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  • TU ES PETRUS ET SUPER HANC PETRAM AEDIFICABO ECCLESIAM MEAM

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A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las. (Santo Agostinho) 




Não é o suplício que faz o mártir, mas a causa. (Santo Agostinho)

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Benedicat tibi Dominus et custodiat te
Ostendat Dominus faciem suam tibi, et det tibi gratiam suam:
Volva Dominus vultum suum ad te et det tibi pacem


“A guerra é um massacre de homens que não se conhecem em benefício de outros que se conhecem mas não se massacram.”

— Paul Valéry




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  • Terrorista: Deus é maior… Jovem: …do que aquele que esconde o que não revela. Terrorista: Deus é maior… Mulher: …do aquele que obedece sem refletir. Terrorista: Deus é maior… Homem: …do que aquele que trama para nos trair.

    Tradutores de Direita

    sábado, 4 de junho de 2016

    Em Angola, a Odebrecht no espelho | Pública

    Em Angola, a Odebrecht no espelho | Pública





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      AGÊNCIA DE REPORTAGEM E JORNALISMO INVESTIGATIVO





      Em Angola, a Odebrecht no espelho

      Como a empreiteira brasileira tornou-se sustentáculo do regime autoritário de José Eduardo dos Santos

      Do seu amplo escritório no oitavo andar do prédio que sedia a
      operação da Odebrecht em Angola, Antônio Carlos Dahia Blando observa,
      numa manhã de setembro de 2015, as avenidas circulares do bairro de
      Talatona, a zona sul de Luanda, apinhada de Toyotas 4×4 prateados que
      margeiam os prédios de luxo, envidraçados, ao lado dos quais um exército
      de gruas anuncia os empreendimentos que estão por vir. “Luanda Sul é
      nossa criação”, diz. Pouco antes, ao chegar ao local, o executivo solta
      galanteios a todas as funcionárias – faz piadinhas, beija as mãos da
      secretária, faz questão de tomar os braços da jornalista – enquanto
      avisa: “Tenho que sair às 11h30, reunião com o ministro da Administração
      do Território. Um homem muito bom, muito capaz mesmo”.



      Dahia, superintendente da gigante brasileira em Angola, é um homem
      moreno, de óculos, com um sorriso suave que encarna o “espírito de
      servir”, mandamento número um da companhia que tem no país africano sua
      segunda maior operação fora do Brasil. O mandamento, ali, significa
      servir bem o seu principal cliente, o governo do presidente José Eduardo
      dos Santos, no poder há 36 anos. Segundo maior exportador de petróleo
      da África, Angola é tido como um dos países mais corruptos do mundo, tem quase 36% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, e possui a pior taxa de mortalidade infantil, ao mesmo tempo que a filha primogênita do presidente, Isabel dos Santos, é celebrada como a mulher mais rica do continente.



      No país desde 1984, ano em que assinou o contrato para construir a
      hidrelétrica de Capanda, a Odebrecht conquistou uma invejável fidelidade
      do Estado angolano. Construiu muitas das principais obras estratégicas
      depois da independência e é, ainda hoje, a maior empregadora privada do
      país, com 12 mil funcionários, além de 5 mil subcontratados, segundo seu
      relatório anual. Em 2014, US$ 1 em cada US$ 10 dólares gastos pelo
      governo em infraestrutura foi parar nos bolsos da Odebrecht. “Ano
      passado o governo angolano investiu US$ 15 bilhões em infraestrutura. A
      gente teve uma atuação importante: US$ 1,5 bilhão é um número
      significativo, basicamente em função de projetos grandes como Cambambe,
      Laúca e a refinaria de Lobito”, detalha Dahia.



      Cambambe é a segunda maior hidrelétrica do país, em processo de
      renovação e ampliação. A refinaria de Lobito traz a promessa de
      finalmente Angola produzir derivados do petróleo em vez de apenas
      exportar o óleo cru. Laúca é a cereja do bolo: maior obra de construção
      civil no país, promete dobrar a capacidade de fornecimento de energia.
      Hoje, apenas 30% da população tem luz, e mesmo assim recalcitrante,
      obrigando quase toda a economia a rodar à base de geradores. “A gente
      cresceu cerca de 30%, 35% graças aos empreendimentos da área de
      energia”, diz Dahia. “Mas nesses 30 anos foram os pequenos projetos onde
      colocamos a bandeira Odebrecht, Odebrecht, Odebrecht que fizeram a
      nossa história.”


      Essas “bandeiras” estão por toda parte. Os varredores das ruas do
      bairro da Maianga, no centro de Luanda, trazem uniformes laranja com o
      logotipo da Odebrecht. Nos outdoors por toda a cidade, o logo ilustra
      anúncios de condomínios de luxo onde uma casa pode custar US$ 3 milhões
      para os filhos da pequena elite e diretores de multinacionais
      estrangeiras. Na baía de Luanda, diante das demolições de antigas
      favelas, ou musseques, lá está de novo a placa da Odebrecht,
      contratada para construir a nova avenida Marginal. Aliás, boa parte da
      capital foi erguida por ela: construiu as principais estradas de Luanda –
      Via Expressa, Estrada do Samba, autoestrada periférica – e fez o parco
      sistema de saneamento e distribuição de água. A rede de supermercados
      Nosso Super, espalhada por todo o país, é sua concessão. Ela é uma das
      donas da maior operação diamantífera angolana, a quarta maior mina de
      diamante kimberlito do mundo. É dela o único açúcar fabricado no país –
      da marca “Kapanda”, embalado em saquinhos brancos e vermelhos, produto
      da usina Biocom, uma sociedade com a estatal Sonangol e um influente
      general.



      Dahia despede-se da reportagem lendo com candura um trecho da TEO, Tecnologia Empresarial Odebrecht,
      livro escrito pelo patriarca Norberto Odebrecht no século passado, a
      bíblia do núcleo duro do conglomerado empresarial, que ele guarda num
      armário do escritório, com anotações nos cantinhos das páginas. Em três
      volumes, a TEO versa sobre “a tarefa empresarial de identificar,
      conquistar, satisfazer o cliente e com este criar laços duradouros” e
      ensina: “O ato mais nobre de um Ser Humano é servir a seu semelhante”.



      Todo ano o patrono Emílio Odebrecht se reúne com o presidente
      angolano no palácio, em Luanda, por cerca de duas horas para prestar
      contas sobre os negócios em andamento. Suas declarações à saída são
      assunto de manchete dos veículos oficiais. “Uma vez ao ano nos
      encontramos com o Presidente da República, para o ponto de situação das
      metas traçadas no ano anterior e perspectivar os próximos 12 meses”,
      afirmou ao portal Angop em setembro de 2014.



      A Odebrecht integra também a Assembleia Geral
      e o Conselho Fiscal da Fundação Eduardo dos Santos, a Fesa, a maior ONG
      de Angola, fundada pelo mandatário com a missão de consolidar o
      progresso social, cultural e científico. Além da companhia brasileira, o
      conselho fiscal da fundação é integrado por três estatais angolanas e a
      petrolífera Texaco, entre outras. “Não vemos conflito de interesses,
      tendo em vista que a Fesa é uma instituição sem fins lucrativos voltada
      para o desenvolvimento do povo angolano, sob diversas vertentes, e que
      não está subordinada ao governo”, diz a empresa.



      A parceria de longa data rendeu uma homenagem inesperada em meados de 2013, quando o reservado presidente, na sua primeira entrevista
      em 22 anos, citou uma – apenas uma – empresa: a Odebrecht. “De Angola
      saíram muitos escravos que foram enviados para o Brasil, portanto, há
      uma participação angolana na formação da nação brasileira. Há afinidades
      de vário tipo, por conseguinte há relações pessoais entre os dois
      países. Por isso as relações são de forte amizade, de alguma
      cumplicidade. E são relações econômicas que se estendem em várias áreas
      de atividade. Estão aqui empresas fortes, como sublinhou, como é o caso
      da Odebrecht, desde os tempos mais difíceis da guerra e que tem dado uma
      contribuição enorme no processo de construção de Angola. Participou no
      grande esforço de reconstrução nacional e agora tem procurado reinvestir
      parte do que ganha cá para realizar vários negócios que são úteis,
      naturalmente, para Angola.” O estatal Jornal de Angola, único diário do país, em sua versão impressa suprimiu a menção “relações pessoais” e “alguma cumplicidade”.









      Alguma cumplicidade

      “O dia foi de festa em Capanda. Nessa época do ano, ao amanhecer uma
      espécie de névoa encobre a barragem e as águas revoltas do rio Kwanza e
      cria uma atmosfera de sonho. Os que se tinham empenhado com teimosia
      para a realização daquele projeto faziam contas à vida e não despregavam
      a vista do local. Angola estava finalmente em paz e havia a perspectiva
      de desenvolvimento com disponibilidade de energia.” Assim o vistoso
      livro publicado pela Odebrecht em celebração dos 25 anos no país
      descreveu o enchimento do reservatório da hidrelétrica de Capanda em
      2002. As cerimônias não acabaram aí; em 2005, duramente os eventos de
      celebração de 30 anos desde a independência, José Eduardo dos Santos e
      diversos ministros inauguraram a primeira fase da barragem da hidrelétrica. Cinco anos depois, em 2010, o presidente voltou para inaugurar o arranque das primeiras turbinas.



      A promessa, como já se viu, não se concretizou: mais de dois terços
      da população angolana seguem sem luz. Mas a história de Capanda,
      primeira grande obra da empreiteira no país, ainda hoje é recontada em
      tons épicos na literatura institucional da Odebrecht.



      Para ganhar o contrato, a empresa contou com apoio da ditadura
      brasileira durante os governos dos generais Ernesto Geisel e João
      Batista Figueiredo. “É uma empreiteira brasileira que cresceu na
      ditadura. O grande salto da Odebrecht foi início da década de 1970,
      durante o governo Geisel”, explica o historiador Pedro Campos, autor do
      livro Estranhas catedrais – As empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar.
      Ele mostra que a construção das usinas nucleares de Angra valeu à
      Odebrecht a confiança dos generais. “São obras do escopo da segurança
      nacional, contratos que os militares não deixariam para qualquer um. Era
      a empresa em que os militares confiavam para fazer isso.”



      Em 1975, o governo Geisel havia sido o primeiro a reconhecer a
      independência de Angola. Ao mesmo tempo, a Odebrecht começava a se
      internacionalizar, a partir de um contrato no Peru. Mas Capanda foi um
      salto e tanto: para viabilizá-la, a Odebrecht literalmente convenceu o
      governo ditatorial a financiar a operação.



      “A superação da questão do financiamento da obra foi alcançada quando
      Marc Altit, que atuava como diretor de desenvolvimento de negócios na
      área internacional da Odebrecht, estruturou um contrato inovador, com
      muitas variáveis e um mecanismo de garantia: o petróleo produzido em
      Angola. A ideia foi apresentada ao governo brasileiro, que, embora
      resistisse à novidade, via com bons olhos a perspectiva de contar com
      uma fonte fiável de petróleo numa fase em que os preços internacionais
      estavam elevados e havia grande disputa pelo produto”, relata Luiz
      Almeida, que na época era vice-presidente de Desenvolvimento
      Internacional da Odebrecht, em uma publicação institucional. O atual membro
      do Conselho de Administração prossegue: “Em abril de 1983, o ministro
      Delfim – o mais importante membro da comitiva do presidente do Brasil,
      João Batista Figueiredo, em visita oficial ao México – fez a gentileza
      de me receber no hotel em que estava hospedado, em Cancún, e afirmou
      que, ao regressar ao Brasil, formalizaria a autorização para a operação
      de crédito para Capanda, a ser compensado com barter de petróleo angolano para a Petrobras.” Segundo a tese de doutorado
      de Joveta José, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a
      linha de crédito brasileira para a construção de Capanda acabou
      absorvendo recursos superiores a US$ 1,5 bilhão. Outros contratos
      semelhantes haviam sido estruturados pela ditadura no Iraque. O país
      enviava petróleo e recebia em troca obras de infraestrutura.



      Do lado de lá, a Odebrecht convenceu o governo angolano de que seria
      mais proveitoso construir uma nova hidrelétrica do que ampliar a de
      Cambambe, já em funcionamento. “Trabalhamos para mostrar ao governo
      angolano que o investimento prioritário deveria ser em Capanda. Quando a
      decisão foi tomada, fui convidado ao gabinete do ministro do Plano,
      Lopo do Nascimento, que me deu pessoalmente a notícia de que Capanda
      tinha sido colocada como prioridade, porque fora convencido por nossos
      argumentos”, descreve Luiz Almeida. Outro argumento irrecusável era a
      oferta do governo russo de financiar os serviços e o equipamento enviado
      pela empresa estatal Technoexport, que já era sócia da Odebrecht no
      Peru. Faltava ainda algo essencial: construir o próprio cliente. Luiz
      relata ter convencido o ministro de Energia e Petróleos a estabelecer
      uma autarquia estatal para ser responsável pela obra. E facilitou um
      convênio com a estatal Furnas para auxiliar tecnicamente na
      implementação da nova entidade, o Gamek – Gabinete de Aproveitamento do
      Médio Kwanza.



      Angola estava, àquela altura, em meio a uma guerra civil em que
      diferentes guerrilhas disputavam o controle do território. A Unita,
      apoiada pelas forças do governo do apartheid, na África do Sul, e pelos
      Estados Unidos, controlava parte do leste do país, enquanto o governo
      marxista do MPLA tinha controle sobre a capital, Luanda, com apoio
      cubano. Uma empreitada no interior do país só seria possível com amplo
      apoio do lado que seria o vencedor militar da guerra. “Autorizado por
      Emílio Odebrecht, liguei para o coronel António dos Santos França
      N’Dalu, então chefe do Estado-Maior das Fapla [Forças Armadas Populares
      de Libertação de Angola], amigo com quem eu compartilhava conversas e
      histórias”, prossegue o relato de Luiz Almeida. N’Dalu se tornaria o
      “general dos generais”, servindo duas vezes como vice-ministro da
      Defesa.



      “Após um breve silêncio, o coronel N’Dalu afirmou que implementaria
      as medidas necessárias para a segurança da construção da usina. E assim,
      finalmente, chegamos a Capanda”, descreve Luiz Almeida. N’Dalu
      estabeleceu um gabinete militar comandado pelo capitão Jorge Silva
      “Sapo”, membro do Estado-Maior da Frente Centro da Fapla. Com a nova posição estratégica, “Sapo” foi promovido a major.



      Capanda era alvo estratégico na guerra e chegou a ser interrompida
      duas vezes. Em novembro de 1992, foi ocupada por tropas da Unita. Oito
      funcionários foram sequestrados, e as negociações para a soltura foram
      encabeçadas pelo próprio Emílio Odebrecht, com apoio da Cruz Vermelha e
      de dois aviões Hércules C-130 das Forças Armadas Brasileiras.



      Em 1997, as equipes da Odebrecht voltaram à área para recuperar o
      estaleiro. Em 1999 a obra foi novamente interrompida por causa de
      bombardeios. Retomadas em 2000, culminaram com o enchimento do
      reservatório em 2002, no fim da guerra civil. No meio tempo, Jorge Silva
      “Sapo” tornou-se ainda mais que um aliado da Odebrecht – em, 1992 o
      angolano ingressou
      nos quadros da Odebrecht e foi enviado para Cuba, para trabalhar num
      posto de confiança junto ao Superintendente da empresa no país.



      Membros da Odebrecht e das Fapla visitam o local onde Capanda será construída. No centro, Jorge Silva "Sapo" . Foto: Odebrecht
      Membros da Odebrecht e das Fapla visitam o local onde Capanda será construída. No centro, Jorge Silva “Sapo” . Foto: Odebrecht
      Leia mais: Medo e controle em Angola


      Leia mais: A equação Brasileira


      Assista à websérie: É proibido falar em Angola


      Na guerra pelos diamantes

      Quatro anos depois do início das obras de construção de Capanda, a
      Odebrecht iniciava seu segundo negócio no país, em uma indústria que a
      empresa até hoje opera só em Angola – a exploração de diamantes. Os
      episódios dessa atuação merecem bem menos destaque na propaganda
      institucional, mas permitem entender a profunda conexão da empresa
      brasileira com o alto escalão e o generalato angolanos.



      Um dos poucos relatos foi dado por Paulo Lacerda, diretor da
      Odebrecht em Angola entre 1988 e 1992: “Com o objetivo de ampliar a
      geração de divisas para Angola, apresentamos à Endiama [estatal
      diamantífera] o projeto de Luzamba, para exploração de minas de
      diamantes na Lunda Norte, contrato que foi assinado em abril de 1991.
      Após 16 meses, em agosto de 1992, a produção de Luzamba duplicou a
      exportação de diamantes de Angola”, diz.



      A operação durou apenas 15 meses, até ser alvo da Unita. Numa área de
      3 quilômetros no rio Cuango, era a maior unidade de produção de
      diamantes do país, mostrando-se importante fonte de divisas durante a
      guerra civil – e marcando de vez a empresa brasileira como não apenas
      parceira do governo, mas parte interessada na guerra.



      Na mesma época, relata Renato Baiardi, um executivo antigo, de
      confiança da família Odebrecht, que hoje é membro do Conselho de
      Administração. “Quando o conflito foi retomado em 1992, perguntei às
      autoridades locais como poderíamos apoiá-los. Eles pediram que
      enviássemos com urgência alimentos para a tropa e a população,
      especialmente de Luanda. Contratamos, então, um Boeing 747 nos Estados
      Unidos, que pousou em Luanda, carregado de alimentos, para atender ao
      pedido”, diz ele. “Esse caso é útil para demonstrar que nosso
      relacionamento com Angola extrapola qualquer outro, o que nos faz
      comprometidos e nos leva também a investir no país.”



      O controle das áreas diamantíferas pela Unita, após a expulsão dos
      brasileiros, foi o que deu sobrevida à guerra civil angolana após a
      derrota do regime do apartheid.



      Expulsa de Luzamba, no final daquele mesmo ano, a Odebrecht entrou
      definitivamente no ramo diamantífero ao assinar em 1993 o contrato para a
      implantação da mina de Catoca, em outra região, na Lunda Sul, da qual
      participa até hoje, com 16,4%, em sociedade com a Endiama, o grupo
      estatal russo Alrosa e o grupo israelense Lev Leviev. Catoca, hoje, é o
      primeiro kimberlito em exploração em Angola e a quarta maior mina de
      diamantes desse tipo do mundo. Segundo relatório de 2014,
      Catoca vendeu 82 milhões de quilates, respondendo por 84,7% do volume
      de produção em Angola, e teve um lucro líquido de US$ 126 milhões.



      Segundo o pesquisador Mathias Alencastro, autor da tese de doutorado A política do diamante na periferia de Angola,
      da Universidade de Oxford, a entrada da Odebrecht na mina de Catoca
      obedecia a uma demanda estratégica do MPLA. “Era uma região tomada por
      produção artesanal, porque Catoca tinha a particularidade de os
      diamantes estarem muito perto da superfície. O MPLA precisava de uma
      empresa que fosse o braço industrial do Exército. O que eles criaram ali
      é um mecanismo de governança do território que passava pelo controle da
      mina de diamantes. Basicamente o MPLA angolano privatizou para a
      Odebrecht a responsabilidade de reconstruir o Estado nessa região.”



      Para Mathias, a entrada no ramo dos diamantes foi fundamental para a
      trajetória da empreiteira. “A Odebrecht no final da guerra civil era
      considerada uma ‘muleta’ do Estado. Isso se deve essencialmente a dois
      grandes, digamos, sacrifícios, que foram Capanda e Catoca. Esse legado
      de legitimação do Estado angolano no momento em que ele era considerado
      por investidores internacionais não só marxista-leninista, mas
      beligerante, é muito mais importante do que o legado industrial da
      Odebrecht.”



      Se há poucas informações sobre a atuação da Odebrecht em Catoca, ainda menos se sabe sobre outra parceria com a Mapa Lunda NorteEndiama,
      a Sociedade de Desenvolvimento Mineiro de Angola (SDM), instituída por
      decreto presidencial em 25 de agosto de 1995 (Baixe aqui o decreto e a
      ata de constrituição da SDM: Página 1, 2 e 3),
      numa divisão de 50% para cada empresa – a Odebrecht investiu US$ 20
      milhões na época. A SDM assumiu as antigas operações de Luzamba
      abandonadas em 1992, na região de Lunda Norte. A área, de cerca de 3 mil km2, foi durante anos o segundo maior produtor de diamantes de Angola.



      A partir de 2006, violações brutais de direitos humanos na área
      administrada pela SDM foram sistematicamente denunciadas pelo jornalista
      investigativo angolano Rafael Marques. Um de seus relatórios, “Operação
      Kissonde”, relata como, em fevereiro de 2005, empresas privadas de
      segurança assumiram a responsabilidade de combater o garimpo ilegal no
      Cuango. A empresa Alpha-5, então contratada pela SDM, controlava a sede
      municipal, punindo de maneira perversa quaisquer garimpeiros artesanais
      que encontrasse. “No caso particular da Alfa-5, documentam-se vários
      casos em que as vítimas são obrigadas a ter relações homossexuais entre
      si, tendo chegado ao extremo de se forçar um genro a violar o seu
      sogro”, diz o relatório (baixe a íntegra aqui). Todas as violações são
      identificadas com data, local e nome das vítimas e testemunhas. Os
      relatos são assombrosos. Algumas vítimas contam ter sido obrigadas a
      trabalhar nuas dentro da sede da empresa mineira da Odebrecht. Outras
      mencionaram ter sido obrigadas a fazer sexo entre si por “33 efetivos da
      Alfa-5, 7 soldados das Forças Armadas e 5 elementos da Segurança
      Industrial da SDM”. A Alpha-5, na época, mantinha um posto de controle
      dentro da sede da SDM.



      A Odebrecht negou veementemente as denúncias. “Em relação às
      operações da empresa mineira SDM na região do Cuango, na província de
      Lunda Norte, é necessário mencionar que nem a SDM nem a Odebrecht têm
      nenhum registro da ocorrência de situações descritas como ‘violações de
      direitos humanos’ no relatório”, afirmou em comunicado o então superintendente em Angola, Luiz Mameri. Questionada pela Pública sobre a sociedade, a Odebrecht afirmou que a sociedade ainda existe, mas está inativa há cinco anos. Em 2006, a mina se exauriu. Ninguém foi punido pelos abusos de direitos humanos registrados.



      Em outro investimento diamantífero que figura em passant na literatura
      institucional da Odebrecht, a empresa brasileira manteve sociedade com
      dois filhos do presidente angolano – Welwitschea José dos Santos, a
      Tchizé, e José Eduardo Paulino dos Santos, o cantor Córeon Dú – e um
      genro, conforme comprovam registros do Diário da República (baixe aqui, em PDF) e do registro da empresa (baixe aqui) obtidos pela Pública.
      A lei angolana estabelece que toda empresa estrangeira tem que ter um
      sócio nacional. Aprovado por decreto presidencial em 27 de maio de 2005,
      o Consórcio Muanga era uma sociedade entre a Endiama (51%), a Odebrecht
      Mining Services (19%), a SDM (20%) e a Di Oro Sociedade de Negócios
      Limitada (10%), dos filhos de José Eduardo dos Santos. A empresa, que
      antes era do ramo de “alta-costura”, adaptou-se para a assinatura do
      contrato, que previa um investimento mínimo de US$ 10 milhões das duas
      empresas da Odebrecht, que assumiram “inteiramente o investimento por
      sua conta e risco”. Em 2010, o consórcio recebeu, por decreto
      presidencial, mais dois anos para operar a mina. A produção de diamante
      aluvião, que chegou a ser anunciada
      para 2006, nunca se concretizou, segundo a Odebrecht. Procurada pela
      reportagem, a empresa negou a sociedade: “A Odebrecht não é, nem nunca
      foi, sócia dos filhos do Presidente da República de Angola. As campanhas
      de pesquisa diamantífera realizadas no Projeto Muanga demonstraram a
      sua inviabilidade económica e a concessão não foi desenvolvida”,
      escreveu a assessoria de comunicação.



      “Os generais, hoje, são milionários. E eles entraram nos negócios
      através do petróleo e dos diamantes. As empresas privadas que operavam
      nas Lundas eram dos generais. Foi uma privatização da segurança do
      Estado”, explica Mathias Alencastro.



      É o caso do general António dos Santos França N’Dalu, o “general dos
      generais”, antigo conhecido da direção da Odebrecht, que, depois de ter
      servido como embaixador nos Estados Unidos, virou homem de negócios,
      atuando, em especial, no ramo de diamantes. Desde 2005, N’Dalu é o presidente não executivo
      da operação angolana da De Beers, a maior empresa diamantífera do
      mundo. É um dos sócios da empresa de segurança Teleservice (10% das
      ações) com outros generais, empresa acusada de violações de direitos
      humanos na região das Lundas. A Teleservice chegou a ser contratada pela
      Odebrecht para fazer a segurança patrimonial durante a construção de um
      condomínio em Luanda, o Kizomba, para a petrolífera Esso em 2012.



      Angola é o quinto produtor mundial de diamantes, gerando 8% da
      produção mundial. Em 2014, a produção chegou a 8,6 milhões de quilates,
      alcançando um total de US$ 1,2 bilhão, segundo o
      Ministério da Geologia e Minas. Os diamantes são o segundo maior
      produto de exportação, atrás do petróleo com larga distância.



      Depois de ter anunciado a intenção de se afastar do setor
      diamantífero, no fim da década passada, a Odebrecht abriu uma nova
      sociedade com a Endiama para explorar a mina de diamantes do Luaxe, na
      região de Lunda Sul, que pode duplicar a produção nacional. A Odebrecht tem 7,5% das ações. Luaxe, considerada a maior mina de kimberlito do mundo, fica a apenas 20 quilômetros de Catoca.






      De mãos dadas com o Estado

      Depois de anos estudando o comportamento das construtoras brasileiras
      durante a ditadura e o seu processo de internacionalização, o
      historiador Pedro Campos chegou à seguinte conclusão: “São empresas que
      vivem da relação com o Estado”. Para ele, a principal vantagem da
      Odebrecht não é a qualidade da sua engenharia. Longe disso. “A marca da
      Odebrecht não é essa. É ser uma potência política. Ela sabe desenvolver
      relações com o aparelho do Estado e ser atuante em muitas frentes – como
      é o caso com as Forças Armadas, Congresso, partido. A expertise está
      mais nisso”, diz.



      Em uma economia como a angolana, controlada por um Estado
      autoritário, a Odebrecht tem uma trajetória comum às maiores empresas
      internacionais que passa, necessariamente, por uma profunda aliança com
      as elites. “Em Angola, se uma companhia se torna íntima do poder, vai
      ter acesso a praticamente qualquer oportunidade que apareça”, explica o
      pesquisador português Ricardo Soares de Oliveira, professor da
      Universidade de Oxford, na Inglaterra. “Podem ser oportunidades da sua
      área de especialização inicial, por exemplo, a construção civil, mas
      podem ser diamantes, podem ser restaurantes, podem ser hotéis, pode ser import/export,
      pode ser agricultura, pode ser o que for”, diz o autor, que dedicou os
      últimos dez anos a entender a dinâmica econômica do país após o fim da
      guerra civil.



      Esse modus operandi não ocorre por acaso. O autor do aclamado livro Magnífica e miserável: Angola desde a guerra civil
      vê uma estratégia planejada de concentração de poder pelo presidente
      José Eduardo dos Santos dentro de um estado autoritário que lhe rendeu
      um controle sem paralelo na África. “A economia política da reconstrução
      gerou muitas oportunidades, muitos contratos, e esses contratos foram
      adquiridos por pessoas próximas do poder. É claro que a Odebrecht, sendo
      uma presença já muito antiga no país, e tendo uma relação
      particularmente privilegiada com o palácio presidencial, teve acesso a
      essas oportunidades a uma escala muito diferente de outros operadores em
      Angola.”



      Talvez o mais cristalino resumo sobre como funciona a economia
      angolana venha de uma descrição da ex-embaixadora brasileira Ana Lucy
      Cabral Petersen. Ao detalhar as oportunidades para empresários
      brasileiros, ela escreveu em um despacho diplomático de 13 de março de
      2011: “Boas conexões e parceiros locais influentes são fundamentais para
      a concretização de investimentos em Angola. Sócios locais estratégicos,
      como a Sonangol, ex-ministros, generais e empresários próximos ao
      Presidente, facilitam a aprovação de projetos e dirimem entraves
      burocráticos. Bons contatos na Agência Nacional de Investimento Privado
      (ANIP), que dá o aval a grandes projetos de investimento, são também
      fundamentais”.



      As ligações da Odebrecht em Angola
      Para a pesquisadora Anna Saggioro, do Laboratório Interdisciplinar de
      Estudos em Relações Internacionais (Lieri), da Universidade Federal
      Rural do Rio de Janeiro, é impossível dissociar o poder do presidente
      com o poder da Odebrecht. “A gente vê o grau de autoritarismo do governo
      angolano, e a gente não pode escolar a Odebrecht desse autoritarismo. A
      Odebrecht atua junto com o governo angolano em uma série de
      empreendimentos e também nas suas ligações internas. Não podemos
      simplesmente dizer que é apenas uma empresa que segue as regras”,
      avalia.



      Ricardo Soares diz que, como pesquisador, é muito difícil analisar a
      atuação da Odebrecht no país, pois há pouca informação e transparência.
      “As especulações sobre a relação da Odebrecht com a elite angolana são
      inteiramente legítimas. Se a Odebrecht está preocupada com a sua
      reputação, só tem que clarificar a natureza dessas relações. Até que
      ponto eles são lucrativos, qual é a lógica desses projetos? Por exemplo,
      eu gostava que a Odebrecht colocasse disponível uma lista exaustiva de
      seus negócios. Tenho uma lista de exemplos, e não há mês que passe que
      não venham dizer que a Odebrecht está, afinal, metida aqui ou ali.”



      Leia mais: Medo e controle em Angola


      Leia mais: A equação Brasileira


      Assista à websérie: É proibido falar em Angola


      Um país em obras

      De fato, são tantos os contratos e investimentos públicos e privados
      que é muito difícil obter uma lista completa dos empreendimentos da
      Odebrecht em Angola, ou avaliar os lucros auferidos ao longo de tantos
      anos. A reportagem pediu essa listagem, mas não foi atendida. A receita
      total da empresa no país não consta do seu relatório anual 2014,
      diferentemente do valor gasto com projetos sociais e ambientais,
      nitidamente visível: US$ 17 milhões em 2014. O que consta, ali, é apenas
      o “valor econômico distribuído” – impostos, salários, pagamento de
      fornecedores, investimentos na comunidade, custos operacionais e de
      financiamentos – no total de US$ 1.851.780.000. À Pública,
      a assessoria de comunicação da Odebrecht afirmou que a receita foi da
      ordem de US$ 1,8 bilhão. Ou seja, nenhum lucro. Sobre esse
      questionamento, a empresa retrucou: “A conclusão não é correta. A
      Odebrecht teve lucro em Angola e tem todas as suas contas auditadas por
      auditor independente. Como se sabe, as operações da Odebrecht em Angola
      são executadas por companhia de capital fechado e não está sujeita à
      obrigação de publicar as suas contas. De qualquer forma, as contas
      consolidadas do negócio de Engenharia e Construção da Odebrecht são
      disponibilizadas para os seus stakeholders”.



      Leia aqui todas as respostas da Odebrecht


      Ao longo de meses de pesquisa, a Pública elaborou
      uma lista extensa – porém provavelmente não exaustiva – dos contratos e
      investimentos da empresa brasileira ao longo de 32 anos em Angola. Veja
      na linha do tempo:




      Entre as obras, há diversos “elefantes brancos”, imensas construções
      que não geraram a prometida riqueza às suas populações. Para o
      pesquisador Mathias Alencastro, a multiplicação de projetos da Odebrecht
      em Angola cumpre um papel estratégico. “Ela cria a sensação de um
      movimento de reconstrução permanente, de que o país está mudando, que é a
      grande retórica que o MPLA criou para sufocar as contestações,
      legitimando seu poder autoritário. O que importa é que os projetos sejam
      anunciados, não que sejam bem-sucedidos”, analisa.




      • Supermercado Nosso Super. Foto: Odebrecht
      • Supermercado Nosso Super. Foto: Odebrecht

      Em 2006, a Odebrecht aceitou mais um pedido presidencial ao entrar em
      uma nova área de negócios: supermercados. Inicialmente, o contrato
      cobria a construção e implementação da Rede Nosso Super, com 32 lojas em
      todas as províncias do país e dois centros de distribuição e logística.
      O objetivo era nobre: prevista para ser operada pelo Estado angolano, a
      rede deveria absorver a produção local de camponeses. Não foi o que
      ocorreu. Executado ao abrigo do Programa de Reestruturação do Sistema de
      Logística e Distribuição (Presild), com assessoria da Odebrecht, a rede
      acabou entrando em crise por má gestão, sofrendo desabastecimento, com boatos de falência,
      e suas lojas foram fechadas no fim de 2011. O programa, da forma como
      estava concebido, não era sustentável, pois tinha custos bastante
      elevados, reconheceu a ministra do Comércio, Idalina Valente. Seis anos depois de ter entregado as lojas ao governo, a Odebrecht recebeu a concessão de exploração da rede, na qual grande parte dos produtos é importada. Segundo reportagem do jornal O País,
      há incapacidade de fornecimento de produtos nacionais. “O abastecimento
      tem sido débil. Temos recebido produtos, uma vez ou outra. No Nosso
      Super sempre foi assim. O fornecimento e o abastecimento continuam a ser
      os mesmos. Nada mudou. Só subiram os preços”, informou ao jornal uma funcionária do Nosso Super.



      Outro exemplo de investimento frustrado é o aeroporto internacional
      de Catumbela, na província de Benguela, oeste do país, que fica a apenas
      20 quilômetros de outro aeroporto, o 17 de Setembro, este encravado na
      zona mais elevada da cidade. O aeroporto “internacional” foi inaugurado
      em 27 de agosto de 2012 com fanfarra: o próprio presidente
      foi ao local para o evento, realizado a quatro dias das eleições
      presidenciais. Ambicioso, o projeto previa colocar Benguela no mapa
      internacional, com rotas de voo de diversos países e capacidade para
      atender mais de 900 pessoas por hora. O investimento total, segundo o
      site Rede Angola, foi de US$ 250 milhões – metade garantido via
      empréstimo do BNDES. Mas, dois anos depois da inauguração, faltavam ainda
      o terminal de carga, instalações para alfândega e montagem de
      equipamentos. Por isso, até hoje a Associação Internacional do
      Transporte Aéreo (IATA) não certificou o aeroporto. Hoje, atende apenas
      voos domésticos para Luanda. “Não temos voos suficientes para aproveitar
      o potencial que existe na província de Benguela”, reconheceu o ministro
      de Transportes no ano passado. O outro aeroporto, que antes atendia
      vôos nacionais, hoje só abre alguns dias da semana e é usado por
      autoridades e vôos privados.



      Aeroporto de Catumbela. Foto: José Alves/ Rede Angola

      Aeroporto de Catumbela. Foto: José Alves/ Rede Angola

      Uma obra contratada para revolucionar a baía de Luanda – a Marginal
      Sudoeste – também está parada. O primeiro projeto, a construção de
      pontes para permitir a construção da marginal (baixe aqui o decreto presidencial),
      recebeu financiamento de R$ 21 milhões do BNDES. Mas a marginal, em si,
      nunca saiu do papel. Hoje, o trecho reservado a ela, de 8 quilômetros
      entre a praia do Bispo e o largo da Corimba, na baía da capital
      angolana, parece um cenário apocalíptico: onde antes havia um musseque
      com milhares de pessoas, o bairro da Chicala, sobraram destroços das
      casas, derrubadas violentamente por tratores por noites a fio; sobre
      elas, alguns antigos moradores fizeram barraquinhas para vender comida e
      refrigerantes.



      “A construção da Via Marginal Sudoeste foi dividida em duas etapas. A
      primeira, objeto do financiamento citado, foi concluída em agosto de
      2012. A Construtora Norberto Odebrecht também foi contratada para
      execução da segunda etapa do empreendimento, que contempla os trabalhos
      de aterro hidráulico, proteção costeira, pavimentação, iluminação
      pública e outros. Esta etapa ainda não foi iniciada”, explicou por
      e-mail o coordenador de sustentabilidade da Odebrecht, Paulo Campos.



      Foi Paulo, um elegante e gentil executivo carioca, quem ciceroneou a
      reportagem durante uma viagem de quatro dias, em setembro do ano
      passado, à maior zona contínua de atuação da empresa no país, às margens
      do caudaloso rio Kwanza. Um verdadeiro mergulho no coração da Odebrecht
      em Angola.



      Passeio no rio da Odebrecht

      O carro 4×4, cinza-chumbo, chega antes das 6 horas da manhã. A saída
      de Talatona, cujo traçado urbano é composto de longos desvios nas suas
      avenidas de mão única, não ajuda. Antes de conseguirmos sair de Luanda,
      engarrafamento, caos, atropelamento – passa pelo menos uma hora. Aos
      poucos, a paisagem se transforma, os musseques, candongueiros
      (vans) e zungueiras (mulheres que vendem verduras nas bacias que trazem à
      cabeça) vão dando lugar a terrenos secos, repletos de embondeiros, ou
      baobás, árvore-símbolo de Angola.



      Chegar à província de Malanje, onde corre o médio Kwanza, a bordo de
      um carro da Odebrecht significa a certeza de acesso não só aos canteiros
      de obras como às comunidades nas redondezas. Acesso que parece fechado
      para todos aqueles que não contam com tal sorte. E não é que a
      reportagem não tenha tentado. “Não temos nenhum trabalho nas comunidades
      afetadas”, explicou-me por telefone a representante da ONG Adra – Acção
      para o Desenvolvimento Rural e Ambiente, que defende direitos dos
      camponeses. “Mas apresentamos um projeto para a Odebrecht e, quem sabe,
      vamos começar em breve um trabalho lá.” No mesmo dia, um jornalista
      local desculpou-se por não poder nos levar até as comunidades: apenas
      visitas registradas e autorizadas pelo governo podem circular
      livremente.



      A estrada é errática: no começo, uma pista foi desativada pela
      construtora chinesa, enquanto as duas mãos dividem um espaço exíguo. De
      repente, o asfalto acaba. “A empresa que ia construir faliu”, explica o
      motorista Frederico Huambo, que viaja toda semana diversas vezes para o
      leva e traz da Odebrecht. O asfalto volta no último terço, construído
      pela Odebrecht.



      Chegando à usina de Cambambe, um vistoso paredão marca a última etapa da reabilitação, com elevação de 30


      • O Rio Kwanza e as turbinas de Cambambe. Foto: Eliza Capai/Agência Pública

      metros do dique e ampliação da represa em 2 km2.


      A obra promete aumentar em dez vezes a capacidade da usina, construída pelos portugueses na época colonial, chegando a uma potência máxima de 960 MW de energia.


      Somos recebidas com um farto café da manhã no restaurante VIP da
      obra. Lá fora, um belo deque de madeira dá vista para o reservatório e a
      parte de trás do vertedouro. O consórcio liderado pela Odebrecht, junto
      às empresas Voith, Alstom e Engevix, recebeu o maior desembolso feito
      até agora pelo BNDES para Angola: US$ 464,4 milhões. De repente, nos
      apressam: “Precisamos ir, temos muito o que ver”. Ao nos aproximarmos de
      um edifício branco, alguém comenta: “As crianças estão esperando”.
      Quando abrem a porta – somos um grupo de cerca de dez pessoas, incluindo
      os diretores –, cerca de 20 crianças estão de pé olhando para nós. Ato
      contínuo, começam a cantar forte, desafinadas, batendo palmas num
      esforço treinado para nos impressionar. “Sejam bem-vindos, vossa
      presença é um prazer”.



      A professora acompanha com um pandeiro. “Uma salva de palmas. As
      crianças do projeto Xalenu Kyambote são todas aqui da vila, temos a sala
      de alfabetização para crianças, temos curso também de informática,
      inglês e francês”, diz a professora, sob aplausos. As crianças continuam
      cantando quando fechamos a porta. Na sala contígua, três mulheres estão
      sentadas à máquina de costura, entretidas. Ganhamos um caderno e uma
      bonequinha de pano como lembrança. O desfile de projetos sociais segue: a
      Odebrecht beneficia 67 famílias com um programa de agricultura
      familiar, o PAF. “Todos os vegetais dos refeitórios vêm daqui”, diz o
      gerente de contrato Gustavo Belitardo. “Fazer hidrelétrica pra quem
      precisa é a maior satisfação que pode ter.”



      No início da noite, chegamos a Laúca, uma cidade inteira no meio da
      savana. De longe, se vê o clarão amarelado de energia elétrica, onde não
      há nem uma chama em quilômetros. Somos hospedadas na espaçosa casa de
      convidados, com quartos luxuosos, ar-condicionado, TV de tela plana – e
      um cartãozinho de boas-vindas, ao lado de uma caixinha do Boticário com
      um sabonete rosado e hidratante de marshmallow.



      “Tá parada”

      Numa manhã calorenta, o tour do dia será conhecer a Biocom,
      principal e mais vistoso empreendimento do Pólo Agroindustrial de
      Capanda, projeto considerado prioritário pelo governo angolano, com uma
      área de 411 mil hectares. A Odebrecht foi contratada para administrar o
      pólo por US$ 49 milhões, em abril de 2011, segundo o Diário da República (baixe aqui o decreto).
      A cerimônia de assinatura teve a presença dos ministros da Agricultura,
      Desenvolvimento Rural e Pesca e Urbanismo e Construção, amplamente
      divulgada na controlada imprensa angolana.



      No entanto, a paisagem desoladora – os pequenos vilarejos de casas de
      barro dão lugar a um imenso vazio – demonstra que o projeto está longe
      de render os frutos prometidos. De repente, avistamos uma fazenda – a
      placa que indica “Pugo Andongo”. Paulo Campos pergunta para o motorista
      Frederico Huambo: “Não tá acontecendo nada aí na Fazenda Pungo Andongo,
      né?” “Tá parada”, responde Frederico.



      A fazenda, de 33 mil hectares, chegou a ser o cartão-postal do pólo.
      Foi inaugurada em 2006 – novamente com a presença do presidente José
      Eduardo dos Santos. A promessa de revolucionar a agricultura angolana
      ganhou destaque nos jornais, e uma parceria com a Embrapa, para a
      reprodução de sementes e treinar técnicos angolanos em experimentação
      agrícola, foi bastante celebrada na comunicação institucional da Odebrecht. O site oficial
      mostra como últimos “resultados” da Pungo Andongo a safra de 2010-2011,
      que produziu cerca de 5 mil toneladas de milho. O que aconteceu depois?
      Não se sabe. “Não existem informações oficiais sobre a execução desse
      projeto nem sobre o que se está a produzir”, critica Carlos Cambuta,
      coordenador de projetos da Adra. “A verdade é que estamos a caminhar
      para o terceiro, quarto, quinto ano do PAC e ainda não temos visto os
      resultados. Pode ser que tenham estudado, mas os resultados não foram
      compartilhados.”



      A Embrapa explicou à Pública que assinou um
      memorando em 2008 com a Odebrecht para viabilizar o convênio, mas ele
      venceu em 2013 sem ser executado. A Odebrecht limitou-se a informar que
      “a fazenda Pungo Andongo é objeto de uma concessão para implantação de
      um pólo avícola e está em fase de estudos”.




      Usina de acúcar Biocom. Foto: Eliza Capai/Agência Pública

      Já a Biocom nos recebe em pleno funcionamento. A usina de
      cana-de-açúcar nasceu grandiosa, em 2008, com a promessa de produzir 60%
      do açúcar consumido em Angola, uma produção de 256 mil toneladas por
      ano. Somente seis anos e US$ 1 bilhão de investimentos depois, ela fez
      sua primeira plantação experimental, de 3,2 milhões
      de toneladas em 2014. Mas a grande estrela do Pólo Agroindustrial
      ganhou triste notoriedade no Brasil nos últimos anos: em junho de 2014,
      depois de uma reportagem do jornalista João Fellet, da BBC, foi denunciada pelo Ministério Público do Trabalho
      no Brasil por manter cerca de 400 empregados brasileiros em condições
      análogas à escravidão, mediante aliciamento e tráfico internacional de
      pessoas. Os trabalhadores denunciaram sujeira nos banheiros e cozinha,
      longas jornadas de trabalho e o isolamento – no meio do PAC, eram
      vigiados por seguranças armados.



      Em 1o de setembro de 2015, a Odebrecht foi condenada a
      pagar uma indenização de R$ 50 milhões aos trabalhadores. No dia
      seguinte, chegamos à usina. Fernando Koch, diretor de sustentabilidade
      da Biocom, um brasileiro com anos de trabalho na Odebrecht, está
      irritadíssimo. “Isso é um absurdo. Não é verdade”, repete. “Os angolanos
      estão com vergonha da nossa imprensa”, diz. O telefone toca diversas
      vezes, com mais pedidos de entrevistas sobre o caso. Ele vocifera: “As
      provas que nós juntamos no processo não foram em momento algum
      mencionadas pelo juiz”. A Odebrecht recorreu, negando todas as
      acusações.



      No entanto, o fato mais grave – e reconhecido pela empresa – tem raiz
      na profunda aliança com o Estado angolano. Contratados para trabalhar
      durante alguns meses, os operários chegavam a Angola com um visto
      ordinário, e seus passaportes eram entregues ao Serviço de Migração e
      Estrangeiros de Angola (SME). Sem os passaportes, os
      funcionários alegaram ter cerceado seu direito de mobilidade. “A lei que
      diz que empresas de interesse nacional têm o direito de expatriar
      pessoa com o visto ordinário para que o visto de trabalho seja tramitado
      em Angola”, conta Koch. “O período que a pessoa fica sem o passaporte,
      ela tem um recibo do SNE que tá lá dizendo que ele pode circular
      tranquilamente pelo país.”



      Entre uma reclamação e outra, Koch nos mostra os alojamentos dos
      atuais empregados – bem-apresentados, limpos, amplos. Na colheita, ele
      nos leva até a “área de convivência”, uma van de alumínio pintada de
      azul. E vai perguntando para a única operadora de colheitadeira mulher:
      “O que você acha da Biocom?”. Ao que ela responde: “Muito bom, a Biocom
      veio aqui para ajudar a gente. Antes não tinha emprego, agora tem, todo
      mundo tá trabalhando”. Pouco depois, Koch interrompe outro trabalhador,
      brasileiro, diante dos laboratórios da indústria: “Você gosta de
      trabalhar aqui?”. “Sim, muito”, ele responde, recebendo um encorajador
      tapinhas nas costas.



      Empreendimento de interesse nacional, a Biocom nasceu de uma aliança
      da Odebrecht com a estatal petrolífera Sonangol e a empresa Damer
      Industrial S.A. Segundo documentos constantes em um inquérito conduzido
      pela Procuradoria Geral de Portugal em 2014 aos quais a Pública teve
      acesso (Baixe aqui: Página 1, 2, 3, 4, 5, 6,
      7), a empresa pertence ao ao hoje vice-presidente, José Manuel Vicente,
      além do general Manuel Helder Vieira Dias, o poderoso Kopelipa, chefe
      da Casa Militar da Presidência, e o general Leopoldino Fragoso do
      Nascimento, o “Dino”. A Damer tinha 40% do negócio – o que fere a lei
      angolana da Probidade Pública, já que seus sócios mantinham cargos no
      governo.



      General Leopoldino Fragoso, "Dino", sócio da Biocom. Foto: Divulgação

      General Leopoldino Fragoso, “Dino”, sócio da Biocom. Foto: Divulgação

      Com base nisso, Rafael apresentou uma queixa-crime para a
      Procuradoria-Geral da República de Angola. “Recebi resposta de que esses
      dirigentes não eram sócios da Biocom, incluindo o general Leopoldino
      Fragoso”, diz (baixe aqui a resposta da Procuradoria).
      Fragoso foi nomeado consultor do general Kopelipa em setembro de 2010,
      quando a Biocom já caminhava, segundo a revista americana Foreign Policy.
      Já o vice-presidente Manuel Vicente era, na época, presidente da
      Sonangol. “Os dirigentes na presidência facilitaram o negócio pra
      ficarem com parte da sociedade. É um ato de corrupção claro”, diz
      Rafael.



      Hoje, o nome da Damer sumiu das brochuras da Odebrecht, e não se fala mais nisso. Foi substituída por outra empresa, o grupo Cochan, com sede em Cingapura, cujo presidente é o mesmo general Leopoldino Fragoso. Em entrevista à revista Foreign Policy, o general “Dino” reiterou que, hoje, não ocupa mais nenhum cargo público. À Pública,
      a empreiteira diz que a alteração societária foi feita em 10 de outubro
      de 2014, “não sendo do conhecimento da Odebrecht o motivo da
      transferência”.



      A Damer gráfica, que também é de Manuel Vicente, segundo
      os documentos da PGR portuguesa, foi reformada pela Odebrecht em 2009. A
      queixa-crime no Ministério Público foi arquivada pelo juiz em janeiro
      de 2013 “pela inexistência de quaisquer indícios de veracidade”.



      “Nenhum órgão público investigou absolutamente nada em 30 anos de Odebrecht em Angola”, diz Rafael Marques.


      Laúca é um espetáculo

      Conhecer a hidrelétrica de Laúca e todos os projetos a ela associados, ponto alto e final do tour, levou quase dois dias.


      Laúca é a hidrelétrica definitiva de Angola. Projetada para produzir
      2.070 MW, ela vai dobrar a oferta de energia elétrica, gerando
      constantemente 1.200 MW, e promete acabar com a penosa economia à base
      de geradores.



      Laúca é tão importante que recebe um desfile de autoridades todo ano.
      Em junho de 2012, o então ministro de Estado Manuel Vicente lançou a
      pedra fundamental junto com uma comitiva
      de ministros e a embaixadora do Brasil. Em setembro de 2014, o
      presidente José Eduardo dos Santos visitou as obras da barragem, sendo
      recebido por milhares de pessoas; na ocasião, houve até uma reunião do
      conselho de ministros no canteiro da obra da Odebrecht. Um ano depois, foi a vez
      da ministra da cultura Rosa Cruz e Silva. A contar o histórico de obras
      da empreiteira em Angola, o desfile deve se acelerar em 2017, ano de
      eleições para presidente.



      A construção da hidrelétrica marca o auge de uma era de empréstimos
      do BNDES para obras de construção em Angola. Ela é o maior financiamento
      cedido desde 2002 para um só empreendimento. Será de mais de US$ 2
      bilhão de dólares, segundo anunciou
      Dahia Blando. O BNDES reconhece apenas uma parcela desse valor. Um
      investimento de US$ 146 milhões, já desembolsados, e outro no valor de
      US$ 500 milhões – o que não lhe tira a liderança nos empréstimos. (Leia Mais: A equação brasileira)



      Há ainda um financiamento do Deutsche Bank de US$ 1,4 bilhão, e o valor total é de mais de US$ 4 bilhões.


      A obra é tratada com visível carinho pela equipe da Odebrecht em
      Angola. As cerca de 60 famílias que terão de ser removidas já participam
      de discussões sobre como serão as casas a ser construídas, que terão
      estrutura de saneamento básico, uma escola, um posto médico e estradas
      de acesso. Uma enorme melhoria em relação à situação atual, garante
      Maria Tchikanha, a eficiente engenheira agrônoma que é responsável pelo
      setor de responsabilidade social da AH Laúca. “Fizemos um levantamento
      socioeconômico na área, e o que verificamos é que as comunidades eram
      mesmo paupérrimas. Para além de não ter rendimento, não tinha saneamento
      básico, não tinha escola, não tinha nada, viviam só de subsistência”,
      diz Maria. “O governo começou a construir uma escola, não terminou, por
      alegada falta de verbas. Construíram um hospital que vivia fechado. Não
      tinha nenhum mercado para poder comprar um produto. As pessoas viviam
      aqui de cavar poço e das mandioqueiras.”



      Estamos diante da escola da comunidade do Muta, na estrada que leva a
      Malanje, cuja obra foi terminada pela Odebrecht. Não é à toa que,
      quando entramos em uma das classes onde cerca de dez meninos e meninas
      assistem à aula, eles respondem em coro:



      – Vocês sabem o que é o Brasil?


      – Nãããããao!


      – Vocês sabem o que é a Odebrecht?


      – Laúca!


      – E pra que estão fazendo Laúca?


      – Pra produzir energia…


      – E vocês já têm energia em casa?


      – Nããããããããao – gritam em uníssono.


      Fechando a porta da escola, Maria mostra um bebedouro com algumas
      torneiras e tanques, o “fontanário” construído pela Odebrecht que
      atende, como a escola, cinco comunidades que ficam até 2 quilômetros de
      distância. O plano inicial, diz, era requalificar todas as comunidades,
      garantindo a provisão de luz e água de maneira mais eficiente. A
      terraplanagem até começou, mas foi interrompida por ordens superiores.
      “Seria obrigação do governo provincial dar energia às comunidades”,
      explica Maria. “Nós temos que trabalhar sempre junto com o governo.”



      Camponeses do projeto KUkala Ku Moxi posam para as câmeras. Foto: Eliza Capai/Agência Pública

      Camponeses do projeto KUkala Ku Moxi posam para as câmeras. Foto: Eliza Capai/Agência Pública

      Visitamos também comunidades que fazem parte do projeto social Kukala
      Ku Moxi, pelo qual homens e mulheres de 700 famílias foram capacitados a
      plantar uma variedade de verduras inexistente na região. A cada duas
      semanas, a Laúca realiza uma feira no canteiro de obra, e as mulheres
      vendem o que podem, chegando a até 45 mil kwanzas por viagem.
      As verduras servirão ao enorme refeitório, onde os cerca de 4 mil
      funcionários comem 15 mil refeições por dia. As hortas que visitamos são
      vistosas, e as mulheres, sorridentes. “Na minha lavra tem mandioca,
      milho, jingunba, todo tipo de produtos. E assim pra comer aqui graças a
      Odebrecth”, diz Maria Celeste, uma das lavradoras apontadas como
      entrevistadas pela equipe de comunicação.



      A enormidade da obra é clara enquanto rodamos pelo canteiro; os
      trabalhadores angolanos que esperam à beira da estrada pelo transporte
      provido pela empresa – transporte público é inexistente –, devidamente
      uniformizados e com capacetes, parecem formiguinhas na enormidade da
      obra. Apenas o muro de concreto para a barragem terá utilizado, ao
      final, o equivalente a dez prédios de oito andares. Tudo é majestoso,
      organizado e bem-apresentado. O canteiro de obras tem salão de beleza,
      quadras esportivas, academia de ginástica, cinema, posto de saúde e
      equipe médica. O projeto inclui ainda tanques de tilápia, piscicultura,
      que abriga mão de obra da região; um enorme canteiro onde mudas locais
      são reproduzidas para ser replantadas, e um impressionante sistema de
      reúso de água reaproveita quase 40% do total da água utilizada. Os
      cuidados com a segurança são coroados com a presença da mascote
      “Javaluca”, um desenho com o capacete da Odebrecht cujas dicas estão
      espalhadas em cartazes e nas revistinhas mensais publicadas pela
      administração da hidrelétrica.



      O diretor de contrato, Marcus Azeredo, não esconde seu orgulho ao
      conversar com a reportagem. “A nossa central de britagem é a maior do
      mundo em operação; a nossa central de concreto é uma das maiores do
      mundo, com capacidades elevadíssimas. Coisas desse tipo nos permitiram
      dar para Laúca uma forma diferente de construir uma hidrelétrica.
      Extremamente moderna, extremamente qualificada”, diz. De cabeça, o
      engenheiro lista o cronograma da obra – e é enfático: não há nenhuma
      possibilidade de atraso.



      “Em julho de 2017 nós entramos com duas unidades de energia; em
      agosto, mais duas, e setembro, as últimas duas”, diz. Juntas, as seis
      unidades correspondem a 2 mil MW. Ao mesmo tempo, a Odebrecht constrói
      mil quilômetros de linhas de transmissão que prometem levar a energia
      até Luanda. “A linha fica pronta junto com Laúca”, garante Azeredo. “É
      um cronograma extremamente desafiador. Se nós conseguirmos, e vamos
      conseguir, gerar energia aqui nesse prazo, que é um prazo de 56 meses
      para a produção de energia, nós vamos ser mais eficientes que a própria
      construção que nós estamos fazendo no Brasil”, diz.



      Ali na casa de visitas, onde estamos hospedadas, é frequente a
      presença de jornalistas, conta o diretor. “Acho que não tem uma semana
      que a gente não receba. E, quando eles não vêm, a gente convida a mídia.
      A gente abre as portas justamente para que possa se divulgar para o
      país tudo o que o governo tá fazendo”, diz. O relatório anual 2014 da
      Odebrecht respalda a sua impressão: naquele ano, cerca de 98% das
      notícias sobre a empreiteira na imprensa angolana foram positivas. O que
      o relatório não menciona é que, no país, há um único jornal diário, o
      estatal Jornal de Angola, e que as TVs abertas se resumem à TV
      pública, TPA, a TV Zimbo, privada, que tem como acionista o
      vice-presidente, Manuel Vicente, segundo levantamento de Rafael Marques.



      A cobertura positiva tem razão de ser, aos olhos de Azeredo: o
      empenho de Laúca em melhorar a vida das pessoas. “Temos um alojamento de
      excelente qualidade, todos os quartos praticamente são suítes, e no
      máximo quatro pessoas por quarto, todos com ar-condicionado, chuveiro
      com água quente. A qualidade da alimentação aqui é excelente. Investimos
      em equipamentos novos, pagamos um bom salário, pagamos prêmio de
      produtividade…”, diz.



      “Eu diria que, se não tivéssemos esse tipo de condição, nós não
      conseguiríamos fixar essa mão de obra aqui e aí teríamos um problema
      sério com nosso cronograma”, completa.



      Laúca vai sair, garantem todos, durante a nossa despedida. E só uma
      voz solitária, entre os funcionários da Odebrecht, fala alto o que
      poucos se arriscam a dizer. “Tem que ficar pronta. Vai estar a produzir
      energia no ano de eleger o presidente. E ele já tá com 73 anos…”.



      De fato, pouco depois o presidente José Eduardo dos Santos determinou  que
      as eleições presidenciais serão em agosto de 2017 – um mês após a
      inauguração de Laúca. E haverá festa, haverá cerimônia e manchetes em
      toda a mídia angolana.






      umbunzeiro_angola (1)


      Leia mais: Medo e controle em Angola


      Leia mais: A equação Brasileira


      Assista à websérie: É proibido falar em Angola




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      O maior mistério da Olimpíada


      |
      por
      |
      30 de maio de 2016
      Seis vigas de aço pesando 110 toneladas simplesmente desapareceram em
      meio às obras para o Porto Maravilha. Nosso repórter foi atrás dessa
      história e da fracassada investigação policial

























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    Comunismo


    Rui Barbosa



    De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.



    Os grilhões que nos forjavam


    Da perfídia astuto ardil...


    Houve mão mais poderosa:


    Zombou deles o Brasil!



    Consagração no Rito Bizantino - Igreja Ortodoxa
    Publicado em 29 de jul de 2014Consgração do Pão e Vinho, transformado em Carne e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, em uma Divina Liturgia celebrada por Sua Santidade, o Patriarca Cirilo, de Moscou e toda Rus'.
    Publicado por Vale de Beracá em Sábado, 9 de janeiro de 2016

    Não é o suplício que faz o mártir, mas a causa. (Santo Agostinho)


    • http://deiustitia-etfides.blogspot.com.br/


    -






    Da Justiça a clava forte

    https://www.facebook.com/ditadura.fsp











  • “Esta seita de homens que, debaixo de nomes diversos e quase bárbaros se chamam socialistas, comunistas ou niilistas, e que, espalhados sobre toda a superfície da terra, e estreitamente ligados entre si por um pacto de iniquidade, já não procuram um abrigo nas trevas dos conciliábulos secretos, mas caminham ousadamente à luz do dia, e se esforçam por levar a cabo o desígnio, que têm formado de há muito, de destruir os alicerces da sociedade civil. É a eles, certamente, que se referem as Sagradas Letras quando dizem: “Eles mancham a carne, desprezam o poder e blasfemam da majestade” (Jud. 8)”.




    A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.

    • Ruy Barbosa








    Alma de Cristo, santificai-me.

    Corpo de Cristo, salvai-me.

    Sangue de Cristo, inebriai-me.

    Água do lado de Cristo, lavai-me.

    Paixão de Cristo, confortai-me.

    Ó bom Jesus, ouvi-me.

    Dentro de Vossas chagas, escondei-me.

    Não permitais que me separe de Vós.

    Do espírito maligno, defendei-me.

    Na hora da minha morte, chamai-me.

    E mandai-me ir para Vós, para que Vos louve com os vossos Santos, por todos os séculos dos séculos.

    Amém.



    Nossa Senhora de Medjugorje


    Posted: 05 Apr 2016 12:06 PM PDT

    MENSAGEM DA RAINHA DA PAZ EM 2 DE ABRIL DE 2016, À MIRJANA:

    “Queridos filhos! Não tenham corações duros, fechados e cheios de medo. Permitam ao Meu amor materno iluminá-los e preenchê-los de amor e de esperança, a fim de que, como Mãe, Eu cure as suas dores, pois Eu as conheço, por tê-las experimentado. A dor eleva e é a maior oração.

    Meu Filho ama, de modo especial, aqueles que sofrem. Ele Me enviou para curá-los e trazer-lhes a esperança. Confiem Nele! Eu sei que é difícil para vocês, porque veem sempre mais escuridão ao seu redor. Filhinhos, é necessário destruí-la pela oração e pelo amor. Aquele que reza e ama não tem medo, mas esperança e um amor misericordioso que vê a Luz que é o Meu Filho.

    Como Meus Apóstolos, convido-os a tentarem ser exemplo de amor misericordioso e de esperança. Rezem sempre e novamente, para terem o maior amor possível, porque o amor misericordioso traz a luz que destrói toda a escuridão - traz o Meu Filho. Não tenham medo: vocês não estão sozinhos: Eu estou com vocês!

    Eu imploro a vocês para rezarem pelos seus sacerdotes, a fim de que, em cada momento, eles tenham amor e ajam com amor, pelo Meu Filho -- através Dele e em memória Dele. Obrigada."













    - A BÍBLIA CONFIRMA A IGREJA


    “Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal.” (2 Pedro 1,20)-
    “Escrevo (a Bíblia) para que saibas como comportar-te na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o fundamento da Verdade.” (1Timóteo 3,15) -
    “Tu és Pedra, e sobre essa Pedra edifico a minha Igreja (...). E eu te darei as Chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus.”(Mateus 16, 18) -
    “...Vós examinais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna. Pois são elas que testemunham de Mim, e vós não quereis vir a Mim, para terdes a vida.”(João 5,39-40) -
    “Em Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, apartai-vos de todo irmão que não anda segundo a Tradição que de nós recebeu.” (2 Tessalonicenses 3,6) -
    “Então, irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavra (Tradição), seja por epístola nossa (Bíblia). ”(2 Tessalonicenses 2, 15) -
    “(Pedro,) apascenta o meu rebanho.” (João 21,15-17) -
    “Irmãos, sabeis que há muito tempo Deus me escolheu dentre vós (Apóstolos), para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho.” - S. Pedro Apóstolo, primeiro Papa da Igreja de Cristo(Atos dos Apóstolos 15, 7) -
    “Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, confirma os teus irmãos.” - Jesus Cristo a S. Pedro (Lucas 22, 31-32) -
    “De hoje em diante, todas as gerações me proclamarão Bem-aventurada.” - Maria, a Mãe de Nosso Senhor (Lucas 1, 48) -
    “Ainda que nós ou um anjo baixado do Céu vos anuncie um evangelho diferente do nosso (Apóstolos), que seja anátema.” (Gálatas 1, 8) -
    “Em Verdade vos digo: se não comerdes da Carne e do Sangue do Filho do homem, não tereis a Vida em vós mesmos.” (João 6, 56) -
    “Minha Carne é verdadeiramente comida, e o meu Sangue é verdadeiramente bebida.”(João 6, 55) -
    “O Cálice que tomamos não é a Comunhão com o Sangue de Cristo? O Pão que partimos não é a Comunhão com o Corpo de Cristo?” (1ª aos Coríntios 10, 16) -
    “E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos, da mão do anjo, diante de Deus.” (Apocalipse 8, 4) -
    “Aqui (no Céu) está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os Mandamentos de Deus e a Fé em Jesus.” (Apocalipse 14, 12) 
    - Porque já é manifesto que vós (a Igreja) sois a Carta de Cristo, ministrada por nós (Apóstolos), e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (...); o qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica. (2Cor 3,3.6) - 

     



    Mário Kozel Filho


    “Servi ao Senhor com respeito e exultai em Sua Presença; prestai-lhe homenagem com temor.” (Sl 2,11)
    †   †   †
    Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo; adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos Méritos Infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.

    GRAÇAS E LOUVORES SE DEEM A TODO MOMENTO, AO SANTÍSSIMO E DIVINÍSSIMO SACRAMENTO!

    Gruta de Lourdes

    Signis et portentis mendacibus

    Botafogo

    É tradição, não é moda. #soufogao #redesocial #botafogo #pracimadeles #fogoeuteamo #seusidolossaotantos #omaistradicional #naosecompara

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