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A rede de 'acarajés quentinhos' de Marcelo Odebrecht
E-mails mostram intensa troca de mensagens em que dois executivos ligados ao empreiteiro discutem repasse de dinheiro
- Por: Laryssa Borges e Felipe Frazão, de Brasília
- 26/02/2016 às 15:27 - Atualizado em 26/02/2016 às 17:33
A rede de acarajés - propinas - na Odebrecht (Reprodução/VEJA)
E-mails trocados entre os executivos Roberto Prisco Ramos e Hilberto Alves Silva Filho, ligados ao Grupo Odebrecht, evidenciam um esquema de distribuição de recursos que a Polícia Federal acredita envolver dinheiro sujo oriundo do petrolão. Os investigadores identificaram uma intensa troca de mensagens entre Prisco e Hilberto em que eles discutem a entrega de "acarajés". Para a PF, a iguaria baiana é uma senha para camuflar a farta movimentação de dinheiro.
A troca de mensagens começou em outubro de 2013, quando a Operação Lava Jato ainda não tinha sido deflagrada, e envolve o príncipe das empreiteiras, Marcelo Bahia Odebrecht, preso desde junho do ano passado por suspeitas de atuar ativamente no esquema de corrupção que sangrou os cofres da Petrobras e distribuiu propina a políticos e ex-funcionários da estatal. Nas conversas, Odebrecht é citado como "Bahia".
No dia 24 de junho de 2014, por exemplo, Prisco Ramos dá a senha a Hilberto: o "Bahia" havia dado ordens para uma nova "partida de acarajés". Na conversa, Prisco Ramos diz ao interlocutor, carinhosamente chamado de "tio Bel": "O Bahia me disse que ia combinar com ocê [sic] outra partida de acarajés, mas, independente disso, eu vou precisar de mais 50 para esse fim de semana; você me consegue para 6a Feira, por volta as 12:30, entregues no mesmo lugar? Abraço agradecido R".
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(VEJA.com/VEJA)
Em depoimento à Polícia Federal, a secretária de Marcelo Odebrecht, Maria Lúcia Tavares, apontada como responsável pela contabilidade paralela do empreiteiro, apresentou uma versão fantasiosa para o termo acarajé identificado nas mensagens eletrônicas. Disse que "as baianas em Salvador vendem pequenas porções para aperitivo, em caixa, e então cabia [a ela] providenciar essas entregas a pedido de Hilberto". Por essa narrativa, os acarajés - em porções de 50 - seriam supostamente remetidos de Salvador para o Rio de Janeiro e chegavam "quentinhos".
Em um dos e-mails em poder dos investigadores da Lava Jato, Roberto Prisco Ramos pede a Hilberto "50 acarajés dos 500" e alguma "bahiana [sic] de confiança" no Rio de Janeiro. Queriam, segundo a PF, quitar uma das parcelas da transação em dinheiro vivo. "Claramente os investigados aparentam conversarem por código, no qual o primeiro cobra parte da dívida de que um tem com o outro. Destaca-se que trata-se de comida perecível e que seria completamente inviável pessoa estocar tal alimento sem que o mesmo perca suas propriedades alimentares", ironiza a PF, que completa na sequência: "E-se que Marcelo Bahia Odebrecht possa prestar esclarecimentos relevantes sobre sua rede de distribuição de 'acarajés' e sobre as menções ao codinome Feira espalhadas em seu celular e replicadas por seus funcionários em planilhas e anotações".
Mais uma mensagem em poder dos investigadores, datada de janeiro de 2014, poucos meses antes do estouro da Operação Lava Jato, escancara a "rede de acarajés" dos executivos ligados à Odebrecht. Neste e-mail, Roberto pede a Hilberto que providencie a entrega de mais "50 acarajés". Na resposta, Hilberto diz que a entrega está programada e que "seus acarajés chegaram quentinhos". Na extensa troca de mensagens eletrônicas, dinheiro é sempre referido como acarajé.
Em mais uma conversa, de dezembro de 2014, quando boa parte dos maiores empreiteiros do país já estava atrás das grades - ainda não havia ordens de prisão cumpridas contra executivos da Odebrecht ou da Andrade Gutierrez na época -, Hilberto cobra a secretária Maria Lúcia por mais acarajés a serem repassados a Prisco Ramos. "Nosso amigo ele está precisando comer acarajés", reclama.
A 23ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na segunda-feira, trouxe à tona mais indícios do envolvimento de Marcelo Odebrecht no escândalo do petrolão e escancarou o pagamento de propina do conglomerado no exterior. Documentos em posse da força-tarefa do Ministério Público comprovam que existia uma planilha de pagamentos ilícitos feitos pela Odebrecht, com destinatários como "Feira", uma referência ao marqueteiro João Santana, e JD, em alusão ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Segundo os investigadores, novas evidências mostram que Marcelo Odebrecht detinha o controle do caixa de propina do grupo e conhecimento amplo do uso de offshores para o depósito de dinheiro a corruptos. Na 23ª fase da Lava Jato, as suspeitas são de que Hilberto Mascarenhas Alves Silva Filho e Luiz Eduardo Rocha Soares, que já foram ligados ao Grupo Odebrecht, e Fernando Miggliaccio da Silva atuavam nos pagamentos no exterior por ordem da companhia. Os dois últimos teriam sido retirados do país após buscas e apreensões na Odebrecht em junho de 2015, data da fase da operação que levou o herdeiro do Grupo Odebrecht para a cadeia.
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