já não é útil, pois está "queimado", seja por ter se tornado excessivamente conhecido da polícia, seja porque militantes mais jovens já murmuram contra seus antiquados e ultrapassados métodos de trabalho. Protestará, e então lhe recordarão, como se fosse um membro da juventude comunista, que o partido da classe operária possui um Estatuto que exige disciplina férrea e que, mais uma vez, deverá autocriticar-se. Ao fazê-lo, a que conclusão chegará? Que sua vida política já está – assim como o partido e a própria doutrina -, no descenso da derrota, pois sonhou ser um chefe e não passou de um "quadro"; sonhou tornar-se um teórico doutrinador e limitou-se, em toda a sua vida, a assimilar as palavras-de-ordem alheias, nas quais, hoje, ninguém mais acredita. Agora, resta ao velho lutador, ao agitador, ao herói revolucionário, curar as cicatrizes e desilusões e, como Lenin, indagar: o que fazer? Enquanto não encontra uma resposta, engaja-se, como tantos outros, no esporte da moda: atirar pedras nos patriotas que impediram que a Pátria fosse transformada em um pleonasmo: uma "democracia popular." Jamais a militância política nos partidos da esquerda revolucionária poderá ser a mesma militância arquitetada pelo Partido Bolchevique. A impressionante explosão dos meios de comunicação de massa modificou profundamente os padrões de sociabilidade, diminuindo o peso das ruas, das assembléias, das passeatas, dificultando a mobilização das chamadas massas, além do que, a atual caminhada, sem volta, para a globalização da economia, ao invés de concentrar trabalhadores, dispersa-os em unidades produtivas, mantendo-os mais preocupados com seus interesses espontâneos imediatos. Até o início da década de 70, pelo menos, os comunistas cultivavam a imagem do militante abnegado, totalmente dedicado à "causa", disciplinado, que colocava em segundo plano sua vida pessoal - quando não abria mão dela - em função de um ideal: a vitória da revolução que abriria caminho para a emancipação da humanidade. O militante era, antes de tudo, o soldado de uma causa, o homem do partido, quase o "homem-novo" idealizado por Marx. Extremamente ideologizado, sempre dava razão ao partido, ou àquele que, no momento, o encarnasse: Lenin, Stalin, Mao, Prestes e tantos outros. O militante forjou-se no interior de partidos militarizados. Determinado, capaz de tudo suportar, de jogar todas as suas fichas na utopia, de sufocar a individualidade em nome de sua dissolução no universo do coletivo construído pelo partido. Todavia, é certo que o militante pós-Guerra Fria, pós-"perestroika" e pós-"glasnost", pós-socialismo real, jamais será o mesmo, pois não mais seguirá cegamente seus líderes; espera que o partido imagine outros caminhos de mobilização, pois não mais poderá insistir, simplesmente, em "colocar as massas nas ruas" . Definitivamente, os modelos de militância que marcaram os setores mais radicais da esquerda por todos estes anos, se esgotaram. Figuras como "o bolchevique, o agitador anarquista, o guerrilheiro urbano, o soldado-partido", não mais existirão, pois as regras que regulavam o funcionamento dos coletivos que constituíam essas figuras "jurássicas" foram derrubadas. Uma dessas regras, a fundamental, foi aquela que a Rainha Vermelha, do livro "Alice no País das Maravilhas", bradava: "Primeiro a sentença; depois o veredicto!!" Carlos I. S. Azambuja é Historiador. |
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