Alerta Total |
- A chance de vitória do Fator Bolsonaro
- Pensamentos avulsos
- 195 de Independência
- Dogmatismo: os perigos de dissociar a moral da ideologia
| A chance de vitória do Fator Bolsonaro Posted: 03 Sep 2017 05:16 AM PDT Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net Não é recomendável cometer injustiças. Nem Michel Temer é o Ladrão-Geral da República, nem Joesley Batista é o Grampeador-Geral da República. O Presidente e o empresário são hoje apenas a dupla mais conflituosa em meio a uma máquina de corrupção sistêmica. O titular do Palácio do Planalto manda menos do que pensa. É uma mera marionete de um sistema que mantém o Brasil sob regime de ilusória independência. Os presentes negócios da China e afins são a prova de que o Brasil é uma importante colônia de exploração da Era Globalitária.Estamos na "Semana da Pátria". Os militares fazem a parada de sempre. Poucos realmente comemoram. Faltam motivos e motivações. As pessoas são forçadas, pelas circunstâncias históricas e culturais, a aderiram a um pragmatismo cínico. Ou seja, "estamos na merda, porém, como bons filhos da Pátria, vamos fingir que tudo pode melhorar, algum dia ou na próxima eleição". É neste ritmo que a maioria dos brasileiros se prepara para o Fla-Flu eleitoral de 2018. Todos contra a corrupção no discurso, porém tolerantes, coniventes ou omissos diante da evolução dos corruptos.Vamos para mais uma eleição de resultado inconfiável por urnas eletrônicas que não permitem recontagem por impressão de voto. A lisura do resultado é completamente incerta, apesar do mentiroso discurso do Tribunal Superior Eleitoral e dos tribunais estaduais. Fica a esperança de uma renovação política - que dificilmente acontecerá, porque o modelo é corrupto. Apesar disto, o pleito de 2018 tem uma novidade: o Fator Jair Bolsonaro. Os esquemas atuais de politicagem não sabem como lidar com ele, e nem como derrotá-lo. O criminoso sistema que desgoverna o Brasil nunca esteve tão confuso.O Fator Jair Bolsonaro não é determinado pelo indivíduo Jair Bolsonaro. Trata-se de uma conseqüência direta do Fator Lava Jato combinado com a desmoralização da classe política. O brasileiro se diz cansado de tanta roubalheira, sacanagem e incompetência com a coisa pública. O caos da crise institucional e a insegurança (sobretudo jurídica) geram o desejo por soluções imediatas e extremas. Sem noção exata de que o problema é a estrutura do nada democrático Estado-Ladrão brasileiro, a maioria atribui ao "regime petista" e seu "estilo de canhota canhestra" todos os males recentes do Brasil. Assim, ganha força uma candidatura opositora que represente valores contrários, conservadores, e prometa arrasar com o inimigo.É aí que entra em cena o Fator Bolsonaro. No imaginário popular, o outrora Capitão do Exército Jair e seus filhos representam aqueles que se apresentam como combatentes para derrotar Luiz Inácio Lula da Silva - o desmoralizado "Guerreiro do Povo Brasileiro". Bolsonaro também leva vantagem sobre todos os outros políticos tradicionais que são candidatos. Seu nome não aparece envolvido em nenhum esquema de corrupção. Acusá-lo de autoritário, homofóbico e até de "nazista", como fazem a petelândia e afins, não surte efeito e ainda fortalece a imagem do "mito" disposto a massacrar os safados e corruptos.Assim se cria e consolida a imagem do herói para quem a maioria dos brasileiros gostaria de delegar (ou terceirizar) a missão de solucionar os principais problemas da Nação. Bolsonaro é transformado em uma espécie de "remédio amargo, mas que resolve". Embora ainda não tenha sido testado em gestão pública, e ainda não tenha apresentado, claramente, que Projeto de Nação tem para o Brasil, Bolsonaro personaliza, no imaginário popular, a imagem de um sujeito com personalidade forte, com coragem e com capacidade para derrotar aqueles que "destruíram o Brasil e prejudicaram os brasileiros".O esquema vigente de poder fará o diabo para eliminá-lo da corrida presidencial. Já estão em curso os golpes judiciais que tentam condená-lo por bobagens: um suposto crime ambiental porque pescou em área proibida em Angra dos Reis e aquela farsa do "estupro verbal" contra a deputada Maria do Rosário (verdadeira causadora da agressão a Bolsonaro). A grande questão é o Supremo Tribunal Federal, terá coragem de legitimar a jagunçagem contra o "Mito".Se cometer tamanho desatino, a cúpula do Judiciário corre o risco de sacramentar sua desmoralização perante a opinião pública. O mar de lama não está para peixe togado. Nunca antes na História deste País se falou tão mal de magistrados, sobretudo dos 11 do Supremo, nas ruas ou nas redes sociais. Isto não é bom. As pessoas constatam que o Judiciário deixa de cumprir seu papel de moderador de conflitos em meio a uma guerra de todos contra todos os poderes.Novamente, a culpa não é dos "indivíduos-magistrados", mas sim de uma estrutura estatal cartorial e corrupta, com regramento excessivo que viabiliza o rigor seletivo (para punir e perdoar quem for conveniente), promovendo jagunçagem ou impunidade, de acordo com as circunstâncias e interesses dos poderosos de plantão. Se não for eliminada esta máquina de moer gente, o Brasil permanecerá na "merda" institucional. Temos de abolir daqui o regime Capimunista Rentista e Corrupto do Estado-Ladrão – dominado pelo sistema do Crime Institucionalizado que nos governa de fora para dentro.Ainda não há sinais concretos de que o Fator Bolsonaro seja capaz ou se proponha a cumprir tal missão estratégica de proclamar, de verdade, a Independência do Brasil. Por enquanto, o Fator Bolsonaro se propõe e se credencia apenas a vencer o próximo "Fla-Flu" presidencial. Até agora, a desqualificada esquerdalha e seus parceiros na corrupção têm dado uma grande ajuda ao Bolsonaro. Embora ainda seja cedo para outubro de 2018, Bolsonaro já é um candidato a ser levado a sério para ocupar o trono do Palácio do Planalto. Se Bolsonaro é bom ou ruim, uma coisa é certa: a maioria do eleitorado não deseja votar em Ladrões-Gerais da República ou naqueles que foram delatados por tantos outros Corruptos-Gerais de Bruzundanga. Pedinte Delação devastadora Um estouro Colabore com o Alerta Total Os leitores, amigos e admiradores que quiserem colaborar financeiramente com o Alerta Total poderão fazê-lo de várias formas, com qualquer quantia, e com uma periodicidade compatível com suas possibilidades. Nos botões do lado direito deste site, temos as seguintes opções: I) Depósito em Conta Corrente no Banco do Brasil. Agência 4209-9, C/C: 9042-5, em favor de Jorge Serrão. II) Depósito em Conta Poupança da Caixa Econômica Federal ou em agências lotéricas: 2995 013 00008261-7, em favor de Jorge Serrão. OBS) Valores até R$ 9.999,00 não precisam identificar quem faz o depósito; R$ 10 mil ou mais, sim. III) Depósito no sistema PagSeguro, da UOL, utilizando-se diferentes formas (débito automático ou cartão de crédito). IV) Depósito no sistema PayPal, para doações feitas no Brasil ou no exterior. Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus. Nekan Adonai! O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos. A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento. © Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 3 de Setembro de 2017. |
| Posted: 03 Sep 2017 05:12 AM PDT "País Canalha é o que não paga precatórios" Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net Por Carlos Maurício Mantiqueira A juventude atual é a geração do videoclip. Não consegue manter atenção em nada por mais de quinze segundos. A única forma de romper essa barreira é despertar seu interesse. Assim, o papel do educador moderno é semear a todos os ventos, seguindo os conselhos do célebre Padre Vieira. A Ordem dos Pregadores (Dominicanos) tem oitocentos anos. Mas seus membros são doutrinadores e não educadores. Já os jesuítas (Societas Iesu) são os mestres por excelência. Seu Colégio São Luís completa cento e cinquenta anos de fundação. Primeiro em Itú e depois em São Paulo, formou gerações de patriotas e homens de bem. Sob a invocação de Nossa Senhora do Bom Conselho, continuam sua missão civilizadora nesta cidade que fundaram, com uma singela capela e escola, em 1.554. Não é meia dúzia de vagabundos, ateus e traidores da Pátria que destruirão a fortaleza moral de nosso povo. Sob a guarda do Pavilhão Nacional, nos seja permitido reverenciar também a bandeira dos bandeirantes, relembrando os maravilhosos versos : "Bandeira de minha terra, bandeira das treze listas; são treze lanças de guerra, cercando o chão dos paulistas !" Guilherme de Almeida Carlos Maurício Mantiqueira é um livre pensador. |
| Posted: 03 Sep 2017 05:09 AM PDT Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net Por Carlos Henrique Abrão e Laércio Laurelli Comemoraremos no próximo 7 de setembro 195 anos de independência, mas é preciso radiografar o modelo e se realmente somos livres e preparados para a democracia do século XXI. Na realidade, temos hoje um quadro mais pulsante de morte sem independência, diante da luta sem trégua pelo poder, de partidos que não nos representam e de uma esquelética recuperação da econômica e um déficit público jamais assistido ao longo de toda a circunstância do Brasil. Saimos dos laços de Portugal há quase 200 anos, e ainda temos muitas coisas para melhorar, notadamente quando constatamos que o desgoverno causou uma forte queda do poder aquisitivo e os poderes institucionais não funcionam como deveriam e aqui o nostra culpa é essencial para que diagnostiquemos com virtuosismo o momento da vida nacional. Dois séculos quase se passaram e as amarras de uma colônia puderam desaparecer, mas isso, por si só, não é suficiente, já que nosso desenvolvimento contempla muita concentração nas mãos do Estado e a riqueza não é tributada pelo Estado, e sim a classe assalariada como um todo em total prejuízo dos setores que ganham folgadamente em cifras polpudas. Desaparecidos os laços que nos atrelavam aos portugueses resolvemos nessa perspectiva construir pós autoritarismo uma sociedade democrática. No entanto, as questões colocadas nos animam a ter critério na aferição de antigas capitanias hereditárias que hoje se espalham entre poíticos e apadrinhados na composição dos quadros. Dessa forma, a composição em qualquer órgão não pode ser feita apenas por indicação, de tal modo que os tribunais de contas devem ter seus membros concursados, de tal maneira os órgãos reguladores que precisam ser despolitizados. As vicissitudes atuais demonstram que vivemos morte, a violência das ruas do cotidiano da rotina, sem independência, somos mais de 50 milhões de brasileiros na linha de endividamento e tanto mais na miserabilidade plena. Contudo, a recuperação se faz lenta mas traz um sentimento de expectativa doravante, com a liberação de recursos financeiros para efeito de obras de infraestrutura e concessões a serem realizadas dentro em breve. Estamos atrás de capital estrangeiro, China, India, Russia, mas nossos parceiros devem ser os países da Europa ocidental, na medida em que os norte americanos cada vez mais protecionistas, sobrariam México e Canada para que a contabilidade pudesse ser descortinada com maior independencia. Ao grito do ipiranga que se repete independência ou morte, mera balela feita à época, hoje temos uma pseudodemocracia, já que o sistema político é governado pelo capital, pelos donos do dinheiro que espalham seus valores e adquirem simpatia dentre tantos os políticos governantes. Existe algo de prático e salutar para ser comemorado nos 195 anos da independência do Brasil? A igreja brasileira pede jejum e oração para vencermos a crise, mas é muito pouco devemos avançar e traçar diretrizes que nos inspirem num ritmo mais frenético de reformas, a partir da político partidária, da tributária, da previdenciária e de modo fundamental com o fim do voto obrigatório, do horário obrigatório e financiamento público de campanha. Nada impede que o eleitor faça a doação limitada a mil reais, pessoa física e pessoa jurídica no teto de cem mil reais, as eleições brasileiras são consideradas as mais caras do mundo e quais são os motivos explicativos? Exatamente o valor é proporcional a minúscula relação entre eleitor e eleito, significa dizer que uma eleição é turbinada por favores e dinheiro ilícito já que nossos políticos não se preocupam ou ocupam de penetrar no âmago dos problemas brasileiros e ter noção sobre as distâncias e o reclamo da população. Depois de um ano do impedimento de uma presidenta isolada,que só queria pedalar todo o dia e ao sabor da crise, ainda não absorvemos o resultado e continuam querendo eleições diretas já. No tempo azado ela se realizará, não há candidato algum para conquistar o poder e o que percebemos é que a luta já fora deflagrada, faltando 16 meses para o pleito sucessório os candidatos abandonaram seus cargos e já estão em viagem no Brasil e no exterior. O que é plausível é fixarmos um valor de campanha para presidente somente poderiam ser gastos dez milhões de reais, governador 3 milhões e prefeitos não mais do que um milhão de reais, deputados 2 milhões de reais e senadores 2,5 milhões de reais. Com essa radiografia dificilmente teríamos caixa dois ou manipulação, já que o candidato que se apresentasse traria os dados e quanto fora empenhado na campanha, acaso não conseguisse comprovar automaticamente não tomaria posse e seria alijado por até dez anos dos demais pleitos eleitorais. O controle máximo nas eleições é imprescindível além dos gastos a renovação do quadro, assim nossos políticos não poderiam exercer seus cargos por mais de dez anos, obedecendo em seguida uma quarentena de no mínimo de quatro anos. Não se justifica um Ministro de Corte Superior ter mandato de dez anos e um político permanecer em exercício por dois mandatos a exemplo de senadores que conquistariam aposentadorias e benesses ao longo de 16 anos de exercicio. Finalizamos na premissa ditada para que a independência ainda está longe para chegar e a morte já está exuberante todos os dias na vida dos brasileiros que tentam sobreviver por causa de uma grave crise impactada na corrupção e na roubalheira. O judiciário, caro anônimo, tem feito a sua parte mostrando a verdade com cara e coragem sem medo de se apresentar, ao contrário de ti que acovardado e amigo de bispo neopentecostal tenta enganar a opinião pública no templo de Salomão, mas logo será resgastado para prestar contas desses absurdos. Carlos Henrique Abrão (ativa) e Laércio Laurelli (aposentado) são Desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. |
| Dogmatismo: os perigos de dissociar a moral da ideologia Posted: 03 Sep 2017 05:03 AM PDT Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net Por Mario Vargas Llosa CASCAIS, Lisboa - Acaba de ser reeditado, nos Estados Unidos, um livro de Tony Judt, surgido por primeira vez em 1992 e que eu desconhecia:"Past Imperfect: French Intellectuals, 1944-1956". A obra impressionou-me muito, porque morei na França por uns sete anos – entre 1959 e 1966 -, uma época ainda muito impregnada pela atmosfera e pelos preconceitos, acrobacias e desvarios ideológicos descritos pelo grande ensaísta britânico em seu livro reunindo, ao mesmo tempo, severidade e erudição. O livro pretende responder este questionamento: "Por que será que, no pós-guerra (aproximadamente até meados dos anos 1960) os intelectuais franceses - de Louis Aragon a Sartre, de Emmanuel Mounier a Paul Éluard, de Julien Benda a Simone de Beauvoir, de Claude Bourdet a Jean-Marie Doménach, de Maurice Merleau-Ponty a Pierre Emmanuel, etc. – foram pró soviéticos, marxistas e companheiros de viagem do comunismo? Ainda, por que terão sido os escritores e pensadores europeus os últimos a reconhecerem a existência do Gulag1, a brutal injustiça dos julgamentos stalinistas em Praga, Budapest, Varsóvia e Moscou que condenaram ao paredão comprovados revolucionários?" É certo que houve exceções ilustres entre eles - Albert Camus, Raymond Aron, François Mauriac, André Breton -, porém escassas e pouco influentes num ambiente cultural em que as opiniões e as posições defendidas por aqueles outros prevaleciam de modo envolvente. Tony Judt pinta um quadro com grande rigor e amenidade do ressurgir da vida cultural na França no período seguinte á libertação2, época em que o debate político impregna toda a atividade filosófica, literária e artística, envolvendo os meios acadêmicos, os cafés literários e revistas como Lês Temps Modernes, Esprit, Les Lettres Françaises ou Témoignage Chrétien, que passam de mão em mão e alcançam tiragens notáveis. Comunistas ou socialistas, existencialistas ou cristãos de esquerda, os seus colaboradores divergem sobre muitas coisas, mas têm um denominador comum: um antiamericanismo sistemático, sustentando a convicção de que, entre Washington e Moscou, a primeira representa a pobreza cultural, a injustiça, o imperialismo e a exploração, enquanto Moscou representa o progresso, a igualdade, o fim da luta de classes e a verdadeira fraternidade. É verdade que nem todos chegaram ao extremismo de um Sartre, que, em 1954, após sua primeira viagem à União Soviética, afirmou, sem sequer corar de vergonha: "O cidadão soviético é completamente livre para criticar o sistema". Isso nem sempre era uma cegueira involuntária, derivada da ignorância ou da mera ingenuidade. Tony Judt mostra que, ser aliado dos comunistas, era a melhor maneira de limpar um passado que trazia as manchas da colaboração com o regime de Vichy.3 Foi o caso, por exemplo, do filósofo cristão Emmanuel Mounier e alguns de seus colaboradores de Esprit. Nos primeiros tempos da ocupação (da França pela Alemanha nazista), eles se deixaram seduzir pelo chamado experimento de nacionalismo cultural Uriage, patrocinado pelo governo. Depois, advertidos de que era um programa manipulado pelas forças nazistas de ocupação, dele se afastaram. Aliás, eu lembro fato ocorrido no início dos anos 1960: André Malraux, diante de manifestantes universitários que tentavam impedi-lo de falar e faziam referência a Sartre, deu-lhes esta resposta: "Sartre? Sim, conheço-o. Ele encenava suas peças de teatro em Paris, aprovadas pela censura nazista, enquanto eu era torturado pela Gestapo.4" Tony Judt afirma que, atrás do esquerdismo dogmático desses intelectuais, além da necessidade de apagar um passado politicamente impuro, havia um complexo de inferioridade experimentado pelo meio intelectual, em razão da facilidade com que a França se curvou perante os nazistas e aceitou o regime asqueroso do Marechal Pétain, e só foi libertada de modo decisivo pelas forças aliadas encabeçadas por Estados Unidos e Inglaterra. É que, embora haja existido, desde o início, uma resistência local e uma participação militar na luta contra o nazismo (por gaullistas5 e comunistas), a França sozinha não teria conseguido jamais a sua própria libertação. Havia ainda a volumosa ajuda que a França recebia dos Estados Unidos (através do Plano Marshall) para seu trabalho de reconstrução. Tudo isso somado, conforme Judt, terá disseminado um ressentimento que explica a "enfermidade infantil do esquerdismo pró-sstalinista" que marcou a vida intelectual da França entre 1945 e os anos 60. Mas no polo oposto, destacava-se a figura de Albert Camus. Naqueles anos 50, não bastava lucidez para condenar os campos soviéticos de extermínio e a truculência dos julgamentos; era necessário, também, muita coragem para enfrentar uma opinião pública desvirtuada, a satanização praticada por uma esquerda que detinha o controle da vida cultural, coragem para enfrentar uma ruptura com os antigos companheiros da resistência. Mas o autor de "L'homme révolté ("O homem revoltado") não vacilou! Albert Camus afirmou, contra tudo e contra todos, que dissociar a moral da ideologia, como fazia Sartre, significava abrir as portas da vida política ao crime e às piores injustiças. O tempo lhe deu razão a Camus; e, por isso, as novas gerações seguem lendo a sua obra. Entrementes, a maior parte daqueles que, à época, dominavam a vida intelectual francesa, caiu no esquecimento. Um caso muito interessante, analisado em detalhes por Tony Judt, é o de François Mauriac. Havendo resistido desde o primeiro momento contra o nazismo e contra o regime de Vichy, as credenciais democráticas de Mauriac eram impecáveis, quando chegou a libertação da França. Isso lhe permitiu enfrentar, com argumentos sólidos, a onda pró-stalinismo; e, sobretudo como católico, aos progressistas de Esprit e Témoignage Chrétien, os quais, em muitas ocasiões - como durante as polêmicas sobre o Gulag que provocaram as reações testemunhais de Víktor Kravchenko e de David Rousset -, agiram como meros rapsodos (propagandistas ideológicos) das mentiras fabricadas pelo Partido Comunista francês. Ademais, François Mauriac (quer em suas memórias, quer em seus ensaios ou nas colunas escritas para o jornal) antecipou-se a todos os seus colegas ao iniciar uma profunda autocrítica concernente aos delírios de grandeza da cultura francesa. Assim foi, numa época em que - embora muito poucos, além dele, houvessem percebido - a cultura francesa entrava num processo de empobrecimento até hoje não revertido. Nunca me agradaram os romances de Mauriac e, por isso, acabei descartando os seus ensaios. Agora este livro de Tony Judt mostra-me que foi um erro. Mas nem tudo na obra de Judt é convincente. É imperdoável que, além de Camus, Aron e outros poucos, não faça sequer uma referência a Jean François Revel, que, desde o final da década de 1950, empreendia também uma muito intensa batalha contra os fetiches do stalinismo. É igualmente imperdoável que não dê o merecido realce a denúncia do colonialismo nem ao apoio das lutas do Terceiro Mundo por livrar-se de ditaduras e da exploração imperialista, o que foi um dos cavalos de batalha e, quem sabe, a melhor contribuição de Sartre e de muitos de seus seguidores à época. Por outro lado, embora as severas críticas de Tony Judt ao que ele chama de "anestesia moral coletiva" dos intelectuais franceses (feitos os devidos descontos), sejam consideradas justas, é fato que ele omite algo que dificilmente poderia ser esquecido por quem de algum modo viveu aqueles anos, como eu: a vigência das ideias, a crença (talvez exagerada) em que a cultura em geral, e a literatura em particular, desempenhariam um papel em primeiro plano na construção dessa futura sociedade na qual liberdade e justiça por fim se fundiriam de maneira indissolúvel. As polêmicas, as conferências, as mesas-redondas no palco lotado da Mutualité, o público ávido (constituído sobretudo de jovens) que seguia tudo aquilo com fervor e, depois, prolongava os debates nos bistrots do Bairro Latino e de Saint Germain: é impossível não lembrar sem nostalgia. Contudo, é verdade que foi bastante efêmero e menos transcendente do que acreditávamos. E o que então nos parecia grande ostentação de inteligência era, em verdade, os estertores da figura do intelectual e os últimos lampejos de uma cultura de ideias e palavras não limitada aos seminários das academias, mas acessível aos homens e mulheres das ruas. Notas da tradução: 1. Campo de trabalhos forçados onde eram confinados aqueles que o regime comunista soviético condenava por meio de falsos julgamentos sem direito de defesa. 2. Expulsão, por parte das Forças Aliadas, dos nazistas que ocuparam a França por quatro anos durante a II guerra. 3. Com a invasão alemã em 1940, instalou-se na cidade de Vichy um governo comandado pelo marechal francês Pétain, controlando um terço do país, mas subordinado aos interesses da Alemanha, enquanto os outros dois terços da França estavam ocupados e governados diretamente por nazistas. 4. A temível polícia secreta alemã do regime nazista. 5. Seguidores do General Charles de Gaulle, herói nacional francês que participou da libertação da França invadida pelos nazistas e veio a ser presidente da nação. |
| You are subscribed to email updates from Alerta Total. To stop receiving these emails, you may unsubscribe now. | Email delivery powered by Google |
| Google Inc., 1600 Amphitheatre Parkway, Mountain View, CA 94043, United States | |





















Nenhum comentário:
Postar um comentário