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  • TU ES PETRUS ET SUPER HANC PETRAM AEDIFICABO ECCLESIAM MEAM

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A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las. (Santo Agostinho) 




Não é o suplício que faz o mártir, mas a causa. (Santo Agostinho)

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Benedicat tibi Dominus et custodiat te
Ostendat Dominus faciem suam tibi, et det tibi gratiam suam:
Volva Dominus vultum suum ad te et det tibi pacem


“A guerra é um massacre de homens que não se conhecem em benefício de outros que se conhecem mas não se massacram.”

— Paul Valéry




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  • Terrorista: Deus é maior… Jovem: …do que aquele que esconde o que não revela. Terrorista: Deus é maior… Mulher: …do aquele que obedece sem refletir. Terrorista: Deus é maior… Homem: …do que aquele que trama para nos trair.

    Tradutores de Direita

    sábado, 1 de abril de 2017

    Arqueólogos e peritos policiais investigam casas de Lutero e descobrem fatos sobre o fundador do protestantismo



    A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.


    Santo Agostinho



























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    segunda-feira, 27 de março de 2017



    Arqueólogos e peritos policiais investigam casas de Lutero e descobrem fatos sobre o fundador do protestantismo


    Casa natal de Lutero em Eisleben




    Luis Dufaur


    Escritor, jornalista,

    conferencista de

    política internacional,

    sócio do IPCO,

    webmaster de

    diversos blogs







    A arqueologia às vezes traz surpresas onde menos se imaginaria. É o caso, ao menos, da vida privada do heresiarca Martinho Lutero, fundador do protestantismo.

    O "Der Spiegel", a maior revista alemã, já publicou singular reportagem com fundamento arqueológico e policial, sobre o iniciador da Revolução Protestante cujos 500 anos se comemoram em 2017.

    As descobertas fizeram parte duma exposição que verteu nova luz sobre a vida privada do frade que abandonou sua religião, informou Der Spiegel. A amostra ficou aberta ao público no Museu de Pré-História do Estado Alemão em Halle, entre 2008 e 2009.

    Compreende-se que não tenha durado muito.

    O catálogo descreve o conteúdo da exibição como "sensacional", dizendo que ele nos permite reexaminar "capítulos inteiros da vida humana" do ex-frade, escreveu Der Spiegel. As escavações no Mosteiro de Wittenberg onde ele viveu longamente foram conduzidas pelo arqueólogo Mirko Gutjahr.

    Peritos legais e arqueólogos analisaram com critérios policiais o lixo das casas em que nasceu, viveu e morreu o instigador da revolta protestante, em Eisleben, Mansfeld e Wittemberg, na Alemanha.

    O laudo técnico constatou desonestidade nas descrições que o pai do protestantismo fez de si próprio.

    Por exemplo, provou que Lutero mentiu dizendo ser filho de um “minerador pobre” cuja “mãe carregava toda a madeira nas costas até em casa”.




    Antigo mosteiro agostiniano em Wittemberg expropriado pela revolta protestante

    onde Lutero viveu grande parte de sua vida em revolta contra a Igreja.

    Na verdade, o pai de Lutero dirigia fundições de cobre, tinha boas conexões com a administração real das minas, era agiota e dono de terras. Escreveu o Speigel:

    Em 1484, quando Martinho Lutero ainda era criança, a família se mudou para Mansfeld, onde o pai logo se tornou um capataz bem sucedido.

    Ele operava três fundições de cobre, era dono de 80 hectares (198 acres) de terra e emprestava dinheiro a juros.

    O tamanho e grandiosidade de sua casa, conforme revelou a escavação, estavam de acordo com seu status econômico.

    "A frente da casa, que dava para a rua, tinha 25 metros de comprimento", diz o arqueólogo Björn Schlenker. A escavação revelou grandes cofres no porão e um quintal cercado por grandes construções. As casas em que viveu eram próprias de burgueses ricos.

    Em uma delas encontraram grandes cofres no porão.

    Os brinquedos que Lutero usou quando criança, poucas famílias podiam comprar.

    Sobre seu nível de vida nos últimos anos de existência, a reportagem do Spiegel acrescentou:




    Máscara mortuária de Lutero exibida na igreja do Mercado, em Halle, Alemanha

    O pensador era tremendamente prolífico, escrevendo uma média de 1.800 páginas por ano.


    Seu tom tornou-se cada vez mais brusco com o passar dos anos.

    Ele chamou os turcos de "demônios", os judeus de "mentirosos" e qualificou os sacerdotes católicos de homossexuais "irmãos de jardim que fazem aquilo uns com os outros".

    Roma, escreveu Lutero na sua linguagem habitualmente torpe, estava infestada de "porcos-teólogos".

    Depois de escrever palavras tão afiadas, o eloquente reformista comia em tigelas de cerâmica e bebia de jarras turcas magníficas.

    Os arqueólogos encontraram azulejos de forno decorados com motivos do Velho Testamento, além de mais de 1.600 cacos de copos que Lutero, um glutão voraz, usava para matar sua sede considerável de cerveja. As seitas protestantes obviamente não gostaram da análise e de seus resultados ...








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    • Toda a verdade sobre o protestantismo evangélico




    O Pe Leonel Franca nasceu em 7-1-1893, em São Gabriel, RS.

    Ingressou na Companhia de Jesus em 12-11-1908.

    Em 1912 foi estudar filosofia na Universidade Gregoriana, Roma, onde recebeu o título de Doutor em Teologia (1924).

    Durante sua estadia na Cidade Eterna publicou “A Igreja, a Reforma e a Civilização” (1923).

    Em 1928, fundou a Universidade Católica de Rio de Janeiro, da qual foi Reitor magnífico durante oito anos.

    Rendeu sua alma a Deus em 3-9-1948.



    Pe. Leonel Franca S.J.: “A Igreja, a Reforma e a Civilização”, Livro III, Capítulo III, 1. Igreja, Reforma e Moral:



    A moral escrava dos apetites contraditórios
    “O protestantismo foi o último galho lascado da árvore católica. Seus restos cobrem ainda larga parte da Europa setentrional.

    “Aos olhos de observadores superficiais apresenta ainda o viço de uma verdura luxuriante. Mas são apenas folhas. Flores e frutos já os não produz.

    “A mesma infecundidade moral que esterilizou as outras revoltas religiosas feriu também a do monge saxônio.

    “Procurai os santos do protestantismo em quatro séculos de existência, inquiri do heroísmo dos seus filhos, investigai-lhes os milagres que são sigilo da divindade; não encontrareis, sob estes títulos, senão páginas em branco.

    “Homens honestos, virtudes cristãs que não transcendem os limites da mediocridade, é o mais que nos podem oferecer os seus anais.

    “A graça, nos segredos insondáveis da sua ação sobrenatural, pode ainda fecundar a boa fé e a intenção reta dos extraviados.

    “Mas o segredo do heroísmo cristão, esse perdeu-se para as almas de escol, enquanto as grandes massas, destruídas as barreiras preservadoras, se precipitaram, sob a impetuosidade torrencial das paixões, nos grandes excessos, que cedo ou tarde acarretam a completa, dissolução da vida moral e religiosa.

    “É esta decadência do protestantismo que ora nos cumpre esboçar. Distinguiremos no nosso estudo duas questões: a questão de direito e a questão de fato.



    Martinho Lutero (1483 — 1546). History of the World, 1902.

    “Analisando abstratamente os princípios, provaremos primeiro a incapacidade profunda e insanável em que se acha o protestantismo de promover a grandeza moral dos que o abraçaram e confirmaremos, em seguida, com o exame dos fatos, a verdade das nossas conclusões teóricas.

    “Na ordem natural e na ordem sobrenatural a Reforma protestante golpeou de morte os órgãos vitais da moralidade humana e da moralidade cristã.

    “Na ordem natural, são dois os elementos fundamentais da grandeza de caráter: princípios sólidos e imutáveis a iluminar as alturas da inteligência, força e constância de querer a fortificar as energias da liberdade.

    “Sem a firmeza das verdades eternas que lhe fixam o ideal na corrente movediça das coisas que passam, o homem vive, ou, melhor, flutua à mercê dos acontecimentos.

    “Cada capricho que lhe cruza pelo espírito, inspira-lhe uma resolução passageira, cada paixão, que lhe estua na alma, imprime uma orientação efêmera à sua atividade.

    “No conflito dos apetites contraditórios nenhuma ordem, nenhuma unidade, nenhuma harmonia de tendências, nenhuma subordinação hierárquica de faculdades. é nesta hesitação vacilante acerca dos grandes princípios moderadores da atividade humana que devemos procurar a causa primeira da crise de caracteres de que adoece a nossa civilização.


    “Jouffroy: “Personne n'a du caractère dans ce temps et par une bonne raison, c'est que des deux éléments dont le caractère se compose, une volonté ferme et des principes arrêtés, le second manque et rend inutile le premier”.
    Foi o protestantismo o primeiro a abalar nas almas a estabilidade das convicções. Perguntai ao protestante qual o princípio regulador da sua atividade moral.

    – A Bíblia, responderá, a Bíblia, única regra dos costumes como norma única de fé.

    – Mas a Bíblia quem a interpreta? A razão individual. Se vos apraz, podereis ver no livro divino, com Lutero, a condenação da virgindade, a justificação da poligamia, a inutilidade das boas obras. A razão, pois, a razão subjetiva e mutável ao sabor das paixões, eis, em última análise, a regra de nosso operar.

    “As massas, desvinculadas assim da submissão a uma autoridade superior e incapazes de deduzir pessoalmente do livro inspirado um código de moral, deixar-se-ão levar pela torrente avassaladora dos apetites desregrados.

    “Os cultos, os intelectuais, vagando à mercê das variações da crítica racionalista, erigirão os próprios preconceitos em mandamentos étnicos, construirão uma moral “independente” e oscilante sobre a areia movediça dos sistemas filosóficos.



    Lutero, ex-frade agostiniano, tocando alaúde

    junto a sua mulher Catarina, ex-freira, e filhos

    “Para o jovem inebriado com os primeiros fumos da ciência, as regras aprendidas e praticadas na infância já não apresentam a solidez racional capaz de resistir aos embates críticos dos moderníssimos mestres do pensamento.

    “O homem maduro achar levianas e superficiais as conclusões assentadas nos fervores entusiastas da juventude. Ao velho experimentado e desiludido afigurar-se-ão inconsistentes e eivadas de orgulho as construções morais de sua virilidade.

    “Destarte, de povo para povo, de época para época, de indivíduo para indivíduo, de idade para idade, os princípios morais variarão com a índole, com os caprichos da moda intelectual, com as paixões que agitam e diversificam as massas humanas no espaço e no tempo.

    “O protestantismo em quatro séculos de existência, como não logrou assentar uma confissão de fé que reunisse o sufrágio universal das inteligências, assim não conseguiu estabelecer um código de moral que se impusesse à submissão de todas as vontades.

    “A sua moralidade furta-côr, o seu preceituário de mil fórmulas cambiantes, os seus mandamentos entregues à versatilidade interesseira do egoísmo, arvorado em norma suprema de ação, comprometeram irremediavelmente no domínio intelectual a eficácia regeneradora dos grandes e imutáveis princípios do cristianismo”.

    Citação: ”L'homme est toujours disposé à échapper à la morale, et il y échape quand cette morale n'est pas liée à une doctrine invariable”, De Broglie, Problèmes et conclusions de l'histoire des religions, Paris, 1886, pp. 115-116.




    Lutero: golpe contra a vontade


    Lutero: “a vontade do homem é semelhante a um jumento.
    Deus opera em nós o mal”
    Mais profundo ainda foi o golpe vibrado contra a vontade. O espírito, desenfreara-o Lutero com o livre exame; a liberdade, encadeou-a nos elos de um determinismo fatal.

    Esse homem, que uma crítica míope e pertinazmente hostil à Igreja proclamou o arauto das liberdades humanas, o emancipador dos povos livres, professa as teorias mais degradantes acerca do livre arbítrio, rebaixa a dignidade da nossa natureza ao nível do bruto, ao mecanismo inconsciente dos autômatos.

    Para a Igreja católica o homem é livre. O pecado original vulnerou-lhe a prerrogativa divina, mas não a destruiu.

    Na revolta das paixões desencadeadas pela primeira prevaricação, na insurreição da concupiscência e dos apetites inferiores contra os ditames superiores do espírito, a vontade, debilitada sim, mas não aniquilada, conservou na sua decadência o cetro da realeza primitiva.

    Ela é ainda rainha; o homem é ainda senhor de seus atos e, pela liberdade, o artífice dos seus destinos.

    A graça eleva, fortifica, sobrenaturaliza a vontade, mas no segredo insondável de sua ação nas almas, respeita-lhe sempre a independência nativa.

    “A felicidade suprema da glória será conquista dos nossos esforços, prêmio das nossas virtudes, triunfo de nossa liberdade sobre o mal.

    As palavras de S. Paulo: gratia Dei mecum, resumem admiravelmente toda a economia da predestinação divina. Deus e eu: Deus, com a sua graça, eu, com a minha livre cooperação: eis os elementos essenciais e inseparáveis da nossa glorificação sobrenatural. Não se poderia melhor conciliar a gratuidade das generosidades divinas com a grandeza da dignidade humana.



    Martinho Lutero pregando no Castelo de Wartburg, quadro de Hugo Vogel (1855-1934)

    À verdade destas doutrinas que elevam, opôs Lutero as degradações do erro que avilta. Aos estudos católicos sobre a liberdade contrapôs um livro desmoralizador e intitulou-o De servo arbítrio, do arbítrio escravo.

    Para envilecer o homem era mister começar por desengastar-lhe do diadema a mais preciosa das suas joias. Mas ouvi as suas próprias palavras:


    “A vontade do homem é semelhante a um jumento. Cavalga-o Deus? Ela vai aonde Deus a guia. Monta-lhe em cima o diabo? Ela vai aonde ele a conduz...

    “Tudo se realiza segundo os decretos imutáveis de Deus. Deus opera em nós o mal e o bem. Tudo quanto fazemos, fazemo-lo não livremente, mas por pura necessidade”..

    Fonte: De servo arbitrio ad Erasmum (1525) Weimar, XVIII, 635-709 ss.

    “Foi o diabo quem introduziu na Igreja o nome de livre arbítrio”, Weimar, VII, 145.
    Os discípulos fazem eco à palavra do mestre. Calvino:

    “Deus criou alguns para a condenação e morte eterna a fim de serem instrumentos de sua ira e exemplos da sua severidade, e a fim de que cheguem a esse destino... cega-os e endurece-os”.

    “Se ele determinou salvar-nos, a seu tempo nos levará à salvação; se determinou condenar-nos em vão nos atormentaríamos para nos salvarmos”..



    João Calvino (1509 — 1564).

    Fonte: Calvinus, Inst. de la relig chré t.,l. III, c. 24, n. 12; c. 23, n. 12, Opera, IV, 521, 500. Todo o cap. 2 do livro II é consagrado a demonstrar “que l'homme est maintenant dépouillé de franc-arbitre et misérablement assujetti à tout mal”, Opera, III, 296.

    Zwinglio: “Deus é o primeiro princípio do pecado. é por divina necessidade que o homem comete todos os crimes”.. Fonte: Zwinglio, Verke, II, 73, 184.

    Melanchthon: “A predestinação divina tira ao homem a liberdade porque tudo acontece segundo os seus decretos... e isto entende-se não só das obras externas mas ainda dos internos pensamentos”.
    E, levando a doutrina às mais execrandas, porém, lógicas conclusões, não hesita em afirmar que


    “o adultério de David e a traição de Judas são obra de Deus como a conversão de S. Paulo”. Fonte: Melanchthon, Comment. in Epist. ad Rom. Ver todo o trecho em Alzog, Universalgeschichte der chrislichen Kirche,Mainz, 1860, p. 755.
    – Deus, autor do mal, o homem joguete inconsciente dos seus arbítrios, tal o resumo da doutrina protestante. Nunca a blasfêmia e a indignidade, o ultraje à santidade divina e à grandeza humana concluíram mais revoltante conspiração.

    E aí temos como Lutero e os seus aniquilam o valor da personalidade. Sem livre arbítrio não há imputabilidade, não há mérito, não há moralidade. Em tudo o que se refere à sua atividade moral, o homem não passa de uma “est tua”, de um “tronco inerte”, de uma “pedra”.

    São ainda comparações do chefe reformador, que considerava este artigo da vontade escrava como a quinta essência, a fina flor da sua doutrina, “omnium optimus, et rerum nostrarum summa”. Fonte: Weimar, VII, 148. Cfr. J. T. Mühler, Die symbolischen,Bücher, p. 593.
    Após 15 séculos de liberdade cristã eis-nos novamente precipitados na escravidão do fatalismo antigo.





    O porco no chiqueiro: ideal moral de Lutero!





    Porco na lama ideal moral de Lutero

    Quereis ver ainda até a que baixezas o homem é degradado na pena de Lutero?

    Lêde esta página que peço desculpas ao leitor de transcrever em toda a nudez cínica do seu realismo cru:



    “Sei que se alguém experimentou o temor e o peso da morte preferira ser um porco a ver-se continuamente acabrunhado pelo vexame de semelhante opressão.

    “Na sua lama, o suíno julga-se num leito de plumas; descansa pacificamente, ronca suavemente, dorme tranqüilamente; não teme reis nem senhores, morte nem inferno, demônio nem cólera divina; não o agita a menor preocupação, não se inquieta mesmo com a bolota que há de comer.

    “E se o sultão de todas as Turquias acertasse de passar-lhe ao lado no fasto do seu poder e de sua realeza, ele conservaria toda a sua altivez e não sacudiria em sua honra uma só das suas cerdas.

    “Se o enxotam, solta um grunhido, e se pudera falar diria: Pobre insensato, por que te irritas?

    “Não tens a décima parte da minha felicidade, não passarás nunca uma só hora tão tranqüila, tão suave, tão calma, como todas as minhas ainda que fôras dez vezes mais rico e poderoso.

    “Numa palavra, o porco vive numa segurança completa, sua vida é toda doçuras. Se o levam para o matadouro, pensa simplesmente que é um tronco de madeira ou uma pedra que o incomoda.

    “Até morrer, não espera a morte. Antes, no momento e depois da morte, não experimenta o que é morrer; a vida lhe pareceu sempre boa e eterna.

    “Neste ponto, nenhum rei, nem mesmo o messias dos judeus (o que eles ainda esperam), homem algum por mais hábil, rico, santo e poderoso, o poderá imitar”.

    Fonte: Ap. Paquier, Luther et le luthéranisme, t. 11, pp. 10-11.
    Nos inquilinos das pocilgas achou o reformador o ideal da felicidade!

    Hino agora ao emancipador da dignidade humana, palmas ao libertador das consciências!





    A contestação protestante demolindo as verdades consoladoras
    Depois de haver assim na ordem humana desorganizado as duas grandes molas da vida moral, substituindo na inteligência a estabilidade dos princípios pela arbitrariedade do capricho e enervando a vontade com declará-la radicalmente incapaz de praticar a virtude, na sua freima demolidora atiraram-se os corifeus da Reforma sobre o edifício sobrenatural dos nossos dogmas e, um por um, destruíram os mais divinamente consoladores.



    Catedral de S.Martinho, Utrecht, atacada pela iconoclastia protestante em 1572.

    Destruíram as imagens e as virtudes que elas representavam.

    Inclusive o próprio Deus acima representado!

    Felizmente, o conjunto artístico já foi restaurado.

    Com todo o peso de sua divina autoridade, Cristo impôs ao gênero humano o jugo austero da sua moral imaculada.


    Ao homem decaído que se revolvia no lodo dos vícios mais abjetos, dirigiu a voz taumaturga da regeneração: sursum, para o alto! Eleva-te a rivalizar com os anjos na pureza da vida!

    Mas ele bem conhecia a fragilidade da nossa argila, as profundezas do abismo em que nos precipitara o pecado e por isso adoçou as severidades do dever com as suavidades do amor.

    Ao lado de cada espinho fez desabrochar uma rosa.

    Vigorizou as pusilanimidades do nosso abatimento com os raios vivificantes da esperança.

    Sobre a nossa esterilidade abriu, aos borbotões, as fontes perenes da sua graça.

    O protestantismo revoltado não teve fé nos excessos da caridade divina e, com a negação, introduziu a desordem nos planos admiráveis da economia salvadora.

    Que de mais confortante para o miserável pecador que o dogma das indulgências?

    Que de mais consolador que o dogma do purgatório onde se purificam as almas dos justos das nódoas contraídas na sua peregrinação terrena?

    Que de mais justo e misericordioso que a diferença entre o pecado mortal e o venial, a estabelecer uma distinção entre os crimes que nos matam na alma a vida divina da graça e as faltas a que se não pode subtrair a nossa fragilidade?

    Que de mais suave que a comunhão dos santos,a instituir na ordem sobrenatural esta solidariedade, em virtude da qual somos fortificados pela intercessão e pelo mérito de nossos irmãos?

    O protestantismo levantou o aluvião sacrílego contra todas estas admiráveis construções do amor divino. De todas elas não restam senão ruínas acumuladas pela negação destruidora.





    A recusa da confissão, do perdão e da Eucaristia



    O sacramento da Penitência, vitral na igreja

    de Nossa Senhora dos Mártires Ingleses, Cambridge, Inglaterra.

    Mas de todas as invenções da misericórdia encarnada não há outras que tão de perto toquem a nossa vida moral e tão intimamente se prendam ao coração do cristianismo como a confissão e a Eucaristia.

    A confissão é o arrependimento, é o perdão, é o propósito.

    O arrependimento que apaga um passado de culpas, o perdão que verte sobre o presente o bálsamo das suas consolações inefáveis, o propósito que ilumina o futuro com as perspectivas da regeneração.

    Que alavanca mais poderosa para a atividade moral?

    Lançar frequentemente nas consciências a sonda de um exame imparcial, resgatar com lágrimas sinceras os desvarios da nossa liberdade, firmar as energias do nosso querer com o vigor das resoluções incondicionadas, abrir toda a alma às influências reabilitadoras da graça, aos raios da esperança, à tranquilidade fecunda da paz de consciência – haverá humanamente falando, divinamente falando, meio mais eficaz para elevar é conservar o coração nas regiões serenas da virtude?


    O protestantismo negou tudo isto, e negando-o “desconheceu um dos meios mais suaves para dar à vida do homem uma orientação conforme aos princípios da sã moral”. Fonte: Balmes, El protestantismo, c. 30.
    Pecaste? persuade-te que Deus te perdoou, que a sua justiça cobre os teus pecados, que a tua fé é inadmissível e, com a fé, a graça.

    Se esta persuasão entrou na alma é o descanso no pecado, o hábito do mal, o endurecimento; se não, é o terror, o desespero. Compreendo agora em lábios protestantes estes gritos da alma:


    “Oh! que não daria eu para ajoelhar-me num confessionário católico! (M. de Stael).

    “Quem não lançou olhos invejosos ao tribunal da penitência?

    “Quem não desejou nas amarguras do remorso, nas incertezas do perdão divino, ouvir uns lábios, que, com o poder de Cristo, lhe dissessem: “Vai em paz, teus pecados te são perdoados”?”

    Fonte: E. Naville, Thèse defendue devant l'Académie de Genève, 1839. Cit. por E. Duplessy, Les apologistes au dix-neuvième siècle, Paris, Beauchesne, 1910, p. 238.
    A confissão é o amor que perdoa e regenera. A eucaristia é o amor que se imola, o amor que se comunica às almas nos amplexos inefáveis de uma união divina.



    Negada a confissão, como afirmar a Eucaristia?

    Lutero também aqui deu o primeiro passo na via das negações.
    Quem não teve fé no amor misericordioso, não pode compreender o amor unitivo. Negada a confissão, como afirmar a Eucaristia? Lutero também aqui deu o primeiro passo na via das negações.

    A hóstia consagrada não é o corpo de Cristo, contém-no apenas transitoriamente. Calvino foi além e no mistério dos nossos altares viu, não uma realidade consoladora, mas apenas um símbolo, uma figura vazia de verdade.

    Daí à negação completa a distância era pequena e transpuseram-na logo os seus sucessores. A missa foi proscrita como rito idolátrico e os tabernáculos ficaram vazios na solidão dos templos protestantes.

    Mas que vale um cristianismo sem Eucaristia: sem a Eucaristia-sacrifício, centro em torno do qual gravita toda a vida litúrgica, sem a Eucaristia-sacramento, fonte donde mana, em torrentes, a graça, vida sobrenatural dos crentes?

    Extinguiram o fogo; o amor entibiou-se nos corações. Estancaram os mananciais; as almas esterilizaram-se.

    As flores mais belas, que no cristianismo haviam desabrochado ao sol de Jesus-Hóstia, feneceram à míngua de calor e de luz.

    Murcharam os lírios, esmaeceram as rosas, secaram as violetas. O sacerdócio casou-se, os mosteiros despovoaram-se, o apostolado mercantilizou-se, a caridade exilada das almas buscou um refúgio nas leis e passou do coração para a algibeira.

    O protestantismo não tem Irmãzinhas dos pobres, Irmãos de S. Vicente, não tem ordens religiosas, não tem ministros continentes, não tem legiões de mártires nem de virgens.

    Onde quer que a virtude se eleva à altura do heroísmo, não achou discípulos entre os descendentes de Lutero. O heroísmo cristão alimenta-se no sangue generoso de Cristo.







    • Negação do valor das boas obras




    Santa Isabel de Hungria fazendo caridade aos pobres

    Não parou nesta primeira fase negativa a obra nefasta de desmoralização iniciada pela Reforma. Depois de negar, o protestantismo afirmou.

    Negou todos os dogmas que inspiram, que elevam, que sustentam as almas nas esferas sublimes do sacrifício e do heroísmo.

    Afirmou em seguida um dogma novo que, em si, encerra o germe não só da corrupção mas da completa dissolução da vida moral. Refiro-me à doutrina protestante da inutilidade das boas obras.

    Falando da liberdade, já tivemos ensejo de observar como o dogma católico concilia admiravelmente a gratuidade da graça divina com o exercício da nossa atividade livre.

    O auxílio de Deus, absolutamente necessário para elevar as nossas ações à ordem sobrenatural, não dispensa de modo nenhum o esforço da nossa cooperação. Nas finezas do seu amor, dispôs Deus que o homem fosse o artista da sua felicidade.

    Destarte, nascidas do conúbio misterioso da graça divina com o livre arbítrio humano, são as nossas ações germe fecundo de vida eterna.

    Verdade altamente digna da misericórdia de Deus e da grandeza do homem, verdade altamente estimuladora da nossa atividade moral. E a Sagrada Escritura no-la ensina frequentemente, inculcando a necessidade das boas obras.

    Que é o magnífico sermão da montanha senão uma promessa da glória aos que praticam o bem?

    Que razão da suprema sentença aduzirá Cristo juiz, senão as boas obras praticadas pelos eleitos e descuradas pelos réprobos?


    Ouvi ao Príncipe dos Apóstolos: “Procurai por meio das boas obras assegurar a vossa vocação e eleição”. 1 Petr., I, 10. Ouvi a Tiago: “a fé sem obras é morta”. Jac., 11, 20. Abri os Evangelhos, lede todas as epístolas apostólicas.
    Desta leitura resultará evidente como a luz meridiana que o cristianismo é um grande código de moral imposto à humanidade para a sua salvação. Cristo é Redentor não só, mas legislador também.

    Não basta crer, é mister ajustar as obras à fé; não basta o símbolo, é necessário também o decálogo; si vis ad vitam ingredi serva mandata. Math.,XIX, 17.



    Esmagamento dos 'rústicos' (gravura de Gabriel Salmon

    ilustrando o livro Nicolas Volcyr de Serrouville, 1526)

    As desordens morais e religiosas protestantes degeneraram no caos religioso,

    social e econômico com conseguintes revoltas populares

    que Lutero mandou afogar no sangue.

    A primeira preocupação de Lutero e de seus amigos foi alijar a carga pesada das boas obras. Era mister forjar um novo cristianismo menos carrancudo, mais ameno e prazenteiro.



    “A palavra Evangelho significa boa nova, doutrina grata e consoladora para as almas... ouvir que a Lei já foi observada por Cristo, que nós não a devemos observar, mas só unir-nos pela fé àquele que por nós a observou”. Fonte: Weimar, I, 105.
    No comentário ao c. 40 de Isaías: “Esta é nossa doutrina que sabemos eficaz para consolar as consciências. viveremos livres, sem lei, e nos persuadiremos que os nossos pecados nos foram perdoados”, Weimar, XXV, 249.
    É a doutrina da justificação pela fé, que, na opinião do heresiarca, resume a quinta essência do cristianismo, e, na realidade, é a chave de abóbada de todo o seu sistema teológico. Ei-la em duas palavras.


    Sobre a teoria da justificação em Lutero e a sua dissolução gradual pelas diferentes facções protestantes, cfr. J. A. Moehler, Symbolik, oder Darstellung der dogmatischen Gegensaetze der Katholiken und Protestanten nach ihren oeffentlichen Bekenntnisschriften, Mainz, 1884, l. 1, c. 3. pp. 99-253.

    Desta obra clássica escreveu Goyau : “La Symbolique est le livre le plus profond que, depuis Luther, une plume catholique allemande ait écrit sur la Reforme''.G. Goyau, Moehler, Paris, Bloud, 1905, p. 38.)

    Cfr. ainda: J. Schwane, Histoire des dogmes,trad. franc. de A. Degert, Paris, Beauchesne, 1904, t. VI, 205-239; H. Grisar, Luther, Freib. i. B., Herder, 1911, t. II, pp. 737-781. Este último autor estuda a teoria de Lutero à luz das experiências religiosas e lutas internas de consciência desta alma devorada de escrúpulos e ralada de remorsos. Não é a teologia, é a psicologia que explica a origem da justificação luterana.
    O pecado original causou a depravação total do homem. A sua inteligência nas coisas morais e divinas, não pode senão errar, a sua vontade, por mais que se esforce, não faz senão acumular pecados.

    E este estado de decadência identifica-se de tal modo com a essência da natureza humana que é impossível uma regeneração interior, uma verdadeira renovação espiritual.

    Qual será então o efeito da morte redentora de Cristo?

    Uma justificação simplesmente externa, equivalente a uma não-imputação do pecado. Cristo satisfez por nós, Cristo mereceu-nos o céu com o seus sofrimentos.

    A generosidade e abundância de sua Redenção dispensam-nos de qualquer cooperação individual, de qualquer atividade própria, dispensam-nos até do arrependimento e do amor.

    Para ser justificado basta crer na eficácia do sangue divino. A fé cobre todos os nossos pecados.


    Fontes: Livro da Concórdia: “Et quidem neque contritio neque dilectio, neque ulla alia virtus, sola fides tamquam medium et instrumentum quo gratiam Dei, meritum Christi et remissionem peccatorum apprehendere et accipere possumus”. Solida Declaratio, III, De justitia fidei. J. T. Mühler, Die symbolischen Bücher der evangelisch-lutheranischen Kirche, Gütersloh, 1900, p. 616.

    Na Apologia da Confissão Augustana : “Sola fide in Christum non per dilectionem, non propter dilectionem aut opera consequimur remissionem peccatorum, etsi dilectio sequitur fidem. Igitur sola fide justificamur”. Corp. Reformat., XXVII, 440.

    Em J. T. Mühler, p. 100. Lutero: “Haec est ardua et insignis dignitas veraque et omnipotens potestas, spirituale imperium in quo nulla res tam bona, nulla tam mala quae non in bonum mihi cooperetur. Nulla tamen mihi opus est cum sola fides sufficiat ad salutem”. Weimar, VII, 57.


    A Caridade: acolher o estrangeiro.

    Desacompanhada de obras, de contrição e de caridade, ela é o processo mecânico e externo, o instrumento com que nos apropriamos os merecimentos; de Cristo, alcançamos a graça e a remissão, ou, mais exatamente, a não-imputação das nossas culpas.

    Coberto assim aos olhos de Deus com o manto dos méritos do Redentor (por uma ficção jurídica indigna da santidade divina), o homem continua na realidade e intrinsecamente pecador e fonte contínua de pecados.

    Todas as suas ações, ainda depois de justificado, são pecaminosas e imundas. Mas nenhum pecado, afora o da infidelidade, pode despojá-lo da graça. Se crê, é justo, ainda que cometa os maiores delitos.

    Eis na teoria luterana a que se reduz a obra da Redenção: Cristo, para isentar e homem de observar a lei, observou-a em lugar dele; o homem, pela fé, atribui a si esta observância, assegura destarte a graça divina e pode descansar seguro na impunidade do seu pecado inauferível.

    Da teoria luterana sobre a queda original e a justificação decorre, como inevitável corolário, a inutilidade e mesmo a nocividade das boas obras.

    Rigorosamente falando, até a expressão “boas obras” é um contra-senso. Essencialmente corrupto, o homem é necessariamente pecador em todos os seus atos. A justificação exterior e forense, não lhe pode sanar este vício essencial.

    Esforçar-se nessas condições, por praticar as que chamamos boas obras não é senão multiplicar pecados.





    • Emancipação de todo vínculo moral




    Martinho Lutero por volta de 1543-46

    Os reformadores não recuaram ante a enormidade dessas consequências. Antes de tudo, a inutilidade das obras na justificação do pecador.


    “Rejeitamos e condenamos as proposições em que se afirma a necessidade das boas obras para a salvação”.
    Pouco antes a mesma Fórmula da Concórdia, símbolo oficial do luteranismo, assim exprimira o artigo da nova fé:


    “Cremos, ensinamos e confessamos que as boas obras se devem totalmente excluir (penitus excludenda), não só quando se trata da justificação pela fé, senão ainda quando se discute acerca de nossa eterna salvação”. Fonte: Formula Concordiae, I, art. IV, n. 16 e 7; J. T. Mühler, pp. 533, 531.
    Inúteis as boas obras; não só, senão ainda nocivas. Fale Lutero no seu Comentário da epístola aos Gálatas:


    “a lei, as obras, a caridade, os votos não só não resgatam mas agravam a maldição. Quanto mais obras fizermos tanto menos poderemos conhecer e apreender a Cristo” . Fonte: Weimar, XL, I Abt., p. 447.

    À vista das consequências imorais desta doutrina, um professor de Wittemberga, Jorge Maior, tentou modificá-la, proclamando as boas obras, necessárias, como condição sine qua non, à salvação eterna.

    Por toda a parte, surgiram os contraditores, Nicolau d'Amsdorf, amigo de Lutero e por ele consagrado “bispo” de Naumburg, saiu à estacada com uma obra apostólica a que deu por título: Que a proposição “as boas obras são nocivas à salvação” é justa, verdadeira, cristã, pregada por São Paulo e São Lutero (sic) (1559).

    Tal a teoria da justificação nos primeiros reformadores.



    Todas as formas de imoralidade passaram a ser fruto da vontade divina !
    Digo nos primeiros reformadores porque alguns símbolos e teólogos protestantes de época posterior, sob a pressão das objeções católicas, limaram as arestas de tão angulosa doutrina, e procuraram, ainda com sacrifício da coerência sistemática, inculcar de algum modo a necessidade de outras virtudes, que não só a fé.

    À luz fosca desta doutrina como se transmuda o aspecto do Evangelho!

    Julgávamo-lo todos um código elevadíssimo de moral, um conjunto de preceitos sancionados com prêmios e castigos e destinado a sublimar o homem muito acima da simples lei natural.

    Que engano!

    O Evangelho é a emancipação de toda a espécie de vínculos morais, é o fundamento de uma confiança absoluta de chegar ao céu sem esforço, é o código do prazer.

    Nele encontra o crente um título de isenção da virtude e um rescrito de indenidade para todos os vícios. Eis a boa nova, “a doutrina grata e consoladora para as almas”.

    Não se admire o leitor. Todas essas conclusões, por mais abomináveis que pareçam a quem conserva uns restos de senso moral, encontram-se não só virtualmente na doutrina protestante da justificação, mas expressa e formalmente nos escritos dos primeiros reformadores.

    Alego uma ou outra citação ao acaso entre as inúmeras que, se poderiam colher nas obras de Lutero.


    “O Evangelho não prega o que devemos fazer; não exige nada de nós. Antes, em vez de dizer-nos: faze isto ou aquilo, manda-nos simplesmente estender as vestes e receber: toma, meu caro, eis o que Deus fez por ti; por teu amor ele vestiu o próprio Filho de carne humana... aceita este dom; crê e serás salvo” .

    Fonte: Weimar, XXIV, 4; cfr. Weimar, XL, 1 Abt, 168.

    – “Não desesperes por causa dos teus pecados mas cobra ânimo e dize: posso ter feito algum bem ou, algum mal, mas isto pouco importa; Cristo sofreu por mim...

    “A isto se reduz todo o cristianismo, a sentir que não tens pecado ainda quando pecas, a sentir que teus pecados aderem a Cristo, que é salvador do pecado”.

    Fonte: Weimar, XXV, 329, 331.
    Este antagonismo entre a lei moral e o Evangelho recorre a cada passo na pena do infeliz apóstata em busca de um anestésico poderoso para a consciência dilacerada de remorsos.

    A fim de salvar o Evangelho é mister aniquilar a lei moral: são inimigos irreconciliáveis e incompatíveis.


    “É necessário que procuremos com todas as forças afastar a lei da nossa consciência quanto o céu da terra...

    “Quando a lei te aterroriza, te acusa, te mostra o pecado, te ameaça com cólera divina e com a morte, faze como se nunca houvera existido lei ou pecado, como se só existira Cristo que é todo graça e redenção.

    “Ou se sentes no fundo da alma os terrores da lei, repete: lei, não quero ouvir-te;... chegou a plenitude dos tempos, sou livre, já não suportarei o teu império”.

    Fonte: Weimar, XL, 1 Abt., p. 557; cfr. t. XXV, 249-250.
    Que esforços de uma vontade obstinada para sufocar “os terrores da lei na consciência!”

    Vede-o ainda a debater-se contra a ideia de Cristo legislador e de Cristo juiz. Vede a exorcizá-la como uma obsessão diabólica!


    “Se Cristo nos aparecesse como juiz irritado ou legislador que nos chama a contas, consideremo-lo como um demônio furioso e não como a Cristo”. Fonte: Weimar, XL, 2 Abt., p. 13.



    A assembleia dos heresiarcas evangélicos pelo menos concordava num ponto:
    pecar é vontade de Deus !
    “Não só com as palavras mas também com as nossas ações e com o nosso procedimento exercitemo-nos com diligência [para cauterizar a consciência é mister muito exercício!] em separar Cristo de qualquer ideia de legislador a fim de que, apresentando-se-nos o demônio sob a figura de Cristo para molestar-nos em seu nome, saibamos que não é Cristo, mas que é verdadeiramente o diabo”.

    Fonte: Weimar, XL, 1 Abt., p. 299.
    Edifiquemo-nos ainda nestas passagens do Reformador: “O cristão principalmente nas tentações, não deve absolutamente pensar em lei, em pecado”...

    Ouvimos Lutero, ouçamos os seus discípulos mais célebres.


    Melanchthon: “Em qualquer das tuas ações, comendo, bebendo, ensinando ou trabalhando manualmente ainda que seja evidente que pecas em tudo isto, não te preocupes com as tuas obras; considera as promessas de Deus e crê confiadamente que no céu não tens um juiz mas um bom pai todo amor e ternura”.

    Fonte: Melanchthon, De locis theologicis, Corpus Reformat, XII, 163-164.
    Como quem dissera: és ladrão, homicida, adúltero, caluniador? não te incomodes, tuas ações de nada valem. Lá no céu, Deus é um bom e velho papai que fecha os olhos complacentemente e perdoa tudo.

    Calvino atira a barra mais longe. À doutrina da justificação de Lutero acrescenta a da inadmissibilidade da fé.

    A fé que justifica, segundo o reformador de Genebra, é um dom divino concedido ao homem uma vez para sempre e para sempre .

    Os delitos mais graves, cometidos por quem uma vez se achou em estado de graça, não o poderão nunca privar da amizade de Deus. É a predestinação infalível, a carta branca para todos os excessos.





    Deturpando os Evangelhos



    Deturpando os Evangelhos.
    Mas, dirá o leitor, e a Escritura? Não a haviam proclamado os protestantes regra infalível de fé?

    Como fechar tão obstinadamente os olhos a ponto de não ver nas páginas divinas a condenação mil vezes repetida de doutrina tão imoral?

    Assim parece. Mas a Escritura deve ser interpretada pelo livre exame. Só assim é regra de fé e norma de costumes.

    A Escritura vale, pois, o que vale a sua interpretação.

    Deixada aos caprichos e paixões individuais, não há livro mais inofensivo e acomodatício.

    À “crítica” do leitor não faltarão nunca expedientes para trazer o texto ao sentido que se deseja. Em caso de rebeldia absoluta, aí estão os recursos extremos da crítica cirúrgica: a amputação. Quereis ver Lutero em exercício de suas funções de livre comentador? Ouvi-o:


    Diz S. Tiago na sua epístola que “a fé sem obras é morta”, que “o homem é justificado pelas obras e não só pela fé”? A epístola de S. Tiago é apócrifa, deve ser expungida do rol das escrituras canônicas como uma “verdadeira epístola de palha”, eine rechte stroeherne Epistel.

    Fonte: Erf., LXIII, 115; Walch, XIX, 142; XIV, 105.
    Precisa o nosso exegeta de uma autoridade que confirme a sua doutrina? Lança mão de um texto de S. Paulo na sua Epístola aos Romanos: “arbitramur justificari hominem per fidem sine operibus legis”.

    Para entender-se o verdadeiro significado deste passo cumpre observar que nele, e em tantos outros lugares de suas epístolas, combate o Apóstolo aos judeus que se obstinavam em afirmar a necessidade da Lei antiga (Lei, Thorah, era o título com que indicavam os hebreus o Pentateuco em oposição aos Profetas, nome com que se designavam os outros livros inspirados).

    Contra esse erro assevera S. Paulo que não são os ritos mosaicos que santificam o homem, mas a fé em Cristo, na sua Redenção, na sua justiça.

    De um lado, a incredulidade em Cristo e a confiança nas obras da Lei praticadas pelas simples forças naturais do homem, do outro a fé no Redentor e na sua justificação, como dom gratuito de Deus são aqui os membros da antítese, e não a fé no Salvador e as boas obras sobrenaturais inspiradas por esta fé.



    Não lhe bastou adulterar um novo Evangelho, e passou a recortar os livros inspirados.
    O Apóstolo distingue sempre as obras da Lei e as boas obras. A necessidade destas últimas, isto é, das boas obras informadas pela graça e pelo espírito do Cristo, professa-a claramente S. Paulo em mil lugares das suas epístolas.

    Nesta mesma, aos Romanos, II, 7, 13 escreve :

    “Aos que constantes no bem operar proclamam à glória, a honra, a imortalidade (dará o Senhor) a vida eterna... Porque não são justos diante de Deus os que ouvem a Lei, mas serão justificados os que a põem em prática”.

    “Aos fiéis da Galácia, V, 6 : “Em Jesus Cristo nada vale o circunciso ou o incircunciso, mas a fé que opera pela caridade”.

    “Como se vê, acontece com os protestantes o que já dizia S. Pedro : “In quibus [i. é. nas epístolas de S. Paulo] sunt quaedam difficila intellectu quae indocti et instabiles depravant, sicut et ceteras Scripturas ad suam ipsorum perditionem”, II Petr., III, 16.

    E insere fraudulentamente na sua tradução alemã a palavra só antes de fé (allein durch das Glauben).

    Reclamam naturalmente os adversários contra semelhante processo crítico. Lutero não recua e escreve a Link:

    “Se o novo papista quiser importunar-nos por causa da palavra só responde-lhe logo: assim o quer o Dr. Martinho Lutero que diz: papista e asno são a mesma coisa. Sic volo, sic jubeo, sit pro ratione voluntas...

    “Só me pesa de não haver acrescentado também a palavra nenhuma, sem obra nenhuma de lei alguma, o que exprime o meu pensamento [e o da Bíblia?] com toda a nitidez e clareza.

    “Por isto quero que a partícula fique no meu Novo Testamento e ainda que enlouquecessem todos estes asnos de papistas não vingarão eliminá-la”.

    Fonte: Carta a Link, 12 set. 1530. Weimar, XXX, 2 Abt., 635 e 643. Mas não basta haver criado um novo Evangelho, um Evangelho seu.

    Todos os Livros santos da primeira à última palavra protestam energicamente contra o seu erro.

    Que fará o grande paladino da Escritura?

    Desprezará e rejeitará todos os livros inspirados. Ouçam protestantes e não protestantes:

    “Se os nossos adversários fazem valer a Sagrada Escritura contra Jesus Cristo, nós fazemos valer Jesus Cristo contra a Escritura. Do meu lado, tenho o Senhor, eles têm os servos, nós, a cabeça, eles, os pés e os membros que se devem sujeitar e obedecer à cabeça.

    “Se é mister sacrificar-se a lei ou Jesus Cristo, sacrifique-se a lei, não Jesus Cristo”.

    Fonte: Opera latina, Wittemberga, I, 387-a.



    A Escritura?: “Dela me não importo”.
    “Tu fazes grande caso da Escritura que é serva de Jesus Cristo; eu, pelo contrário, dela me não importo.

    “À serva liga a importância que quiseres, eu quero valer-me de Jesus Cristo que é o verdadeiro senhor e soberano da Escritura e que mereceu e conquistou com a sua morte e ressurreição a minha justiça e a minha salvação eterna”.

    Fonte: Walch, VIII, 2140 ss.
    Assim, depois de haver o heresiarca levantado a Escritura como pendão de revolta contra a Igreja, sacrifica ora a Escritura a Jesus Cristo.

    Mas sem a Igreja e sem a Escritura, que sabe Lutero de Jesus? Cristo será apenas nos seus lábios um passaporte para todos os devaneios doutrinais, para todas as licenças de sua ímpia reforma.

    Tão verdade é que Cristo, a Escritura e a Igreja constituem uma trilogia inseparável; impossível impugnar uma destas verdades sem destruir as outras.

    Destarte, atropelando a razão, conculcando a Igreja, menosprezando e falsificando a Bíblia, injuriando sacrilegamente a Jesus Cristo, conseguiu o frade apóstata estabelecer a mais imoral das doutrinas que ainda viram os homens: a apoteose do pecado arvorado em instrumento eficaz de salvação.

    Toda essa indignidade se acha condensada nas célebres palavras:

    “Sê pecador, e peca a valer, mas com mais firmeza ainda crê e alegra-te em Cristo vencedor do pecado, da morte e do mundo. Durante a vida presente devemos pecar.

    “Basta que pela misericórdia de Deus conheçamos o Cordeiro que tira os pecados do mundo. Dele não nos há de separar o pecado, ainda que cometêssemos por dia mil homicídios e mil adultérios”. Eis no original o texto abominável :

    “Esto peccator et pecca fortiter; sed fortius fide et gaude in Christo, qui victor est peccati, mortis et mundi. Peccantum est quamdiu hic sumus... Sufficit quod agnovimus per divitias gloriae Dei Agnum qui tollit peccatum mundi: ab hoc non avellet nos peccatum etiamsi millies millies, uno die, fornicemur aut occidamus”.

    Fonte: De Wette, II, 37 (Carta a Melanchthon, 1 agosto de 1521).




    • Corrupção dos costumes



    A Nau dos Insensatos, detalhe, Hyeronimus Bosch (1450 — 1516)

    Capítulo 2. –– A moralidade dos costumes na Reforma

    Sumário – Decadência geral dos costumes.– Particularizando: abolição do celibato; divórcio; poligamia; embriagues; egoísmo.


    Dos desvios da inteligência sempre se ressente o coração. Não há no domínio especulativo doutrina errônea que, cedo ou tarde, pela lógica imanente das coisas, não tenha sua repercussão na vida moral dos povos e dos indivíduos.

    “Illuminationis puritas et arbitrii libertas, escreveu Bacon, Simul inceperunt, simul corruerunt. Neque datur in universitate rerum tam intima sympatia quam illa veri et boni”. E o critério evangélico dos frutos que abonam a qualidade da árvore recebeu sempre, no desenvolvimento paralelo do erro e do vício, a sua mais cabal justificação.

    Não seria, pois, difícil ao filósofo antever nas doutrinas imorais do protestantismo o germe desgraçadamente fecundo de uma abominável corrupção de costumes.

    A história dá a estas previsões teóricas a mais sinistra confirmação experimental. Carlos Pereira, sem se dar ao trabalho de provar as suas asserções, afirma aos que lhe quiserem piamente crer que

    “a reforma pôs um dique a esses desregramentos e o puritanismo protestante salvou o mundo da completa dissolução dos costumes, dando aos homens uma têmpera moral incomparável”, pp. 121-2. Francamente, não experimento em mim este devoto sentimento de credulidade nas palavras do mestre gramático. Prefiro abrir a história e recolher-lhe o testemunho insuspeito.



    A Nau dos Insensatos,

    Hyeronimus Bosch (1450 — 1516)

    E que depõe a história?

    Só lhe ouço uma voz para acusar, nos países em que prevaleceu a pregação do ‘novo evangelho’, um extravasamento de imoralidade, que não encontra semelhante senão nas eras mais abominosas da ruína de Sodoma, das orgias de Babilônia ou da decomposição do paganismo agonizante.

    É o que pretendo agora provar, documentos à vista. Na instrução do processo só admitirei, como testemunhas, os próprios protestantes contemporâneos e de preferência os pais da Reforma.

    A Lutero, como é de justiça, o primeiro lugar. Em 1529:

    “Os evangélicos são 7 vezes piores que outrora. Depois da pregação da nossa doutrina, os homens entregaram-se ao roubo, à mentira, à impostura, à crápula, à embriaguez e a toda espécie de vícios.

    “Expulsamos um demônio [o papado] e vieram sete piores. Príncipes, senhores, nobres, burgueses e agricultores perderam de todo o temor de Deus”.

    Fonte: Weimar, XXVIII, 763. Qual a causa deste desencadeamento do mal? A nova doutrina.

    “Depois que compreendemos não serem as boas obras necessárias para a justificação, ficamos muito mais remissos e frios na prática do bem.

    “É admirável (dictu mirum) com que fervor nos dávamos às boas obras outrora, quando por meio delas nos esforçávamos por alcançar a justificação.

    “Cada qual porfiava em vencer os outros em piedade e honestidade.

    “E se hoje se pudesse voltar ao antigo estado de coisas, se de novo revivesse a doutrina que afirma a necessidade do bem fazer para ser santo, outra seria a nossa alacridade e prontidão no exercício do bem”.

    Fonte: Weimar, XXVII, 443.

    Carroça de Feno, detalhe

    (Museu do Prado, Madrid),

    Hyeronimus Bosch (1450 — 1516).

    O heresiarca leva a sinceridade ao ponto de confessar os efeitos dissolventes da Reforma sobre a própria consciência. Num sermão pregado em 1532:

    “Quanto a mim confesso – e muitos outros poderiam sem dúvida fazer igual confissão – que sou desleixado assim na disciplina como no zelo, sou muito mais negligente agora que sob o papado; ninguém tem agora pelo Evangelho o ardor que se via outrora.”

    “Quanto mais certos estamos da liberdade que nos conquistou Cristo, tanto mais frios e negligentes somos em pregar, orar, fazer o bem e sofrer o mal”.

    Fonte: Weimar, XL, 2 Abt., 61. À medida que o “novo evangelho” se propagava, avultava e engrossava também a onda da imoralidade.

    Com o tempo as expressões do Reformador carregam-se de tintas cada vez mais escuras. Em 1542 escrevia a Amsdorf:

    “é tanto o desprezo pela palavra de Deus, tão desmesurado o crescer dos vícios, da avareza, da usura, da licença, dos ódios, das perfídias, das invejas, da soberba, da impiedade e das blasfêmias que não é provável que Deus use ainda de misericórdia com a Alemanha”.

    Fonte: De Wette, V, 462. No ano seguinte, ao mesmo amigo:

    “Tal era o mundo antes da destruição de Jerusalém, antes da devastação de Roma, antes da perda da Grécia e da Hungria, tal será e é, antes da ruína da Alemanha”.

    Fonte: De Wette, V, 600-601. Um ano antes de sua morte, em 1545, em carta a Gaspar Beier:

    “O mundo está cheio de Satanás e de homens satânicos”. Fonte: De Wette, V, 721.







    • Lutero: o “berço do puro Evangelho” virou “foco de abominável corrupção”



    O Jardim das delicias terrenas.

    Hyeronimus Bosch (1450 — 1516).

    Wittemberga, berço do puro Evangelho e residência habitual de Lutero, tornara-se outrossim um foco de abominável corrupção. Poucos anos depois de iniciada a “reforma”, já o heresiarca se queixava num sermão:

    “Que fazer convosco, Wittembergenses? Já não vos pregarei o reino de Cristo que não quereis receber.

    “Sois ladrões, rapaces e cruéis... brutos ingratos. Arrependo-me de vos haver libertado da tirania dos papistas. Vós, ingratissimae bestiae,sois indignos do tesouro do Evangelho”.

    Fonte: Weimar, XXVII, 408-411. Com a veemência de semelhantes impropérios, os costumes não melhoravam.

    “Vivemos ou melhor morremos nesta Sodoma, nesta Babilônia”.
    Fonte: De Wette, V, 722.

    Escrevia em 1545 ao Príncipe de Anhalt, Jorge; e poucos meses depois à sua Catarina: “Fora, fora desta Sodoma”.

    Fonte: De Wette, V, 753. Do estado moral de Wittemberga já em 1527 escrevia Melanchthon a Justo Jonas:

    “Quando vieres a Wittemberga verás como tudo o que havia de bom ameaça ruína, que ódios dividem os homens, que desprezo de toda a honestidade, que ignorância nos que governam as igrejas, e quão [duas palavras gregas]”.

    Corpus Reformatorum,I, 888.
    Ickelsamer escrevia a Lutero: “Quanto mais se aproxima alguém de Wittemberga, tanto pior cristão se vai tornando”. O incêndio, que assim crescia de dia para dia com imensa ruína das almas, não podia deixar, de quando em quando, de remorder-lhe a consciência atordoada pelo orgulho.

    “Vejo esses males e os deploro. Muitas vezes pensei se não teria sido melhor conservar o Papado, do que ver tamanha perturbação. Melhor é, porém, arrancar alguns das fauces do demônio do que perecerem todos”.
    Fonte: Weimar, XX, 674. Nestes momentos de angústia, para tranqüilizar os sobressaltos da consciência, acolhe-se à convicção fanática da sua missão divina.



    A Nau dos Insensatos, detalhe, Hyeronimus Bosch (1450 — 1516)

    “A idéia que é divina a minha missão é-me de grande conforto. Com ela muitas vezes me defendo do pensamento satânico de que o Evangelho é a causa dos grandes escândalos que presenciamos.

    “Confesso, porém, que se Deus não me fechara os olhos, se houvera previsto todos esses males, nunca certamente teria começado a pregar o Evangelho”.

    Fonte: Walch, VI, 920 (Doellinger, Die Reformation,2(2), 304).

    “Quem de nós, dizia ele em 1538, se teria abalançado a pregar, se pudera prever que tanta desgraça, tanto escândalo, tanto crime, tanta ingratidão e malvadez seriam o resultado da nossa pregação?

    “Agora, uma vez que chegamos a este estado, soframos-lhe as conseqüências”.

    Fonte: Walch, VIII, 564, (Doellinger, Die Reformation,I(2), 305). Último pensamento, enfim, que o consola em meio do dilúvio de males por ele desencadeado é a iminente destruição universal. A aniquilação do mundo, ele a invoca com esperança como supremo remédio.

    “Desejo sair, com todos os meus, deste mundo satânico; anelo pelo supremo dia que porá termo aos furores de Satã e dos seus”.

    Fonte: De Wette, V, 703. Ao mesmo amigo J. Probst escrevera dois anos antes, em 1542:

    “O mundo ameaça ruína; disto tenha certeza: tal é o furor de Satanás, tal o embrutecimento geral.

    “Só me resta como consolo a iminência do dia derradeiro... a Alemanha foi e nunca voltará a ser o que foi”.

    Fonte: De Wette, V, 451.




    Muskulus: “não é possível piorar”
    A ideia do fim iminente do mundo tornou-se nos últimos anos uma verdadeira obsessão para o heresiarca, que ainda uma vez arriscou nela os seus créditos de profeta.

    O mundo não duraria 100 anos, nem mesmo 50! A corrupção era tão geral e tão profunda que já não podia crescer e só o juízo final lhe poderia pôr termo. Sobre as idéias de Lutero acerca do fim próximo do mundo, cfr. Grisar, Luther, III, 202-211.

    Já nos parece ouvir nestas expressões coloridas ainda de tintas cristãs, o grito pessimista de Hartmann apelando para “o suicídio cósmico” como único termo aos males irremediáveis da vida.

    Em Melanchthon, discípulo predileto de Lutero, a mesma persuasão, sugerida pelos mesmos motivos.

    “Cresce de dia para dia o desprezo da religião, não só entre o novo a quem se pode perdoar, mas entre os sábios que ou se fazem epicureus ou acadêmicos.

    “A corrupção dos homens, a tristeza dos tempos e a insânia dos príncipes bem mostram [quatro palavras gregas] e que é iminente o advento de Cristo”.

    Fonte: Corpus Reformatorum, III, 895.

    Andreas Musculus 'não é possível piorar'.

    O Triunfo da Morte, Pieter Brugel



    Andreas Musculu: “se os nossos filhos,

    já afogados na desordem e na dissolução,

    tiverem descendentes será preciso

    que se transformem em verdadeiros demônios,

    porque não vejo como cheguem a ser piores que nós”.

    Depois dos mestres os discípulos.



    André Muskulus, um dos mais fogosos campeões do luteranismo, escrevia em 1561:

    “Chegamos a tal extremo que já não há, entre nós, quem não confesse claramente que nunca, desde que o mundo é mundo, houve tanta corrupção na juventude.

    “Não é possível piorar... Se o mundo durar ainda algum tempo e se os nossos filhos, já afogados na desordem e na dissolução, tiverem um dia descendentes que nos sobrelevem no vício e na malícia, será preciso que os homens se transformem em verdadeiros demônios, porque realmente não vejo como, conservando caráter humano, cheguem a ser piores que nós”.

    Fonte: A. Muskulus, Von der Teufels Tyrannei, no Theatrum diabolorum f. 160. Cfr. etiam f. 128, 137 b.
    Pouco mais tarde, Belzius que, com o seu divórcio beneficiara também da emancipação geral das consciências, assim pinta os costumes do tempo:

    “Quereis ver reunida no mesmo lugar uma população inteira de selvagens e ímpios, entre os quais toda a espécie de iniquidade é de prática cotidiana e, por assim dizer, de moda?

    “Ide às nossas cidades luteranas, onde se acham os pregadores mais estimados e onde o santo Evangelho é pregado com mais zelo: aí a encontrareis...

    “Dos púlpitos já se brada que as boas obras são não só desnecessárias senão ainda nocivas à salvação das nossas almas”.

    Fonte: Belzius, Von Jammer und Elenden menscht. Lebens, Kurzer Unterricht aus dem 90 Psalm, Lipsiae, 1575, C. 6, D. 6.

    Belzius: “Ide às nossas cidades luteranas:
    aí encontrareis.uma população inteira de selvagens e ímpios”
    Comparando os novos costumes com os antigos, escreve Pirkheimer em 1527:

    “Esperávamos que a malvadeza romana bem como os maus costumes dos monges e padres se devessem corrigir; mas, a quanto vemos; as coisas foram de tal jeito piorando, que em confronto dos velhacos evangélicos os antigos seriam santos”.

    Fonte: Ap. Hermann, Documenta litteraria, Aldorfii, 1758, p. 59. Um franciscano apóstata Eberlin de Günzburg, confessa igualmente:

    “somos duas vezes piores que os papistas, antes piores que Tiro, Sidônia e Sodoma”.
    Fonte: B. Riggenbach, Jah, Eberlin von Günzuburg, 1856, p. 242. Se assim é, por confissão dos próprios chefes da Reforma, quanto mais se esforçam os modernos protestantes por pintar com tintas carregadas a época anterior a Lutero, tanto mais negro deverá aparecer o luteranismo.





    • A obra-prima do fanatismo



    O sono da razão produz monstros.

    Francisco Goya (1746 - 1828), Museu do Prado.

    A doutrina da inutilidade das boas obras era o grande agente corruptor. À sua sombra organizava-se a licença autorizada.

    Afirma-o, entre muitos outros, Diogo André com a autoridade de quem, como inspetor, empreendeu inúmeras viagens e recolheu muitas observações, publicadas em 1568:


    “A fim de que saiba o mundo inteiro que não são papistas e não põem a sua confiança nas boas obras, os nossos luteranos diligenciam por não praticar nenhuma.

    “Em vez de jejuar, comem e bebem noite e dia; em vez de socorrer os pobres, acabam de esbulhá-los; em vez de orar, blasfemam e desonram a Jesus Cristo, por modos que excedem a ousadia dos próprios turcos.

    “Finalmente, em vez da humildade cristã, aninham no coração o orgulho e o amor do erro. Tais são os costumes dos nossos evangélicos”.

    Fonte: Jacob Andreas, Erinnerung nach dem Lauf der Planeten gestellt,Tübingen, 1508, pp. 140 ss.
    Insistamos um pouco mais em mostrar como o desmando geral dos costumes se apresentava evidentemente como uma consequência das doutrinas e da pregação da Reforma.O reitor protestante I. Rivius escreve em 1547:


    “Se és adúltero ou libertino, dizem os pregadores, crê simplesmente e serás santo.



    Eis a obra-prima do fanatismo!
    “Nem temas a lei, porquanto Cristo a cumpriu e satisfez pelos homens... Semelhantes discursos levam à vida ímpia”.

    Fonte: I. Rivius, De Stultitia mortalium, Basilae, 1557, I. 1, p. 50 s. Em 1525, Jorge, duque de Saxônia, escrevia ao corifeu reformador:

    “Quando se viu maior número de adultérios como depois que escreveste: se uma mulher é estéril, una-se a outro e os filhos sejam alimentados pelo primeiro marido. E outro tanto façam os homens?”.

    Fonte: Enders, V, 289; ed Jena, 1556, III, 211. E como não haveria de ser assim quando se ouvia Lutero ensinando desde 1523:

    “Deus só te obriga a crer e a confessar.

    “Em todas as outras coisas te deixa livre e senhor de fazer o que quiseres, sem perigo algum de consciência; antes é certo que, de si, ele não se importa, ainda mesmo se deixasses tua mulher, fugisses do teu senhor e não fosses fiel a vínculo algum.

    “E que se lhe dá, se fazes ou deixas de fazer semelhantes coisas?”.

    Fonte: Weimar, XII, 131 ss

    A tentação de Santo Antônio, detalhe.

    Hieronymus Bosch (1450 — 1516)

    Cabe aqui a observação que em 1565 fazia Joannes Jacobus na obra sobre a sua conversão:

    “entre os católicos os pecados atribuem-se às pessoas, entre os luteranos às doutrinas e às pessoas”.

    Räss, Die Convertiten seit der Reformation,Freiburg i. B., 1866, I, 522.
    Fechemos esta primeira série de testemunhas acerca da corrupção geral desencadeada pelo protestantismo com o depoimento de Pedro Arbiter, interessante sobretudo no ponto de vista da psicologia dos primeiros reformadores:

    “Porque permanecem alguns fiéis ao papismo e outros a ele voltam depois de o haver renunciado, senão porque de tal modo os cega o espírito das trevas, que, quer entre nós, quer entre eles, consideram como nonada o que deveriam estimar como coisa principal e atribuem, pelo contrário, gran-díssima importância ao que não na tem nenhuma?

    “Porquanto, que vale todo o bem do mundo, que é a perfeição, a sabedoria, a autoridade, a ordem, a concórdia e as outras virtudes que admiramos entre os papistas, se a doutrina é má e para a salvação só a doutrina é indispensável?...

    “Permiti que vos dê um conselho? Para julgar entre a Igreja papista e a nossa, atendei à doutrina e não às aparências”.

    Fonte: P. Arbiter, Die christl. Busselehre mit der papitschen verglichen, Magdeburg, F. 2, 3. Ironia das coisas! A depravação dos costumes da Igreja Romana fora o pretexto da revolta religiosa que se apresentou ao povo sob o especioso nome de Reforma.

    Ora, diante da corrupção avassaladora que babilonizava os povos, diante dos desmandos protestantes, a cuja comparação os costumes católicos eram confessadamente a perfeição, a ordem, a sabedoria, e outras virtudes admiráveis, que fazem os paladinos da regeneração do cristianismo?

    Em lugar de arrepiarem carreira, proclamam a dissolução moral uma bagatela para desprezar-se e apelam cinicamente para a doutrina, – para esta doutrina, que abalando os princípios, negando a liberdade, inculcando o pecca fortiter, assegurando a certeza da salvação sem virtudes, a inadmissibilidade da graça, emancipara as consciências da lei e da responsabilidade, abrira a porta a todos os desmandos, soltara o freio a todos os apetites brutais, estimulara todas as paixões, divinizara o pecado!

    Eis a obra-prima do fanatismo!





    Degeneração do casamento e desprezo da mulher

    Mas não paremos nas linhas gerais deste quadro moral digno dos tempos do paganismo.

    Examinemos-lhe por miúdo as particularidades vergonhosas. Só contrafeito é que revolvemos esta vermineira em fermentação.

    Mas como ao médico, também ao historiador e ao moralista incumbe, por vezes, este penoso dever. A verdade merece que lhe sacrifiquemos os melindres de uma delicadeza descabida.

    O catolicismo plantara sobre os restos putrefatos do paganismo uma flor desconhecida da humanidade: a pureza.

    Fecundados pela seiva cristã, medraram os lírios no sacerdócio, no matrimônio, na juventude, em todas as idades, em todas as condições, em todas as camadas da sociedade.

    O “sentido depravado”, de que nos fala Lacordaire, continuou sempre a exercer sobre a argila humana a tirania das suas seduções, mas a Igreja não cedeu nunca, não transigiu nunca com a fraqueza da carne.

    O ideal de pureza, conservou-o sempre elevado a iluminar com as suas luzes as trevas das eras barbáricas e a atrair com os seus encantos as almas nobres e sedentas de amor e de sacrifício.

    À sua sombra reuniu-se em todos os tempos um manípulo de escol: exemplo vivo aos contemporâneos dos heroísmos da abnegação, espetáculo de paraíso a exercer sobre as multidões da terra a influência saneadora da virtude celeste em ação.



    Ulrich Zwinglio: “Bem sabeis a vida vergonhosamente nefanda
    que temos levado com mulheres que induzimos ao mal”.
    O primeiro cuidado da Reforma foi destruir este jardim do céu. Os seus chefes, cansados do celibato, procuraram no matrimônio um remédio aos apetites que já não sentiam força de refrear.

    Em 1522, Zwinglio, em seu nome e no de alguns outros sacerdotes, apresentava aos magistrados uma súplica em que, entre outras coisas edificantes, dizia:

    “Bem sabeis a vida vergonhosamente nefanda que até aqui (falamos só de nós) infelizmente temos levado com mulheres que induzimos ao mal e com as quais temos dado muitos escândalos”.

    Fonte: Zwinglio, Werke, I, 225. Ao mau exemplo estava reservada mais alta consagração. Lutero, que já se havia dado a todos os excessos da embriaguez e da crápula, pôs o remate à sua vida licenciosa, profanando criminosamente com uma ex-freira, ele, ex-frade, um corpo duplamente sagrado virgem, pela unção sacerdotal e pelos juramentos da vida religiosa.

    Quando os pastores titulados são assim, não é difícil conjeturar o que será a grei comum dos anônimos.

    Os sacerdotes escandalosos bateram as palmas ao ouvir a “boa nova”, do evangelho de Wittemberga; os mosteiros de religiosos, esquecidos da dignidade da sua vocação, despovoaram-se.

    A grande tragédia da reforma terminou na comédia de um casamento universal. A expressão é de Erasmo:

    “Parece que a Reforma se resolve em desfradar alguns monges e casar alguns padres; e esta grande tragédia termina num desfecho cômico, porque tudo acaba num casamento como nas comédias”. Não se pode tocar impunemente na grande hierarquia das virtudes cristãs. À incontinência no celibato abriu Lutero a porta do matrimônio; à incontinência no matrimônio abriu a porta do divórcio.

    Quando esse apóstolo fogoso da dissolução bradou à Europa que o matrimônio não era sacramento, vibrou um golpe mortal à família cristã.

    Reduzido a simples contrato civil, o ato augusto que une os esposos, santificando-os, foi despojado de toda a sua dignidade. Renasceu o sensualismo e a família retrocedeu às eras pagãs.

    Ouçamos Fr. Staphylus que escrevia em 1562:

    “Enquanto o matrimônio foi considerado como sacramento, o pudor e a honestidade na vida conjugal eram estimados e amados, mas quando se leu nos livros de Lutero que o estado conjugal é uma invenção dos homens... logo os seus conselhos foram de tal modo atuados que, relativamente ao matrimônio há quase mais honestidade e dignidade na Turquia que entre os nossos evangélicos da Germânia”.



    Lutero e Calvino vituperaram o culto dos santos,

    mas acabaram sendo cultuados como santos à moda evangélica.

    Incorreram nas mesmas contradições a respeito da família.

    Vitral da igreja evangélica de Wiesloch, Baden-Wurtenberg, Alemanha.

    Fonte: Fr. Staphuylus, Nachdruck zu Verfechtung des Buchs vom rechten wahren Vorstandt des goettichen Worts, etc., Ingolstadt, 1562, fol. 202 b.
    Com a degeneração do matrimônio a mulher caiu no desprezo e na ignomínia. Mais que nenhum outro, para isso contribuiu Lutero com uma indignidade sem nome. Para o reformador a mulher não passa de “um animal estúpido” (Weimar, XV, 420), simples instrumento de satisfações sensuais do homem. Na vilania de sua linguagem, chega compará-la a uma vaca prenhe:


    “também as mulheres se cansam e finalmente arrebentam durante a gestação; não importa, deixá-las arrebentar, são para isso”. Erl. XX, 84.
    Façamos ponto aqui. Repugna-nos transcrever citações como estas.








    Da ‘segunda união’ ao ‘amor livre’ pelo divórcio e a poligamia



    Hnrique VIII, com a terceira mulher Jane Seymour
    de quem divorciou logo a seguir, (Hans Holbein).
    Também aqui um exemplo do alto devia inaugurar ruidosamente na cristandade o divórcio sancionado pelas autoridades religiosas da Reforma.

    Depois de 19 anos de união conjugal com Catarina de Aragão obcecado por uma paixão ilegítima, pediu Henrique VIII a dissolução do matrimônio sob pretexto de nulidade.

    Negou-lha a Igreja, que à complacência de frontes coroadas nunca sacrificou um princípio moral.

    Henrique rompe com a Sé Apostólica; a Tomás Moore, que, com serena hombridade, lhe repetia o non licet do Batista, manda, novo Herodes, decepar a cabeça; arvora-se em reformador e une-se com Ana Boleyn, que manda decapitar quatro meses depois.

    No dia da execução, o rei vestiu-se de branco e na manhã seguinte esposa Joana Seymour. Falecida Seymour a breve trecho, une-se a Ana de Cleves, para despedi-la logo, porque lhe não agradava.

    Agrada-lhe, porém, Catarina Howard, mas por pouco; seis meses apenas volvidos, manda cortar-lhe a cabeça por adultério. Finalmente casou com Catarina Paar, que sobreviveu ao tirano, e duas semanas depois da sua morte, já havia contraído novas núpcias.

    Fonte: Cfr. Dixon (protestante), History of the church of England from the aboliton of the roman jurisdiction, I, 384; II, 327; III, 9.

    E mister retroceder aos anos de decrepitude do paganismo e às monstruosidades impudicas e sanguinárias de Calígula ou de Tibério, para encontrar espetáculo semelhante. E foi neste charco de lodo e sangue que se embalou o berço da Reforma na Inglaterra!




    Jan van Leiden, líder da seita extremista 'anabatista'
    instalou em Münster um regime teocrático comunista e com poligamia.
    O divórcio é uma poligamia sucessiva. Quem o autorizou, por que havia de recuar diante da poligamia simultânea?

    Por que não havia de pregar para o homem “os costumes fanerógamos”, que mais tarde reclamará Fourier? Foi quanto fez o protestantismo.

    Os anabatistas logo de princípio professaram e praticaram, sem pejo, a mais desavergonhada poligamia. João de Leida, um dos seus chefes, contava nada menos que 14 mulheres.

    Direis: extremos de uma facção que se atirou logo à nimiedade dos mais escandalosos excessos de que se não deve responsabilizar toda a Reforma. Não, engano.

    O ponto foi estudado, discutido, à luz das Escrituras já se vê, e sancionado pelos grandes mestres da seita.

    Num comentário sobre o Gênese, afirma Lutero que “não é proibido ao homem ter mais de uma mulher”. Havendo Carlostadt autorizado uma bigamia, o chefe, consultado, respondia a 13 de janeiro de 1524:

    “Confesso chãmente não poder proibir que alguém tenha muitas mulheres. À Escritura não repugna; não quisera, porém, ser o primeiro a introduzir este exemplo entre cristãos”.

    Fonte: De Wette, II, 459.
    Em 1527:

    “Não é proibido que um homem possa ter mais de uma mulher; eu ainda hoje não o poderia impedir, mas não o quero aconselhar”.

    Weimar, XXIV, 305. O mesmo repete em 1528, Weimar, XXVI, 523 e em 1539, De Wette, VI, 243. No De Captivitate Babyloniae (Weimar, VI, 558) aconselha dessasombradamente a poligamia e a poliandria.

    Um episódio tirou-o logo desta hesitação e ofereceu-lhe a oportunidade de uma aplicação solene de sua edificante teoria.

    Felipe, landgrave de Hesse, não estava satisfeito com uma só esposa; queria outra de sobressalente para as freqüentes viagens fora dos seus domínios.

    Uma segunda consorte volante, além de muitas outras vantagens, representava a economia de enorme dispêndio no deslocamento da corte.

    Mas, evangélico de consciência delicada, queria estar em paz com Deus e a sua igreja. Recorre, para isto, aos representantes autorizados do novo cristianismo.




    Felipe, landgrave de Hesse: Lutero lhe autorizou ter várias mulheres.
    Na instrução dada a Bucero, o príncipe luterano declarava “que não queria por mais tempo ficar nos laços do demônio, mas que, para se libertar deles, não podia nem queria tomar outra via senão a que indicava (a da bigamia), e, por isso, pedia a Lutero, a Melanchthon e ao próprio Bucero que lhe dessem uma declaração por escrito, autorizando a segui-la”.

    Assim, acrescentava ele, “se poderia viver mais alegremente, morrer pela causa do Evangelho, e empreender-lhe a defesa” contra os adversários.

    Uma vez obtida a almejada licença, “far-lhes-ia tudo o que razoavelmente lhes pedissem como os bens dos mosteiros ou outras coisas semelhantes”. Em caso de recusa, ameaçava-lhes politicamente de recorrer ao imperador.

    O landgrave sabia tocar todas as teclas sensíveis aos reformadores: o receio de um apelo ao imperador (era Carlos V), a perspectiva de novos bens eclesiásticos, a promessa de pôr as armas ao serviço do evangelho contra os papistas.

    Quem, por um pontinho insignificante de moral cristã, havia de resistir à bateria de tantas seduções?

    Reuniu-se o conselho, folheou-se a Escritura... e tudo se pôde legitimar. “Em consciência tranqüila podia o landgrave esposar segunda mulher, se a isto estivesse decididamente resolvido, contanto que o caso se conservasse secreto”.

    O crime, praticado às ocultas, deixava de o ser. De fato, o segundo matrimônio foi celebrado em forma.

    O príncipe declarou tomar segunda esposa “não por leviandade ou curiosidade”, senão por “necessidades inevitáveis do corpo e da consciência, que sua alteza havia explicado a muitos doutos, prudentes, cristãos e devotos pregadores, os quais lhe haviam aconselhado de assim tranqüilizar a alma e pôr em paz o espírito”, escrupuloso e delicado.

    Com efeito, o precioso documento de autorização havia sido assinado por Lutero, Melanchthon, Bucero e cinco outros evangélicos teólogos de Wittemberga.

    Fonte: Quem não dispuser de outros livros à mão poderá consultar os documentos autênticos deste edificantíssimo episódio em Bossuet, Histoire de variations, em anexo ao l. VI, ou melhor ainda em Janssen, Geschichte des deutschen Volkes,III (17-18), pp. 450-454, onde vêm indicadas as fontes.





    Extinguindo a santidade do matrimônio com a pastoral ‘misericordiosa’ de Lutero



    Martinho Lutero arvorou o estandarte da incontinência
    e atraiu os que são consumidos pelas paixões animais.
    Custa a crer, mas a realidade histórica entra-nos pelos olhos com a força convincente de uma evidência irrecusável.

    O exemplo do landgrave não ficou sem imitadores nas cortes protestantes. Jorge IV (m. 1694), príncipe eleitor da Saxônia, vivendo a primeira mulher, casou-se publicamente com uma concubina, alegando a autoridade da Escritura e os exemplos de concessão semelhante outorgada “pela nossa igreja”.

    Frederico Guilherme II, que já tinha dado a mão direita à rainha, deu a esquerda a Júlia de Voss.

    O Rev. Zoellner pregador da corte a 25 de maio de 1787 abençoou o novo matrimônio na capela do castelo de Charlottemburgo. Eberardo Luís (m. 1739), duque de Würtemberg, Carlos Luís (m. 1680), príncipe eleitor palatino, Frederico IV (m. 1730) rei da Dinamarca, com público matrimônio, duplicaram solenemente as respectivas esposas.

    A abolição do celibato, a permissão do divórcio, a sanção oficial da poligamia, pregadas, praticadas, inculcadas, autorizadas pelos chefes reformistas, fácil é de ver que repercussão corruptora teriam nas multidões iluminadas pela luz do novo e consolador evangelho.

    A dissolução extravasou como uma cheia imunda e ameaçou afundar a sociedade numa inundação de lama. Aos documentos.

    Em 1552 escrevia Staupitz a Lutero que a sua doutrina só era abraçada pelos que “lupanaria colunt”. Fonte: De Wette, II, 215.

    “Sob este reino do Evangelho, dizia Wizel, vêem-se homens e mulheres que no mesmo dia da morte do próprio consorte já se ocupam em lhe dar sucessor.

    “Há quem creia de boa fé ser consoante ao espírito do evangelho não ficar um instante sem mulher e tema pecar conservando-se alguns meses em estado de viuvez”.

    Fonte: Wizel, Von den todten und ihrem Begraebnisse,Leipzig, 1536, G. a B.
    “Desde que Lutero, é Czecanovius quem fala, arvorou o estandarte da incontinência, todos os que comem, bebem e sentem o aguilhão das paixões animais, correram sem pejo a alistar-se sob a nova bandeira.

    “Os jovens não cessam de entregar-se abertamente à dissolução... e as jovens desonradas sabem, como os jovens, entrincheirar-se nos seus vícios com as leis de Lutero”.




    Extinguindo a santidade do matrimônio com a pastoral ‘misericordiosa’ de Lutero
    o inferno entrou na família.
    Fonte: Sylvester Czecanovius, De corruptis moribus utriusque partis, pontificorum videlicet et evangelicorum, s. l. et a. F. 3. ss.
    A imoralidade subiu a tal ponto que no dizer de Ossiandro (1537):

    “coisa monstruosa! a inocência e a honra das mulheres correm justamente maiores perigos entre os que mais interesse têm em conservá-las, entre os próprios parentes”.
    Fonte: Osiander, V. d. verbotenen Heirathen,A. 2. Aos lamentos individuais vêm associar-se as medidas de ordem pública.

    Em Norimberga vemos que nos anos de 1524, 1525 e 1527 o conselho não pôde dar vazão aos processos de bigamia que se amontoavam de um dia para outro; por este motivo, dirige-se aos doutos para saber que providências cumpria adotar a fim de obviar as graves consequências da nova doutrina sobre o matrimônio.

    Fonte: Cfr. Nürnberg Rathsbücher,1524, Fasc. III, fol. 6; 1525, Fasc. XI, f. 9, II, 16; 1527; Fasc. XIV, f. 2, 5. Em Würtemberg, no ano de 1534, promulga-se uma ordenação contra as pessoas brutais que, conculcando os sentimentos do pudor mais rudimentar entre povos civilizados, não se pejavam de contrair matrimônios com consanguíneos do 3º e 2º grau (entre irmãos e irmãs: Lutero declarara lícitas semelhantes uniões).

    Na lei sobre o matrimônio publicada em 1586, na mesma cidade, queixava-se o legislador “que a dissolução se tomava tão comum que apenas se considerava como pecado”.

    Fonte: Sattler, Würtemberg, Gesch, III, Beil, p. 140; V. 102.
    No principado de Ansprach, uma memória dirigida em 1530 ao margrave Jorge pede-lhe:

    “a fundação nos seus estados de um tribunal matrimonial para dar despacho ao grande número de petições de separação e processos de adultério, para os quais já não eram bastantes os juízes ordinários”.

    Dois anos depois André Altamer suplicava de novo ao príncipe

    “quisesse levar em séria consideração a frequência, de dia para dia, mais notável, dos adultérios, a fim de que se possam determinar os meios de repressão de tão grande mal e ao mesmo tempo pôr obstáculos ao divórcio e ao concubinato que, a se descurarem, acabarão por invadir toda a sociedade”.

    Fonte: Religionsakta, t. XI. Ver a miscelânea em apêndice.


    Trocava-se de mulher como se troca de roupa branca ou de cavalo
    Na Saxônia, na Prússia, no Brunswick e no Hannover idênticas providências públicas contra a corrupção introduzida pela Reforma.

    Fora da Alemanha, o puro evangelho produziu os mesmos efeitos desastrosos.

    Na Dinamarca, Frederico II, em 1576, toma sérias medidas contra as transgressões do 6º mandamento.

    “Assim o fazemos, rezava o decreto, em consideração das inumeráveis queixas que nos chegaram da medonha libertinagem que reina presentemente em nossos estados entre jovens e senhoras casadas. ...”

    Na Suécia, uma ordenação de 1554 chama a atenção dos magistrados contra o mesmo vício,

    “visto como os habitantes das fronteiras que fazem frequentes viagens entre a Suécia e a Dinamarca não costumam ligar grande importância aos vínculos contraídos, tomam e deixam sucessivamente várias mulheres como quem muda de roupa branca ou de cavalos”.

    Na Noruega, dirigida a Frederico IV em 1714, os “bispos” confessam que:

    “com exceção de poucos filhos de Deus, entre nós e os pagãos, nossos ascendentes só há uma diferença: é que nós temos o nome de cristãos”.

    Fonte: Cit. por Doellinger, Kirche und Kirchen, München, 1861, p. 362.
    Na Inglaterra, o próprio Henrique VIII declara ao parlamento que as consequências imediatas da Reforma foram

    “a caridade esmorecida, a lei de Deus desprezada, a avareza, a opressão, o homicídio, a venalidade da justiça, a corrupção do clero, o adultério, a libertinagem, a inveja nos grandes, a insolência e a revolta do povo”.

    Fonte: Cit Aug. Nicolas, Du protestantisme et de toutes les hérésies dans leur rapport avec le socialisme, L. III, c. 4 (na trad. italiana, Milano, 1857, p. 238).




    O ‘reino do Evangelho’ vira ‘império da embriaguez e de todos os vícios’



    Lutero: “Quando eu era jovem, a embriaguez era grande ignomínia
    ... (agora) a Alemanha é um país pobre, ferido pelo diabo do copo
    e de todo submergido neste vício”
    Ilustração: 'O vinho da festa de São Martinho'.
    Pieter Bruegel (1525-1530 — 1569), detalhe.
    Companheiras inseparáveis da impureza são a embriaguez e a crápula; uma não cresce sem que se desenvolvam as outras.

    “Os nossos bons velhos, diz o reformador Diogo André, não admitiam os bêbados em nenhuma função pública; o mundo os detestava; as crianças perseguíam-nos nos campos com gritos e apupos como a seres abjetos e opróbrio da espécie humana.

    “Ora, se estes eram os sentimentos dos nossos pais, num tempo em que o mundo vivia ainda nas trevas da idolatria papística, como nos poderemos justificar diante de Deus, nós que retouçamos na crápula entre os esplendores da luz evangélica?

    “Perguntará talvez alguém como explicar que poucos anos tenham bastado a soltar as rédeas a vicio tão execrando e que os nossos maiores tinham em tanto horror.

    “Ao que responderei que só por malefício do demônio se poderá explicar tão grande mal”.

    Fonte: Jacobus Andreas, Erinnerung nach dem Lauf der Planeten gestellt, Tübingen, 1568, p. 440.


    Veit Dietrich: “de todos os lados se clama que os homens
    são hoje piores que antes da propagação do evangelho...
    não se via outrora esse exército de sórdidos avarentos e onzeneiros”.
    A Festa de Baco, Diego Velázquez (c.1628-9)
    Com André concorda o próprio Lutero.

    “Quando eu era jovem, a embriaguez era uma grande ignomínia na nobreza... mas presentemente ela é mais frequente entre os nobres que entre os camponeses.

    “Seu horror e vergonha contaminou também a juventude que aprende dos velhos... Por isso, a Alemanha é um país pobre, castigado e ferido pelo diabo do copo e de todo submergido neste vício”.

    Fonte: Erl., VIII, 293 ss. Leia-se todo este lugar. Por esse tempo chegou a formar-se na Alemanha uma ordem de beberrões, provavelmente em substituição das antigas ordens monásticas.

    Primeira condição para ser nela admitido era a capacidade de beber bem. O resto seguia-se naturalmente...

    Nos charcos da dissolução não há seiva para o espírito de sacrifício e sem sacrifício definha e morre a mais bela das virtudes, a caridade cristã.

    Em seu lugar crescem e desenvolvem-se todos os vícios que gravitam em torno do egoísmo: avareza, usura, rapacidade, ambição, opressão de fracos e pobres. é o triste espetáculo que ainda nos oferece a Reforma.

    “De todos os lados se clama que os homens são hoje piores que antes da propagação do evangelho. Com efeito não se via outrora esse exército de sórdidos avarentos e onzeneiros que são a vergonha do nosso tempo...

    “Os que outrora eram acusados de usurários eram santos em confronto destes ignóbeis judeus que, se bem se contem entre as pessoas honestas, engordam hoje com a substância dos pobres...




    A tentação de Santo Antônio.
    Hyeronimus Bosch (ca. 1450-1516), detalhe.
    “De que poderá isto provir? O mundo acusa a boa semente, a santa palavra e é natural.

    “Os papistas, nossos adversários, não são tão cegos que não vejam o escândalo, a avareza, o egoísmo, a cobiça, a usura, o orgulho, o luxo, a intemperança, a blasfêmia, a libertinagem, a mentira, etc., que se acobertam com o Evangelho.

    “Dizem que todas estas abominações são seus frutos. Se a doutrina fosse boa, argumentam eles, os costumes seriam como ela. Não há dúvida que tudo isso causa grande prejuízo ao nosso evangelho”.

    Fonte: Veit Dietrich, Kinderpostille, Nürnberg, 1546, f. 34, 62, 76.. Excelente, precioso evangelho!

    “Lançai um olhar sobre as transações cotidianas assim entre pastores: como entre a gente do mundo. Que vedes senão egoísmo, avareza, rapacidade?

    “Hoje, reina o dinheiro. Combatem-se, dilaceram-se, arruínam-se mutuamente os homens só por havê-lo...

    “Refinaram com tanta sutileza os meios de ganhar e gozar que se chegou a perder o sentimento da vergonha e do opróbrio...

    “Não há mais consciência, não há mais remorso desde que os homens se persuadiram que as obras não valem e que só a fé basta para a salvação”.

    Fonte: Frank's Chronik, I, F. 262, a. b. Ed. 1565. Infelizmente é-me necessário ter mão nas citações, que se poderiam ainda multiplicar sem outra dificuldade que a da escolha.





    Desaparição do amor e do respeito ao pobre

    Não posso, porém, deixar de chamar a atenção dos leitores para as modificações introduzidas pela Reforma nas relações de caridade entre ricos e pobres.

    A introdução do protestantismo vibrou um golpe de morte contra o espírito da fraternidade cristã.

    Desapareceram o amor e o respeito ao pobre.

    Aboliram-se, aos poucos, os santos costumes que tanto contribuíam para estreitar os laços de simpatia entre os que a Providência desigualou na fortuna.

    É impossível não ver nesta ruptura com as tradições da genuína caridade cristã a primeira origem das rivalidades e ódios de classes que, aumentando com a revolução francesa, vieram em nossos dias a desencadear-se como verdadeiro cataclismo social, que ameaça a estabilidade da civilização moderna.

    Fiéis ao nosso programa, demos a palavra a testemunhas contemporâneas.

    “No passado havia cristãos que amavam os pobres ao extremo de chamá-los seus senhores, seus filhos; lavavam-lhes os pés; davam-lhes de comer, serviam-nos à mesa como nosso Senhor Jesus Cristo.

    “Hoje, se lhes proíbe a entrada nas cidades; expulsam-nos e fecham-lhes a porta no rosto como se foram réprobos e inimigos públicos...

    “Que purificação da Igreja! Que Reforma! Que elementos de união e de concórdia!”.

    Fonte: Wizel, Relectio luterismi, II, f. 91-246. Falando do pauperismo na Inglaterra, tivemos ensejo de notar como entre os protestantes se perpetuou semelhante maneira de tratar a pobreza desvalida.

    “Era uso antigo na Saxônia, diz-nos outro reformador, quando se convidava algum estranho, de trazer uma grande bandeja, chamada a bandeja de Deus, na qual de todos os pratos se punha uma porção para os pobres.

    “Este caridoso uso infelizmente já vai muito em decadência nas nossas famílias. Era também costume nos domingos e dias de festa oferecer jantar a algum pobre pensionário do hospital ou a outro indigente.

    “Hoje só em poucas famílias se conserva esta boa usança”.

    Fonte: Chemnitz, Postille, p. 517. Sermão para a XVII Dom. depois da SS. Trindade. Façamos ponto aqui e concluamos. Evidentemente, a Reforma traz no seu nome o mais pungente dos epigramas. A história no-la mostra, como um grande aborto moral.

    Em baixo deste quadro de cores tão carregadas escrevei as inocentes palavras do Sr. Carlos Pereira:

    “A Reforma pôs um dique a esses desregramentos... o puritanismo protestante salvou o mundo da completa dissolução dos costumes”.



    Bibliografia.
    Balmes, El protestantismo comparado con el catolicismo,c 23-32;

    Baudrillart, L'Eglise calholique, la Renaissance et le Protestantisme, Paris, 1908 ;

    H. Denifle, Luther und Luthertum in der ersten quellenmaessig dargestellt, Mainz, 1904, t. 1 passim ;

    Doellinger, Die Reformation, ihre innere Entwicklung und ihre Wirhungem im Umfange des lutherischen Bekenntnissen,Regensburg, 1846-1848, t. II, pp. 427-452 ; t. III;

    Grisar, Luther, Freiburg i. B., 1911, c. 21, pp. 538-63 ;

    Janssen, Geschichte des deustschen Volkes t. VIII, Freiburg i. B., 1894 pp. 359-493;

    Auguste Nicolas, Du protestantisme et de toutes les hérésies dans leur rapport avec le socialisme, l. II, cc. 4-5; l. 111, c 4 ;

    Henry O' Connor, The only reliable evidence concerning Martin Luther, London, Burns & Oates, 1884, pp. 50-57.

    FIM



    Autor: Pe Leonel Franca S.J., “A Igreja, a Reforma e a Civilização”, in Obras completas do Pe Leonel Franca S.J., vol. II, 7ª ed., Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1958. (págs. 375-405)

    O livro “A Igreja, a Reforma e a Civilização” do Pe. Leonel Franca S.J.


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    ANEXOS


    Profissão de fé de São Pedro Canísio S.J.: “abomino Lutero, detesto Calvino, amaldiçoo todos os hereges”



    São Pedro Canísio S.J. (1521-1597).
    Doutor da Igreja chamado “Martelo dos Hereges”.

    São Pedro Canísio S. J. (1521-1597), holandês foi o primeiro jesuíta da província alemã da Companhia de Jesus.

    É considerado pela Igreja como o segundo mais importante apóstolo da fé católica na Alemanha, após São Bonifácio.

    Foi apelidado “Martelo dos Hereges” pela clareza e eloquência com que criticava as posições dos cristãos não católicos. Foi canonizado e proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Pio XI em 1925.

    Veja mais sobre a vida de São Pedro Canísio em CATOLICISMO.

    Assim reza a Profissão de fé do santo e douto jesuíta:

    Professo diante de Vós a minha fé, Pai e Senhor do Céu e da terra, Criador e Redentor meu, minha força e minha salvação, que desde os meus mais tenros anos não cessastes de nutrir-me com o pão sagrado da vossa Palavra e de confortar o meu coração.

    A fim de que eu não vagasse, errando como as ovelhas transviadas que não têm pastor, Vós me congregastes no seio de vossa Igreja; colhido, me educastes; educado, continuastes a me ensinar com a voz daqueles Pastores nos quais Vós quereis ser ouvido e obedecido como em pessoa pelos vossos fiéis.

    Confesso em alta voz, para a minha salvação, tudo aquilo que os católicos sempre acreditaram de bom direito em seus corações.

    Abomino Lutero, detesto Calvino, amaldiçoo todos os hereges; não quero ter nada em comum com eles, porque não falam nem ouvem retamente, nem possuem a única regra da verdadeira Fé proposta pela Igreja una santa católica apostólica e romana.

    Uno-me, em vez disso, na comunhão, abraço a fé, sigo a religião e aprovo a doutrina daqueles que ouvem e seguem a Cristo, não apenas quando ensina nas Escrituras, mas também quando julga pela boca dos Concílios Ecumênicos e define pela boca da Cátedra de Pedro, testemunhando-a com a autoridade dos Padres.

    Professo-me também filho daquela Igreja romana que os ímpios blasfemos desprezam, perseguem e abominam como se fosse anticristã; não me afasto de nenhum ponto de sua autoridade, nem me recuso a dar a vida e derramar o meu sangue em sua defesa, e creio que os méritos de Cristo podem obter a minha salvação e a de outros somente na unidade desta mesma Igreja.




    São Pedro Canísio S.J. col priv.
    O segundo maior apóstolo da fé católica na Alemanha.
    Professo francamente, com São Jerônimo, de ser unido com quem é unido à Cátedra de Pedro, e protesto, com Santo Ambrósio, seguir em todas as coisas aquela Igreja romana que reconheço respeitosamente, com São Cipriano, como raiz e mãe da Igreja universal.

    Confesso essa Fé e doutrina que aprendi ainda criança, confirmei na juventude, ensinei como adulto, e que agora, com minha força débil, defendi.

    Ao fazer esta profissão, não me move outro motivo senão a glória e honra de Deus, a consciência da verdade, a autoridade das Sagradas Escrituras, o sentimento e o consenso dos Padres da Igreja, o testemunho de fé que devo dar aos meus irmãos e, finalmente, a salvação eterna que espero no Céu e a felicidade prometida aos verdadeiros fiéis.

    Se acontecer de eu vir a ser desprezado, maltratado e perseguido por causa desta minha profissão, considerá-lo-ei uma graça e um favor extraordinários, porque isso significará que Vós, meu Deus, me destes a ocasião de sofrer pela justiça e não quereis que me sejam benevolentes aqueles que, como inimigos declarados da Igreja e da verdade católica, não podem ser vossos amigos.

    No entanto, perdoai-os, Senhor, porque, instigados pelo diabo e cegados pelo brilho de uma falsa doutrina, não sabem o que fazem, ou não querem saber.

    Concedei-me, contudo, esta graça: de que na vida e na morte eu renda sempre um testemunho autêntico da sinceridade e fidelidade que devo a Vós, à Igreja e à verdade, que não me afaste jamais do vosso santo amor, e que esteja em comunhão com aqueles que Vos temem e guardam os vossos preceitos na Santa Igreja romana, a cujo juízo, com ânimo pronto e respeitoso, eu me submeto e toda a minha obra.

    Todos os santos, triunfantes no Céu ou militantes na terra, que estais indissoluvelmente unidos no vínculo da paz na Igreja Católica, mostrai a vossa imensa bondade e rezai por mim.

    Vós sois o princípio e o fim de todos os meus bens; a Vós sejam dados, em tudo e por tudo, louvor, honra e glória sempiterna. Amém.



    (Fonte: Pe. Benigno Hernández Montes, S.J. (1936-1996), “San Pedro Canisio, autobiografia y otros escritos”, Editorial Sal Terrae, Santander, 2004, 366 páginas. Cfr. páginas 121 e 122. Link: CLIQUE AQUI)

    Nota do Autor: 97. Esta profissão de fé foi impressa por Canísio em vários de seus livros a partir de 1571, ano em que a publicou por vez primeira em sua Summa doctrinae christianae.

    As principais razões desta pública profissão da fé foram que em 1568 espalhou-se em algumas regiões que Canísio tinha ficado protestante e que alguns de seus adversários (como Felipe Melanchton, João Marbach e João Gnyphaeus) afirmavam em seus livros que Canísio defendia a doutrina católica malgrado saber que era falsa.

    Nesta belíssima página Canísio manifesta sua firmeza na fé católica, sua adesão inquebrantável à Igreja de Roma e ao Sumo Pontífice, seu rechaço frontal do protestantismo e a disposição a dar sua vida pela Fé católica. (id. ibid., p. 121)

    Também em italiano: Corrispondenza Romana, 13 gennaio 2016 - 12:08.






    Lutero: não e não



    Com Lutero no centro, a assembleia dos heresiarcas protestantes
    concordou num ponto especialmente blasfemo: o homem peca por vontade de Deus!




    Plinio Corrêa de Oliveira
    (São Paulo, Brasil, 1908-1995)
    Catedrático de História da PUC-SP.
    Fundador da TFP.
    O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
    – IPCO, perpetua sua obra
    e seus ensinamentos.







    Tive a honra de ser, em 1974, o primeiro signatário de um manifesto publicado em cotidianos dos principais do Brasil e reproduzido em quase todas as nações onde existiam as então onze TFPs.

    Era seu titulo: “A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas – Para a TFP: omitir-se? Ou resistir?” (cfr. “Folha de S.Paulo”, 10-4-74).

    Nele, as entidades declararam seu respeitoso desacordo face à “ostpolitik” conduzida por Paulo VI, e expunham pormenorizadamente suas razões para tanto. Tudo – diga-se de passagem – expresso de maneira tão ortodoxa que ninguém levantou a propósito qualquer objeção.

    Para resumir numa frase, ao mesmo tempo toda a sua veneração ao Papado e a firmeza com a qual declaravam sua resistência à “ostpolitik” vaticana, as TFPs diziam ao Pontífice:

    “Nossa alma é Vossa, nossa vida e Vossa. Mandai-nos o que quiserdes só não nos mandeis que cruzemos os braços diante do lobo vermelho que investe. A isto nossa consciência se opõe”.

    Lembrei-me desta frase com especial tristeza, lendo a carta escrita por João Paulo 2º ao cardeal Willebrands (cfr “L'Osservatore Romano”, 6-11-83), a propósito do quingentésimo aniversário do nascimento de Martinho Lutero, e assinada no dia 31 de outubro p.p. data do primeiro ato de rebelião do heresiarca, na Igreja do castelo de Wittenberg.

    Está ela repassada de tanta benevolência e amenidade, que me perguntei se o Augusto signatário esquecera as terríveis blasfêmias que o frade apóstata lançara contra Deus, Cristo Jesus Filho de Deus, o Santíssimo Sacramento, a Virgem Maria e o próprio Papado.

    O certo e que ele não as ignora, pois estão ao alcance de qualquer católico culto em livros de bom quilate, os quais ainda hoje não são difíceis de obter.

    Tenho em mente dois deles. Um, nacional, é “A Igreja. a Reforma e a Civilização” do grande jesuíta Pe. Leonel Franca. Sobre o livro e o autor os silêncios eclesiásticos oficiais vão deixando baixar a poeira.

    O outro livro é de um dos mais conhecidos historiadores franceses deste século, Funck-Brentano, membro do Instituto de França, e aliás insuspeito protestante.

    Comecemos por citar textos colhidos na obra deste último: “Luther” (Grasset, Paris, 1934, 7ª ed., 352 pp.).

    E vamos diretamente a esta blasfêmia sem nome:




    Martinho Lutero foi frade agostiniano apóstata
    “Cristo – diz Lutero – cometeu adultério pela primeira vez com a mulher da fonte, de que nos fala João. Não se murmurava em torno dele: ‘Que fez, então, com ela?’

    “Depois com Madalena, em seguida com a mulher adúltera, que ele absolveu tão levianamente. Assim Cristo, tão piedoso, também teve de fornicar, antes de morrer” (“Propos de table”, nº 1472, ed. de Weimar 2. 107 – cfr op. cit. p.235).

    Lido isto, não nos surpreende que Lutero pense – como assinala Funck-Brentano – que “certamente Deus é grande e poderoso, bom e misericordioso (...) mas é estúpido – ‘Deus est stultissimus’, (“Propos de table” nº 963, ed. de Weimar, I, 487).

    “É um tirano. Moisés agia movido por sua vontade, como seu lugar-tenente, como carrasco que ninguém superou, nem mesmo igualou em assustar, aterrorizar e martirizar o pobre mundo” (op, cit. p. 230).

    Tal está em estrita coerência com estoutra blasfêmia, que faz de Deus o verdadeiro responsável pela traição de Judas e pela revolta de Adão:

    “Lutero – comenta Funck-Brentano – chega a declarar que Judas, ao trair Cristo, agiu sob imperiosa decisão do Todo-Poderoso. Sua vontade (a de Judas) era dirigida por Deus; Deus o movia com sua onipotência.

    “O próprio Adão, no paraíso terrestre, foi constrangido a agir como agiu. Estava colocado por Deus numa situação tal que lhe era impossível não cair” (op. cit., p. 246).

    Coerente ainda nesta abominável sequência, um panfleto de Lutero intitulado “Contra o pontificado romano fundado pelo diabo”, de março de 1545, chamava o Papa, não “Santíssimo”, segundo o costume mas “infernalíssimo”, e acrescentava que o Papado mostrou-se sempre sedento de sangue (cfr. op. cit. 337-338).

    Não espanta que, movido por tais ideias, Lutero escrevesse a Melanchton, a propósito das sangrentas perseguições de Henrique 8º contra os católicos da Inglaterra.

    “É lícito encolerizar-se quando se sabe que espécie de traidores, ladrões e assassinos são os papas, seus cardeais e legados. Prouvesse a Deus que vários reis da Inglaterra se empenhassem em acabar com eles” op. cit., p. 254).

    Por isso mesmo exclamou ele também: “Basta de palavras: o ferro! o fogo”, E acrescenta: “Punimos os ladrões à espada. por que não havemos de agarrar o papa, cardeais e toda a gangue da Sodoma romana e lavar as mãos no seu sangue?” (op. cit. p. 104).

    Esse ódio de Lutero o acompanhou até o fim da vida. Afirma Funck Brentano: “Seu último sermão publico em Wittenberg é de 17 de janeiro de 1546: o ultimo grito de maldição contra o papa, o sacrifício da missa, o culto da Virgem” (op. cit. p 340).

    Não espanta que grandes perseguidores da Igreja tenham festejado a memória dele.




    Fac-símile do artigo "Lutero não e não", FSP 27-12-1983. Acervo Folha
    Assim “Hitler mandou proclamar festa nacional na Alemanha a data comemorativa de 31 de outubro de 1517, quando o frade agostiniano revoltoso afixou nas portas da igreja do castelo de Wittenberg as famosas 95 proposições contra a supremacia e as doutrinas pontifícias” (op. cit., p.272 ).

    E, a despeito de todo o ateísmo oficial do regime comunista, o Dr. Erich Honnecker, presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Defesa, o primeiro homem da Republica Democrática Alemã [N.R.: comunista, dependente da Rússia soviética], aceitou a chefia do comitê que, em plena Alemanha vermelha, organizou as espalhafatosas comemorações de Lutero neste ano (cfr. “German Comments”, de Osnabruck, Alemanha Ocidental, abril de 1983).

    Que o frade apóstata tenha despertado tais sentimentos num líder nazista, como mais recentemente no líder comunista, nada de mais natural.

    Nada mais desconcertante – até vertiginoso, do que o ocorrido quando da recentíssima comemoração do quingentésimo aniversario do nascimento de Lutero num esquálido templo protestante de Roma no dia 11 do corrente.

    Desse ato festivo, de amor e admiração à memória do heresiarca, participou o prelado que o conclave de 1978 elegeu Papa.

    E ao qual caberia, portanto, a missão de defender, contra heresiarcas e hereges, os santos nomes de Deus e de Jesus Cristo, a Santa Missa, a Sagrada Eucaristia e o Papado!

    “Vertiginoso, espantoso” – gemeu, a tal propósito meu coração de católico. Que, sem embargo, com isto redobrou de fé e veneração pelo Papado.

    No próximo artigo me resta citar “A Igreja, a Reforma e a Civilização”, do grande Pe. Leonel Franca.






    Lutero pensa que é divino



    O sono da razão e da Fé em Lutero e em sequazes produziu monstros.
    Francisco Goya, (1746-1828). Museu do Prado, Madri.
    Não compreendo como homens de Igreja contemporâneos, inclusive dos mais cultos, doutos ou ilustres, mitifiquem a figura de Lutero, o heresiarca, no empenho de favorecer uma aproximação ecumênica, de imediato com o protestantismo, e indiretamente com todas as religiões, escolas filosóficas etc.

    Não discernem eles o perigo que a todos nos espreita, no fim deste caminho, ou seja, a formação, em escala mundial, de um sinistro supermercado de religiões filosofias e sistemas de todas as ordens, em que a verdade e o erro se apresentarão fracionados, misturados e postos em balbúrdia?

    Ausente do mundo só estaria – se até lá se pudesse chegar – a verdade total; isto é, a fé católica apostólica romana, sem nódoa nem jaça.

    Sobre Lutero – a quem caberia, sob certo aspecto, o papel de ponto de partida nessa caminhada para a balbúrdia total – publico hoje mais alguns tópicos que bem mostram o odor que sua figura revoltada espargiria nesse supermercado ou melhor, nesse necrotério de religiões, de filosofias, e do próprio pensamento humano.

    Segundo em anterior artigo prometi, tiro os da magnífica obra do padre Leonel Franca S.J., “A Igreja, a Reforma e a Civilização” (Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 3ª ed., 1934, 558 pp.).

    Elemento absolutamente característico do ensinamento de Lutero é a doutrina da justificação independente das obras.

    Em termos mais chãos, que os méritos superabundantes de Nosso Senhor Jesus Cristo só por si asseguram ao homem a salvação eterna.

    De sorte que se pode levar nesta terra uma vida de pecado, sem remorsos de consciência, nem temor da justiça de Deus.




    Numa famosa meditação, Lutero defendeu como sendo seu ideal moral,
    a vida do porco no lamaçal.
    A voz da consciência era, para ele, não a da graça, mas a do demônio!

    1. Por isso escreveu a um amigo que o homem vexado pelo demônio, de quando em quando “deve beber com mais abundância, jogar, divertir se e mesmo fazer algum pecado em ódio e acinte ao diabo, para lhe não darmos azo de perturbar a consciência com ninharias (...)

    “Todo o decálogo se nos deve apagar dos olhos e da alma, a nós tão perseguidos e molestados pelo diabo” (M. Luther, “Briefe, Sendschreiben und Bedenken”, e, De Wette, Berlim, 1825 1828 cfr. op. cit., pp. 199 200).

    2. Neste sentido, escreveu ele também:

    “Deus só te obriga a crer e a confessar. Em todas as outras coisas te deixa livre e senhor de fazeres o que quiseres, sem perigo algum de consciência; antes e certo que, de si, Ele não se importa, ainda mesmo se deixasses tua mulher, fugisses do teu senhor e não fosses fiel a vínculo algum.

    “E que se lhe dá (a Deus), se fazes ou deixas de fazer semelhantes coisas?” (“Werke”, ed. de Weimar, 12, pp. 131 ss. cfr. op. cit., p. 446).

    3. Talvez ainda mais taxativo é este incitamento ao pecado, em carta a Melanchton, de 1° de agosto de 1521:

    “Sê pecador, e peca a valer (esto peccator et pecca fortiter), mas com mais firmeza ainda crê e alegra te em Cristo, vencedor do pecado, da morte e do mundo.




    Segundo Lutero, o triunfo de suas ideias religiosas
    trouxe a expansão de todos os vícios.
    Detalhe de "O Triunfo da Morte", de Pieter Brugel.
    “Durante a vida presente devemos pecar. Basta que pela misericórdia de Deus conheçamos o Cordeiro que tira os pecados do mundo.

    “Dele não nos há de separar o pecado, ainda que cometêssemos por, dia mil homicídios e mil adultérios (“Briefe, Sendschreiben und Bedenken” ed. De Wette, 2, p. 37, cfr. op. cit. p. 439).

    4. Tão descabelada é esta doutrina, que o próprio Lutero a duras custas nela conseguia acreditar:

    “Nenhuma religião há, em toda a terra, que ensine esta doutrina da justificação; eu mesmo, ainda que a ensine publicamente, com grande dificuldade a creio em particular” (“Werke”, ed. de Weimar, 25, p. 330 cfr. op. cit., p. 158).

    5. Mas os efeitos devastadores da pregação assim confessadamente insincera de Lutero, ele mesmo os reconhecia:

    “O Evangelho hoje em dia encontra aderentes que se persuadem não ser ele senão uma doutrina que serve para encher o ventre e dar larga a todos os caprichos” (“Werke”, ed. de Weimar, 33, p. 2 cfr. op. cit., p. 212).

    E Lutero acrescentava, acerca de seus sequazes evangélicos, que “são sete vezes piores que outrora. Depois da pregação da nossa doutrina, os homens entregaram se ao roubo, à mentira, à impostura, à crápula, à embriaguez e a toda espécie de vícios. Expulsamos um demônio (o papado) e vieram sete piores” (“Werke”, ed. de Weimar, 28, p. 763 cfr. op. cit., p.440).

    “Depois que compreendemos não serem as boas obras necessárias para a justificação, ficamos muito mais remissos e frios na prática do bem (...)

    “E se hoje se pudesse voltar ao antigo estado de coisas, se de novo revivesse a doutrina que afirma a necessidade do bem fazer para ser santo, outra seria a nossa alacridade e prontidão no exercício do bem” (“Werke”, ed. de Weimar, 27, p. 443 cfr. op. cit., p. 441).

    6. Todas essas insânias explicam que Lutero chegasse ao frenesi do orgulho satânico, dizendo de si mesmo:

    “Este Lutero não vos parece um homem extravagante? Quanto a mim, penso que ele é Deus. Senão, como teriam os seus escritos e o seu nome a potência de transformar mendigos em senhores, asnos em doutores, falsários em santos, lodo em pérolas!” (ed. Wittemberg, 1551, t. 4 p. 378 cfr. op. cit., p. 190).




    Fac-símile do artigo "Lutero pensa que é divino".
    Folha de S.Paulo 10-01-1984. Acervo Folha
    7. Em outros momentos, a opinião que Lutero tinha de si mesmo era muito mais objetiva:

    “Sou um homem exposto e implicado na sociedade, na crápula, nos movimentos carnais, na negligência e em outras moléstias, a que se vêm ajuntar as do meu próprio ofício” (“Briefe, Sendschreiben und Bedenken”, ed. De Wette, 1, p. 232 cfr. op. cit., p. 198).

    Excomungado em Worms em 1521, Lutero entregou se ao ócio e à moleza. E a 13 de julho escreveu a outro prócer protestante Melanchton:

    “Eu aqui me acuo, insensato e endurecido, estabelecido no ócio, oh dor!, rezando pouco e deixando de gemer pela Igreja de Deus, porque nas minhas carnes indômitas ardo em grandes labaredas.

    “Em suma, eu que devo ter o fervor do espírito, tenho o fervor da carne, da libidinagem da preguiça, do ócio e da sonolência” (“Briefe, Sendschreiben und Bedenken”, ed. De Wette, 2, p. 22 cfr. op. cit., p. 198).

    Num sermão pregado em 1532: “Quanto a mim confesso – e muitos outros poderiam sem dúvida fazer igual confissão – que sou desleixado assim na disciplina como no zelo, sou muito mais negligente agora que sob o papado; ninguém tem agora pelo Evangelho o ardor que se via, outrora” (“Saemtliche Werke”, ed. de Plochman Irmischer, 28(2), p. 353 cfr. op. cit., p. 441).

    O que de comum se pode encontrar, pois, entre esta moral, e a da Santa Igreja Católica Apostólica Romana?



    (Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, Folha de S.Paulo, 10-01-1984)








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    JOEL CARVALHO - DF7 de agosto de 2015 09:55

    O que será que o nobre padre acha da prática católica de anualmente pular o carnaval bem à vontade com tudo o que essa festa carrega, de forma consciente, predeterminada, e, depois, na quarta-feira de cinzas os católicos reunirem-se em grande quantidade em seus templos para serem "absolvidos" de seus pecados voluntários praticados no carnaval? Em razão disso, não vejo autoridade moral nem espiritual para o ataque ao protestantismo.Responder

    Respostas



    Luis Dufaur7 de agosto de 2015 09:57

    Prezado Joel,
    os maus costumes, como os exibidos escandalosamente no carnaval que V. menciona, sejam eles praticados por simples fiéis, padres, frades, freiras ou até bispos, são sempre maus costumes, pecados às vezes muito graves, condenados sempre pela Igreja Católica. As absolvições falsas, cúmplices ou fraudulentas também estão condenadas pelo Magistério tradicional, que as considera nulas e/ou sacrílegas.
    Mas Lutero e seus seguidores ensinam que os pecados, escândalos, etc., não têm importância pois já estariam resgatados por Cristo, e poderia entaão se pecar à vontade.
    A diferença não está nos horríveis pecados, nem nos pecadores culpados, que o são igualmente em ambos os casos.
    A diferença está entre o ensinamento puro da Igreja e as pregações impuras de Lutero e seguidores.
    Por isso, a doutrina ensinada pelo fundador da Universidade Católica do Rio é perfeita, sincera e sem contradição. Além do mais ele se fundamenta nos próprios escritos de Lutero e outros heresiarcas. Seria preciso apagar a história, ou apresentar documentação objetiva e sã para recusar o que ele escreve.
    atenciosamente

    JOEL CARVALHO7 de agosto de 2015 09:59

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    Comunismo


    Rui Barbosa



    De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.



    Os grilhões que nos forjavam


    Da perfídia astuto ardil...


    Houve mão mais poderosa:


    Zombou deles o Brasil!



    Consagração no Rito Bizantino - Igreja Ortodoxa
    Publicado em 29 de jul de 2014Consgração do Pão e Vinho, transformado em Carne e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, em uma Divina Liturgia celebrada por Sua Santidade, o Patriarca Cirilo, de Moscou e toda Rus'.
    Publicado por Vale de Beracá em Sábado, 9 de janeiro de 2016

    Não é o suplício que faz o mártir, mas a causa. (Santo Agostinho)


    • http://deiustitia-etfides.blogspot.com.br/


    -






    Da Justiça a clava forte

    https://www.facebook.com/ditadura.fsp











  • “Esta seita de homens que, debaixo de nomes diversos e quase bárbaros se chamam socialistas, comunistas ou niilistas, e que, espalhados sobre toda a superfície da terra, e estreitamente ligados entre si por um pacto de iniquidade, já não procuram um abrigo nas trevas dos conciliábulos secretos, mas caminham ousadamente à luz do dia, e se esforçam por levar a cabo o desígnio, que têm formado de há muito, de destruir os alicerces da sociedade civil. É a eles, certamente, que se referem as Sagradas Letras quando dizem: “Eles mancham a carne, desprezam o poder e blasfemam da majestade” (Jud. 8)”.




    A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.

    • Ruy Barbosa








    Alma de Cristo, santificai-me.

    Corpo de Cristo, salvai-me.

    Sangue de Cristo, inebriai-me.

    Água do lado de Cristo, lavai-me.

    Paixão de Cristo, confortai-me.

    Ó bom Jesus, ouvi-me.

    Dentro de Vossas chagas, escondei-me.

    Não permitais que me separe de Vós.

    Do espírito maligno, defendei-me.

    Na hora da minha morte, chamai-me.

    E mandai-me ir para Vós, para que Vos louve com os vossos Santos, por todos os séculos dos séculos.

    Amém.



    Nossa Senhora de Medjugorje


    Posted: 05 Apr 2016 12:06 PM PDT

    MENSAGEM DA RAINHA DA PAZ EM 2 DE ABRIL DE 2016, À MIRJANA:

    “Queridos filhos! Não tenham corações duros, fechados e cheios de medo. Permitam ao Meu amor materno iluminá-los e preenchê-los de amor e de esperança, a fim de que, como Mãe, Eu cure as suas dores, pois Eu as conheço, por tê-las experimentado. A dor eleva e é a maior oração.

    Meu Filho ama, de modo especial, aqueles que sofrem. Ele Me enviou para curá-los e trazer-lhes a esperança. Confiem Nele! Eu sei que é difícil para vocês, porque veem sempre mais escuridão ao seu redor. Filhinhos, é necessário destruí-la pela oração e pelo amor. Aquele que reza e ama não tem medo, mas esperança e um amor misericordioso que vê a Luz que é o Meu Filho.

    Como Meus Apóstolos, convido-os a tentarem ser exemplo de amor misericordioso e de esperança. Rezem sempre e novamente, para terem o maior amor possível, porque o amor misericordioso traz a luz que destrói toda a escuridão - traz o Meu Filho. Não tenham medo: vocês não estão sozinhos: Eu estou com vocês!

    Eu imploro a vocês para rezarem pelos seus sacerdotes, a fim de que, em cada momento, eles tenham amor e ajam com amor, pelo Meu Filho -- através Dele e em memória Dele. Obrigada."













    - A BÍBLIA CONFIRMA A IGREJA


    “Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal.” (2 Pedro 1,20)-
    “Escrevo (a Bíblia) para que saibas como comportar-te na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o fundamento da Verdade.” (1Timóteo 3,15) -
    “Tu és Pedra, e sobre essa Pedra edifico a minha Igreja (...). E eu te darei as Chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus.”(Mateus 16, 18) -
    “...Vós examinais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna. Pois são elas que testemunham de Mim, e vós não quereis vir a Mim, para terdes a vida.”(João 5,39-40) -
    “Em Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, apartai-vos de todo irmão que não anda segundo a Tradição que de nós recebeu.” (2 Tessalonicenses 3,6) -
    “Então, irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavra (Tradição), seja por epístola nossa (Bíblia). ”(2 Tessalonicenses 2, 15) -
    “(Pedro,) apascenta o meu rebanho.” (João 21,15-17) -
    “Irmãos, sabeis que há muito tempo Deus me escolheu dentre vós (Apóstolos), para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho.” - S. Pedro Apóstolo, primeiro Papa da Igreja de Cristo(Atos dos Apóstolos 15, 7) -
    “Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, confirma os teus irmãos.” - Jesus Cristo a S. Pedro (Lucas 22, 31-32) -
    “De hoje em diante, todas as gerações me proclamarão Bem-aventurada.” - Maria, a Mãe de Nosso Senhor (Lucas 1, 48) -
    “Ainda que nós ou um anjo baixado do Céu vos anuncie um evangelho diferente do nosso (Apóstolos), que seja anátema.” (Gálatas 1, 8) -
    “Em Verdade vos digo: se não comerdes da Carne e do Sangue do Filho do homem, não tereis a Vida em vós mesmos.” (João 6, 56) -
    “Minha Carne é verdadeiramente comida, e o meu Sangue é verdadeiramente bebida.”(João 6, 55) -
    “O Cálice que tomamos não é a Comunhão com o Sangue de Cristo? O Pão que partimos não é a Comunhão com o Corpo de Cristo?” (1ª aos Coríntios 10, 16) -
    “E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos, da mão do anjo, diante de Deus.” (Apocalipse 8, 4) -
    “Aqui (no Céu) está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os Mandamentos de Deus e a Fé em Jesus.” (Apocalipse 14, 12) 
    - Porque já é manifesto que vós (a Igreja) sois a Carta de Cristo, ministrada por nós (Apóstolos), e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (...); o qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica. (2Cor 3,3.6) - 

     



    Mário Kozel Filho


    “Servi ao Senhor com respeito e exultai em Sua Presença; prestai-lhe homenagem com temor.” (Sl 2,11)
    †   †   †
    Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo; adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos Méritos Infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.

    GRAÇAS E LOUVORES SE DEEM A TODO MOMENTO, AO SANTÍSSIMO E DIVINÍSSIMO SACRAMENTO!

    Gruta de Lourdes

    Signis et portentis mendacibus

    Botafogo

    É tradição, não é moda. #soufogao #redesocial #botafogo #pracimadeles #fogoeuteamo #seusidolossaotantos #omaistradicional #naosecompara

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